domingo, 12 de abril de 2020

EXPERIMENTE O PODER DA RESSURREIÇÃO!



E,  na  verdade,  tenho  por  perda  também  todas  as  coisas,  pela  excelência  do  conhecimento  de  Cristo  Jesus,  meu  Senhor;  pelo  qual  sofri  a  perda  de  todas  estas  coisas  e  as  considero  como  esterco,  para  que  possa  ganhar  a  Cristo  e  ser  achado  nEle,  não  tendo  a  minha  justiça  que  vem  da  lei,  mas  a  que  vem  pela  fé  em  Cristo,  a  saber,  a  justiça  que  vem  de  Deus  pela  fé;  para  conhecê-lo,  assim  como  o  poder  da  Sua  Ressurreição,  e  a  comunicação  de  Suas  aflições,  sendo  feito  conforme  a  Sua  morte;  para  ver  se,  de  alguma  maneira,  eu  possa  chegar  à  ressurreição  dos  mortos   (Fp  3.8-11).

I.  Introdução

No  texto  em  apreço,  o  apóstolo  Paulo  fala  a  respeito  da  justificação  e  santificação  do  salvo. Ao  dissertar  sobre  a  primeira,  Paulo  fala  da  importância  dos  irmãos  não  se  vangloriarem,  mas  atribuirem  sempre  a  Cristo  a  causa  eterna  da  Salvação.  Para  isso,  cita  o  seu  exemplo  (Fp  3.2-9).  Já  na  dissertação  da  segunda,  Paulo  cita  o  seu  prosseguimento  rumo  à  perfeição,  num  processo  paulatino  de  crescimento  (Fp  3.12-16). 

Mas,  ao  falar  do  seu  progresso  como  cristão,  Paulo  exprime  de  modo  explícito  o  seu  desejo  de  conhecer  mais  a  Cristo  e  de  experimentar  em  sua  vida  literalmente  o  "poder  (gr.  dynamis)  da  Sua  ressurreição".  Mas  afinal,  o  que  de  fato  é  isso?

II.  O  Que  é  o  "Poder  da  Ressurreição"?

Uma   das  regras  de  hermenêutica  é  a  de  que  a  Bíblia  interpreta  a  própria  Bíblia.  Sendo  assim,  convém  analisarmos  se,  em  outros  textos,  o  apóstolo  Paulo  deixou  mais  informações  sobre  o  cognominado  "poder  da  Ressurreição".

Na  Epístola  aos  Efésios,  Paulo  escreve  sobre  este   mesmo  poder,  dizendo:
Não  cesso  de  dar  graças  a  Deus  por  vós,  lembrando-me   de  vós  nas  minhas  orações,  para  que  o  Deus  de  nosso  Senhor  Jesus  Cristo,  o  Pai  da  glória,  vos  dê  em  seu  conhecimento  o  espírito  de  sabedoria  e  revelação,  tendo  iluminados  os  olhos  do  vosso  entendimento,  para  que  saibais  qual  seja  a  esperança  da  Sua  vocação,  e  quais  as  riquezas  da  glória  da  Sua  herança  nos  santos,  e  qual  a  sobre-excelente  grandeza  do  Seu  poder  sobre  nós,  que  manifestou  em  Cristo,  ressuscitando-O  dos  mortos,  e  pondo-O  à  Sua  direita  nos  céus   (Ef  1.16-20).

Note  que  Paulo  cita  um  poder  cuja  grandeza  é  "sobre-excelente" ―  isto  é,  mais  do  que  excelente;  aquilo  que  tem  um  nível  supremo  de  excelência  ―  que  está  já  está  operando  nos  santos  do  Senhor.  No  decorrer  da  perícope,  Paulo  acrescenta-nos  uma  informação:  este  poder  que  hoje  já  opera  nos  salvos  foi  o  mesmo  poder  que  se  manifestou  sobre  Cristo,  fazendo-O  ressurgir  de  entre  os  mortos.  Mas  que  poder  insigne!  

Lembremo-nos  do  evento  impactante  que  foi  a  ressurreição.  Conquanto  muitas  vezes  seja  tratada  ou  falada  como  algo  trivial,  ela  é  o  pivô  da  nossa  esperança!  Foi,  deveras,  o  evento  mais  glorioso  da  história  até  o  momento.   Naquele  dia  o  poder  de  Deus  fez  com  que  uma  pedra  cujo  peso  era  de  4  toneladas, e  que  tinha  2,5  metros  de  diâmetro  e  33  centímetros  de  espessura  fosse  revolvida,  e  o  corpo  de  Cristo  fosse  glorificado  e  imediatamente  ressuscitado.  Isto  remete-nos  ao  fato  de  que  este  poder  só  pode  ser  incomensurável,  magnífico  e  explêndido!  Imaginemos,  pois,  a  sobre-excelente  grandeza  deste  poder,  que,  segundo  a  Escritura,  já  está  operando  nos  crentes!

O  que,  contudo,  este  poder  faz?  Qual  a  sua  respectiva  função  na  vida  do  cristão?   Sobre  isso,  o  apóstolo  Paulo  discorre  no  contexto  imediato  da  perícope.   Em  Efésios  2,  o  apóstolo  diz-nos  que  este  poder  começou  a  operar  em  nós  desde  o  momento  em  que  fomos  salvos:  E  vos  vivificou  [uma  referência  ao  poder  citado  em  Ef  1.19]   estando  vós  mortos  em  ofensas  e  pecados  (Ef  2.1).   Ou  seja,  desde  o  momento  em  que  recebemos  a  Cristo  como  Senhor  e  Salvador,  este  explêndido  e  incomensurável  poder  passa  a  operar  em  nós!

Para  entendermos  a  função  inicial  desta  virtude  dispensada  a  nós  por  Deus  Pai,  faz-se  necessário  reportarmos  à  criação  do  ser  humano  e  ao  seu  estado  original,  no  Éden,  ainda  num  contexto  paradisíaco.  A  Palavra  do  Senhor  revela  o  estado  de  plena  comunhão  com  Deus  que  estava  o  ser  humano  originalmente.  Ele  conversava  e  dialogava  com  o  próprio  Deus  todos  os  dias,  que  descia  do  Céu  na  viração   da  tarde  para  este  fim  (Gn  3.8).  Mas   com   o  pecado  encetado  na  humanidade,  a  morte  espiritual acometeu  a  todos  os  seres  humanos. Todos  nós   estavámos  mortos   ―  isto  é,  separados    de  Deus,  o  Soberano  Criador  do  Universo.  Foi  necessária,  então,  a  morte  expiatória  do  Filho  de  Deus,  um  Ser  inocente  e  Santo,  cuja  vida  foi  tirada  para  restaurar-nos  a  comunhão  com  o  Eterno,  e  propiciar-nos  salvação  e  remissão  dos  nossos  pecados,  pela  fé  em  Seu  nome.  Quando  O  aceitamos,  passamos  a  viver  novamente  para  Deus.  Ocorre  uma  vivificação  (ou  ressurreição,  como  queira  chamar),  e  nós,  que  estavámos   mortos  para  Deus,  passamos  a  viver  novamente  única  e  exclusivamente  para  Ele.  Deste  modo,  o  mesmo  poder com  que  Deus  ressuscitou  Jesus  de  entre  os  mortos  é  manifesto  na  vida  do  pecador  arrependido, que  passa  a  ressuscitar  de  sua  morte  espiritual  e  viver  novamente  para  Deus.  A  partir  daí  começa-se  o  glorioso  processo  efetuado  no  salvo  pelo  sobre-excelente  "poder  da  Ressurreição".

Mas  engana-se  quem  pensa  que  a  atuação  deste  poder  termina  por  aí.  Pois,  assim  como  o  poder  emanado  do  Pai  não  só  ressuscitou  a  Jesus,  como  também  fê-lo  ascender  ao  Céu,  glorificado  (Ef  1.20), com  o  salvo  não  há  de  ser  diferente.   O  magnífico  "poder  da  Ressurreição"  há  de  ser  manifesto  cada  vez  mais  intensamente  no  salvo, até  o  dia  em  que  estivermos  "assentados  nos  lugares  celestiais  em  Cristo"  (Ef  2.6,7),  já  glorificados.   Naquele  dia  perceberemos  efetivamente  a  excelssitude  desse  poder  emanado  de  Deus.  Contudo,  ainda  assim,  a  Escritura  nos  faz  um  convite:  perceba   este  poder  desde  já  em  sua  vida  cristã;  sinta-o!  Este  era,  deveras,  o  desejo  do  apóstolo  Paulo,  tanto  para  os  efésios  (Ef  1.16-19),  quanto  para  si  mesmo  (Fp  3.8-11).

III.  Sentindo  o  Poder  da  Ressurreição

O  resultado  de  uma  vida  cristã  cercada  pelo  vivo  poder  da  Ressurreição  é,  sem  dúvida  alguma,  uma  inexorável  certeza  da  Salvação  e  um  gozo  inexprimível  pelo  Céu.   Este  glorioso  poder  conferido  a  nós  pelo  Deus  Pai  pode  ser  sentido  por  todo  salvo;  contudo,  para  isso  é  necessário  que  o  Pai  Celestial  ilumine  nossos  olhos  espirituais,  para,  deste  modo,  notarmos  o  poder  que em nós  tem  operado,  e  o  sentirmos.  Paulo  orava  incessantemente  para  que  o  Altíssimo  assim  fizesse  nos  efésios. E,  conforme  vimos  no  texto  de  Filipenses  3.8-11  ss,  Paulo  anelava  para  que  ele  mesmo  pudesse  sentir  esta  gloriosa  virtude.  É  interessante  notarmos,  ainda,  que  o  apóstolo  fala  sobre  o  sentimento  deste  poder  como  um  avanço  na  comunhão  espiritual  do  crente  com  Deus.  É  algo,  por  conseguinte,  que  vale  a  pena  ser  buscado.

Precisamos  saber  que  este  poder  já  está  operando  em  nós.  Ele  está  nessa  operação  desde  o  dia  em  que  fomos  salvos.  Contudo,  para  ele  ser  sentido,  faz-se  necessário  buscar isso da  parte  do  Senhor. 

Saiba  que  Deus  deseja  que  você  sinta  este  poder.  Isso  lhe trará  grande  edificação  espiritual,  além  de  uma  inexorável  certeza  de  que  o  mesmo  poder  que  ressuscitou  a  Jesus  há  2.000  atrás,  é  o  mesmo  que  está  hoje  operando  em  sua  vida,  até  a  glorificação.  Cabe  a  todos  nós,  portanto,  desejar  "ir  além"  do  nosso  nível  espiritual  (cf.  Ez  47)  e  progredirmos  em  nossa  comunhão  com  o  Senhor,  desejando  melhor  conhecê-Lo,  assim  como  Paulo.

IV.   Conclusão

Hoje  comemora-se  internacionalmente  a  Páscoa.  Nela  comemoramos  a  Ressurreição  de  nosso  Senhor  Jesus  Cristo. Nos  regozijamos  em  saber  que  Ele  está  vivo,  e  que  a  morte  não  O  venceu.  Por  isso,  convém  ser  frisado  que,  acima  de  tudo,  o  cognominado  "poder  da  Ressurreição"  concede  uma  inedelével  convicção  de  que  o  nosso  Senhor  ressuscitou;  pois  sentimos  o  poder  que   operou  a  Ressurreição  em  nossa  vida  cristã  diária.  Regojizemo-nos,  pois,  no  Senhor;  e  peçamos-Lhe  esta  tão  grande  e  magnífica  experiência:  sentir  o  poder  da  Ressurreição,  que  tem  operado  em  nós!

Por:  Daniel  Cardoso.     
  


   



sábado, 4 de abril de 2020

O ABSURDO DA VIDA SEM DEUS


I.  A  Diferença  Peremptória  

Existe  uma  diferença  peremptória  se  Deus  existe  ou  não.  Uma  diferença  definitiva,  contundente  e  cabal. Se  Deus  não  existe ― como  insinua  veementemente  a  cosmovisão  ateísta  ―  absolutamente  tudo  na  vida  humana  passa  a  não  ter  sentido  algum.  Sentidovalor  e  propósito ―  os  três  elementos  que  dão  significado  à  existência  humana  ―  seriam,  em  última  análise,  meras  ilusões  humanas.  Dado  o  ateísmo,  tudo  vira  "conjectura"  e  ilusão  subjetiva:  só  há  aparência  de  sentido,  aparência  de  valor  e  aparência  de  propósito para  a  vida;  mas  estes,  na  realidade,  não  existem.  Em  última  instância,  a  vida  seria,  simplesmente,  um  enorme  absurdo.

A  diferença  peremptória  que  refiro-me  não  diz  respeito  exatamente  à  "felicidade" de  uma  vida  com  ou  sem  Deus   a  despeito  de  que,  se  levarmos  o  ateísmo  às  últimas consequências,  não  haveria  felicidade  alguma.  Mas a diferença  que  referi-me  diz,  mais  precisamente,  respeito  a  um  sentido  último para  a  vida  humana,  que  acaba  sendo  destituído do  ser  humano  na  cosmovisão  ateísta.      

Somente  Deus  pode  dar  um  "télos"  à  vida  humana,  e  um  sentido,  valor  e  propósito  objetivos  para  ela.  Para  demonstrar  isso,  elucidaremos  no  próximo  tópico  concernente  a  o  que  é  necessário  para  que  a  vida  humana  tenha  um  sentido  último.

II.  O  Necessário  Para  Que  a  Vida  Tenha  Sentido

Em  linhas  gerais,  para  que  haja  sentido  na  vida  humana  é  necessário  indubitavelmente Deus  e  a  imortalidade.  O  ponto  culminante  é  que  tanto  um  como  outro  não  existem  na  cosmovisão  ateísta,  desprovendo  a  vida  de  um  propósito  completamente.

Vamos  trabalhar  as  duas  questões:

A   Imortalidade

Existiria  algum  sentido  último  num  mundo  em  que  tudo  acaba?  Absolutamente  não.  E,  se  Deus  não  existir  ―  como  propala  o  ateísmo  ―  tanto  o  homem  quanto  o  universo  estão  inevitavelmente  fadados  à  morte.   Sem  a  esperança  da  imortalidade,  a  vida  humana  caminha  apenas  para  a  cova.  A  vida  humana  não  passa  de uma  faísca  na  escuridão  infinita,  uma  faísca  que  aparece,  emite  uma  trêmula  chama  e  logo  se  extingue  para  sempre.    

O  próprio  Universo  haveria  de  enfrentar  a  morte  a  seu  próprio  modo.  De  acordo  com a   Ciência,  o  Universo  está  se  expandindo  e  as  galáxias  estão  cada  vez  mais  se  distanciando. À  medida  que  isso  ocorre,  vai  ficando  cada  vez  mais  frio  ― e   isso  tudo  à  medida  que  se  consome  energia. Um  dia  todas  as  estrelas  se  apagarão,  e  toda  matéria  será  atraída  por  estrelas  mortas  e  buracos  negros.  Não  haverá  mais  luz,  nem  calor,  nem  vida;  somente  estrelas  mortas  e  galáxias  expandindo-se  cada  vez  mais  para  dentro  da  escuridão  sem  fim  dos  frios  intervalos  de  tempo.  Será um  Universo  em  ruínas!

Isto  não  é  nenhuma  espécie  de "ficção"  científica:  isso  realmente  vai  acontecer,  a  menos  que  Deus  intervenha.  Mas,  partindo  do  pressuposto  ateísta  ―  em  que  Deus  não  existe  ―  isto  inelutavelmente  vai  acontecer.  Então,  em  última  análise:  tudo,  absolutamente  tudo  à  nossa  volta  está  fadado  à  extinção  perpétua.   

Portanto,  se  toda  pessoa  deixa  de  existir  quando  morre,  então  que  sentido  último  há  em  viver?  Será  que  faz  alguma  diferença  no  final  ter  ou  não  sequer  existido? Sem  a  imortalidade,  absolutamente  não.  

O  filósofo  cristão  William  Lane  Craig  aborda  esta  questão  do  seguinte  modo:

[sem  a  imortalidade]  a  humanidade  não  tem  mais  sentido  do  que  um  enxame  de  mosquitos  ou  um  punhado  de   porcos,  pois  o  final  de  todos  é  o  mesmo.  O  mesmo  processo  cósmico  cego,  do  qual  eles  resultaram,  vai,  no  fim  de  tudo,  tragá-los  de  volta.  As  contribuições  de  um  cientista  para  o  avanço  do  conhecimento  humano,  as  pesquisas  para  aliviar  a  dor  e  diminuir  o  sofrimento,  os  esforços  diplomáticos  para  garantir  a  paz  mundial, os  sacrifícios  feitos  por  pessoas  de  bem,  em  todo  o  mundo,  para  melhorar  a  sorte  da  raça  humana  ―  tudo  isso  resultará  em  nada.  E  este  é  o  horror  do  homem  moderno:  por  ele  acabar  em  nada,  ele  nada  é. 
 É  importante  entendermos,  contudo,  que  não  é  somente  da  imortalidade  que  o  homem  precisa  para  que  a  sua  vida  faça  sentido.  A  mera  "duração  da  existência",  de  per  si,  não  é  suficiente  para  dar  uma  finalidade   última  à  existência  humana.  Precisamos  de  Deus!

Deus

Sem  Deus,  ainda  que  fôssemos  imortais,  viveríamos  uma  vida  completamente   sem  sentido.  Ademais,  "viver  eternamente"  sem  fins  objetivos  é  simplesmente  "viver  por  viver".  

Para  ilustrar,  existe  uma  estória  de  ficção  científica  em  que  um  astronauta  foi  abandonado  em  um  estéril  pedaço  de  rocha  perdido  no  espaço  sideral.  Ele  trazia  consigo  dois  frascos:  um  com  veneno;  e  o  outro,  por  sua  vez,  com  uma  porção  que  lhe  faria  viver  para  sempre.  Imediatamente,  o  astronauta  ―  impelido  pela  tristeza  em  pensar  no  futuro  que  lhe  aguardava ―  tomou  o  frasco  de  veneno.  Mas,  para  seu  horror,  o  pobre  homem  descobriu  que  tinha  bebido  o  frasco  errado: ele  tinha  tomado  a  porção  que  lhe  tornaria  um  imortal!  E  isso  significa  que  ele  estava  fadado  a  viver  uma  vida  perpétua,  porém  sem  sentido,  de   dor  e  sofrimento.

Portanto,  o  homem  não  precisa  apenas  da  imortalidade  para  que  haja  um  sentido  último  para  viver:  ele  precisa  de  Deus  e  da  imortalidade.  E  se  Deus  não  existir,  ele  não  tem  nem  uma  coisa  nem  outra.


III.  E  Os  Valores?

Sem  Deus  e  a  imortalidade,  não  existem  valores  morais  objetivos.  Pois,  se  a  vida  termina  e  extingue-se  para  sempre,  então  não  faz  a  menor  diferença  se  você  vive  como  um  Stalin  ou  como  uma  madre  Teresa  de  Calcutá,  visto que  o  seu  destino  não  possui  qualquer  relação  final  com  o  seu  comportamento.  Pessoas  boas  e  pessoas  más  teriam  o  mesmo  destino  final:  a  extinção  perpétua.  Logo,  por  que  não  viver  perfeitamente  como  bem  entender?

Para  exemplificar,  leia  a  seguir  o  relato  do  pastor  Richard  Wurmbrand,  que  foi  torturado  por  sua  fé  pelos  seus  algozes  na  prisão  russa:

É  difícil  acreditar  na  crueldade  do  ateísmo  quando  não  se  crê  na  recompensa  do  bem  ou  na  punição  do  mal.  Não  há  motivos  para  ser  humano.  Não  há  limites  para  as  insondáveis  profundezas  do  mal  que  se  encontram  dentro  do  homem.  Os  torturadores  comunistas  costumavam  dizer:  "Não  há  Deus,  não  há  outra  vida,  não  há  punição  para  o  mal.  Podemos  fazer  o  que  quisermos."  Ouvi  até  mesmo  um  torturador  dizer:  "Agradeço  a  Deus,  em  quem  não  acredito,  por  ter  vivido  para  colocar  para  fora  todo  o  mal  que  trago  em  meu  coração."  Ele  disse  essas   palavras  em  meio  a  uma  inacreditável  brutalidade,  enquanto  torturava  prisioneiros. 

Mas  há  um  problema  ainda  maior:  se  Deus  não  existe,  então  não  há  um  padrão  objetivo  do  que  seja  certo  ou  errado;  pois qual  é  o  parâmetro  que  usaremos  para  julgar  uma  ação  boa  ou  má?   Se  não  existe  um  padrão  universal  perfeito,  então  não  há  como  condenar  qualquer  ação  dita  como  ruim;  pois,  se  a  condenarmos,  estaremos  fazendo  isso  a  partir  de  qual  padrão?  Qual  parâmetro?  Se  é  tão-somente  pelo  nosso,  por  que  isso  deve  necessariamente  valer  para  outra  pessoa?
Somente  a  existência  de  Deus  pode  explicar  e  justificar  os  valores  morais.  Sem  ela,  tudo  vira  subjetivo,  e,  portanto,  sem  valor  universal  nenhum.  

Talvez  você  possa  responder  citando  a  declaração  de  Aristóteles:  tudo  que  o  homem  tem  instintivamente  por  correto  é  uma  verdade  natural ―  e  com  isso  dizer  que  a  noção  da  moralidade  é  intrínseca  ao  ser  humano;  portanto,  ele  deveria  prezar  por  ela  simplesmente  por  ser  uma  verdade  natural.  Mas,  se  a  noção  da  moralidade  é  "inerente  ao  ser  humano",  e  está  gravada  em  sua  consciência,  quem  a  colocou  lá?  
Pode-se  chamar  isso  de  Lei  Moral   ―  porquanto  está  definitivamente  gravada  dentro  de  nós;  de  sorte  que  a  consciência  acusa-nos  quando  a  infligimos  e  tranquiliza-nos  quando  a  cumprimos.  Contudo, somente  um  Ser  sobrenatural  poderia  ter  gravado  tal  lei  em  nós,  e  nos  dado  a  noção  básica  de  Suas  leis  santas.

Por  fim,  sem  Deus  não  há  como  justificar  e  muito  menos  explicar  a  moralidade;  porquanto  ela  é  transcedente,  servindo  inclusive  de  uma  evidência  poderosa  para  a  existência  de  Deus. 


 IV.  Ateísmo  X  Teísmo  Cristão

Na  cosmovisão  ateísta,  assustadoramente,  não  há  sentido  para  a  vida  humana. Somos  mero  subproduto  acidental  da  natureza.  Não  há  razão  para  nossa  existência.

A  consequência  lógica  trágica  de  uma  visão  de  mundo  ateísta  é  o  niilismo   ―  doutrina  filosófica  que  rejeita  radicalmente  às  tentativas  de  se  estabelecer   sentido, valor  e  propósito  à  vida  humana;  pois,  segundo  ela,  não  há   nenhum  sentido  ou  utilidade  na  existência.  

Não  por  acaso,  filósofos  como  Friedrich  Nietzsche  (niilista),  Jean-Paul  Sartre  e  Albert  Camus  ―  que eram  ateus  e  mergulharam  profundamente  nas  implicações  lógicas  do  ateísmo  ―  diziam  em  amiúde  que  a  vida  não  possui  nenhum  sentido. Um  deles,  Sartre   um  dos  maiores  nomes  do  ateísmo  existencialista ― chegava  a  dizer  que  o  homem  era  apenas  uma  "paixão  inútil"  neste  mundo;  apenas  um  ser  insignificante  e  estupidamente  destinado  à  morte.   
O  filósofo  ateu  Bertrand  Russel  (1872-1970),  ao  negar  a  existência  de  Deus,  afirmou  que  sua  visão  de  mundo  era  simplesmente  "inacreditável";  nem  eu  não  sei  a  solução  ―  confessou.  Sem  Deus,  esvai-se  toda  motivação  em  viver!  

Mas  então  como  há  ateus  felizes?  ―  você  pode  perguntar.  A  resposta  é  simples:  de  acordo  com  o  próprio  Pascal,  por  nos  ocuparmos  com  atividades  e  entretenimento,  nós  não  pensamos  sobre  o  "absurdo  da  vida"  e  sobre  a  "falta  de  sentido"  que  nos  rodeia.  De  fato,  seria  necessário  uma  séria  reflexão  filosófica  para   percebê-las.  E  grande  parte  das  pessoas  não  pausam  para  pensar  seriamente  ou  fazer  uma  reflexão  estritamente  filosófica  sobre  essas  questões,  mas  apenas  embaraçam-se  com  a  rotina  e  com  os  casuais  eventos  da  vida.  Isso  explica,  grosso  modo,  porque  muitas  pessoas  ateias  não  levam as  implicações  lógicas  do  ateísmo  à  vida  prática.  

E  do  Teísmo  Cristão,  quais  são  as  implicações  lógicas? As  implicações  trazem  consigo  um  consolo  e  paz  inexprimível,  e  carregam  em  si  mesmas  um  sentido,  valor  e  propósito  objetivos  para  a  vida  humana:  elas  significam  que  existe  um  Criador  e  Sustentador  do  Universo,  um  Ser  Supremo  por  excelência;  um  Ser  de  máxima  grandeza,  Infinito  em  glória  e majestade.  Esse  Ser  Bendito  é  a  fonte  dimanante  de  toda  bondade  existente  no  cosmos.  Ele  ama  inenarravelmente  os  seres  humanos,  e  quer  trazê-los  a  um  relacionamento  profundo  com  Ele,  para  sempre.  Destarte,  isso  significa  que  existe  um  propósito  objetivo  para  o  qual  fomos  criados;  e  que,  intrinsicamente,  os  seres  humanos  são  valiosos  e  possuem  obrigações  morais  a  serem  cumpridas,  como  amar  seu  próximo  e  ajudar  a  aliviar  a  dor  e  o  sofrimento  humano. 
Significa, ainda,  que  Deus  tem  um  propósito  para  você  cumprir  nesta   vida!

Na  Cosmovisão  Cristã,  o  homem  desviou-se  do  propósito  original  para  o  qual   Deus  o  criou. Ele  fez  isso  quando  virou  as  costas  para  Deus,  através  do  pecado.  Mas  através  de  Jesus  Cristo  o  nosso  relacionamento  com  Deus  é  restaurado,  e  podemos,  assim,  viver  uma  vida  em  comunhão  com  Ele  enquanto  estivermos  na  Terra;  e,  na  eternidade,  vivermos  para  sempre  junto  dEle,  numa  alegria  e  glória  indizíveis. 

Sem  dúvidas,  a  cosmovisão  teísta-cristã  é  indubitavelmente  preeminente   sobre  o  ateísmo.  


V.  Conclusão

Por  fim,  sinteticamente,  Richard  Dawkins  ―  considerado  um  dos  "quatro  cavaleiros  do  Ateísmo"  ― descreve   o  valor  do  ser  humano  na  cosmovisão  ateísta:  No  final  não  há  nenhum  design,  nenhum  propósito,  nenhum  mal,  nenhum  bem,  nada  mais  do  que  uma  insípida  indiferença  [...]  Somos  máquinas  para  a  propagação  do  DNA  [...]  Essa  é  a   única  e  exclusiva  razão  de  cada  ser  vivo  existir.  
Não  se  faz  necessário  nem  demarcar  a  deprimente  avaliação do  ateu  Richard  Dawkins  quanto  ao  valor  do  ser  humano... 
Concluimos,  portanto,  que  a  existência  de  Deus  faz-se  necessária  para  nós.  Sem  Deus,  a  vida  humana  seria  absurda  ― se  é  que  haveria  vida!

  Não  quero  por  meio  dessa  abordagem  insinuar  que  um  ateu  veja  a  vida  como  algo  maçante,  sem  sentido,  ou  que  ele  não  tenha  propósitos  pessoais,  ou  leve  uma  vida  imoral,  etc.,  mas  sim  dizer  que,  sem a existência de  Deus,  a  vida  humana  é,  em  última  análise, absurda e totalmente  destituída  de  quaisquer  tipos  de  sentido,  valor  ou  propósito.  É  por  implicações  lógicas  como  essa  que  a  Bíblia  define  terminantemente  o  ateísmo  como  loucura,  tanto  perante  Deus  quanto  perante  os  homens  (Sl  14.1;  53.1).

Por:  Daniel  Cardoso.

REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS:

CRAIG,  W.L.   Em  Guarda:  Defenda  a  Fé  Cristã  com  Razão  e  Precisão.  São  Paulo:  Vida  Nova,  2011.

COSTA,  J.M.  Provas  da  Existência  de  Deus.  1ª  ed.  Rio  de  Janeiro:  Central  Gospel,  2016.    

             

  


    

   




   

sábado, 28 de março de 2020

COMO VENCER A FRAQUEZA ESPIRITUAL?



I.  O  Que  é  "Fraqueza  Espiritual"?

"Fraqueza  Espiritual" refere-se  a:  1)  um  estado  de  desânimo   e  desalento,  caracterizado  por  alguma  tristeza,  abatimento  ou  falta  de  ânimo  por  parte  do  crente;  2)  um  estado  de  frieza  espiritual  caraterizado pelo  desinteresse  pelas  coisas  espirituais  e  seu  subsequente  efeito  no  crente,  fazendo-o  parar  de  praticar  as  disciplinas  espirituais  vitais  para  a  sua  comunhão  com  Deus.

O  primeiro  tipo  de  fraqueza  espiritual  pode  ser  visto  em  muitos  exemplos  na  Bíblia  Sagrada.  Heróis  bíblicos  como  Moisés  (Nm  11.11-15),  Jó  (Jó  7.15,16)  e  o  profeta  Elias  (1 Rs  19.4  ss)  evidentemente  passaram  por  perídos  de  grande  esmorecimento,  chegando  até  mesmo  a  desejarem  avidamente  a  morte.  Não  fora  o  consolo  enviado  pelo  Senhor  teriam  desfalecido  em  suas  multidões  de  tristezas.  O  crente  não  está  livre  de,  devido  às  grandes  vicissitudes  da  vida,  passar  por  um  período  de  fraqueza  e  desânimo.    

Já  o  segundo  tipo  de  fraqueza  espiritual  não  possui,  em  amiúde,  exemplos  na  Bíblia.   Conquanto o  Senhor  Jesus  lançasse  aos  crentes  de  Éfeso  uma  reprimenda  por  terem  "deixado  o  primeiro  amor"  (Ap  2.4),  não  há  informações  no  que  tange  à  falta  de  oração  e  de  outras  disciplinas  espirituais  por  parte  deles.  Mas,  em  certo  sentido,  podemos  afirmar  que  essa  "fraqueza  espiritual"  caracterizada  pela  frieza  esteve  presente  na  vida  de  muitos  crentes  efésios.  Porém  podemos  notar  que,  de fato,  ela  atinge  um  grau  de  intensidade  maior  na  vida  prática  de  muitos  crentes,  fazendo-os  deixar  de  praticar  as  disciplinas  vitais  para  a  manutenção  de  suas  comunhões  com  Deus:  a  oração,  o  jejum  e  a  leitura  das  Sagradas  Escrituras.   E  isso  expressa  um  perigo  letífero  ao  cristão...

II.  O  Perigo  da  Fraqueza  Espiritual

Para  uma  maior  noção  do  perigo  da  fraqueza  espiritual  —  neste  contexto  uma  referência  à  frieza  de  espírito —  o  Senhor  Jesus  advertiu  que,  caso  a  Igreja  de  Éfeso  se  prorroga-se  em  seu  estado  de  fraqueza  e  penúria  espiritual,  ela  logo  teria  seu  lugar  tirado  do  castiçal  (Ap  2.5).  Convém  salientar  que  o  "castiçal"  referido  por  Jesus  alude  diretamente  ao  "Corpo  de  Cristo";  ou  seja,  caso  os  crentes  não  se  arrependessem  perderiam  efetivamente  os  seus  lugares como  participantes  do  Corpo  místico  de  Cristo,  e,  deste  modo,  não  teriam  mais  parte  com  Ele,  perdendo,  assim,  a  salvação.    

Sendo  assim,  o  crente  corre  sério  risco  de  perder  a  salvação  caso  prorrogue  ociosamente  o  momento  de  se  arrepender  de  sua  frieza  e  fortalecer-se  novamente  no  Senhor.  Além  disso,  à  medida  que  o  crente  remora  o  seu  arrependimento,  mais  há  um  regresso  espiritual  expressivo  em  sua  vida.  Deste  modo,  muitas  coisas  conquistadas  mediante  constantes  e  intensivas  orações  e  que  haviam  proporcionado  um  avanço  espiritual  ao  crente,  vão  gradativamente  se  perdendo,  e  ele  regressa  de  seus  progressos  espirituais.  Este  é  o  processo  de  frieza,  em  que  a  chama  do  Espírito  no  coração  do  crente  vai  gradativamente  se  esfriando  e  extinguindo,  o  que  pode  redundar  em  apostasia.

Há,  portanto,  um  expresso  perigo  ao  crente  caso  deixe  que  a  fraqueza  espiritual  o  domine.

Nos  casos  do  primeiro  tipo  de  fraqueza  espiritual,  também  há  um  expresso  perigo  ao  cristão.  Os  "heróis  da  fé"  citados  na  Bíblia  quando  passaram  por  momentos  de  desalento  espiritual  sempre  recorreram  a  Deus,  que  lhes  confortou  e  consolou.  Igualmente, o crente  não  pode  deixar  que  a  tristeza  e  o  desânimo  inundem  seu  ser  e  não  contar isso ao  Senhor  em  oração.  Ele  deve  usufruir  do  consolo  que  há  na  pessoa  de  Cristo;  e  Ele  há  de  proporcioná-lo  o  ânimo,  com  Sua  gloriosa  paz  inefável.

III.  Fraqueza  Espiritual:  Como  Vencê-la  e  como  Evitá-la

O  crente  não  está  livre  de  passar  por  um  período  de  fraqueza.  Ele  deve  evitá-la;  porém,  o  Senhor  "conhece  a  nossa  estrutura;  sabe  que  somos  pó"  (Sl  103.14).  Ele  sabe  que,  muitas  vezes,  o  crente  por  descuido  poderá  enfraquecer  espiritualmente.  Mas,  caso  isso  aconteça,  devemos  o  mais  rápido  possível  nos  fortalecer  no  Senhor  e  na  força  de  Seu  poder  (Ef  6.10).  Esta  é  a  única  maneira  de  vencermos!

Para  vencer  a  fraqueza  espiritual,  aplique  estes  conselhos  práticos:

1)  Elimine  o  mal  pela  raiz

Pergunte-se:  O  que  fez  com  que  eu  ficasse  fraco  espiritualmente?   Examine  sua  vida  espiritual  e  quais  as  causas  que  fizeram  com  que  você  ficasse  assim.  Em  seguida,  corte  o  mal  pela  raiz!  
Má  administração  do  tempo,  fazendo com  que  o  tempo  da  oração  seja  dirimido?  Organize-se  melhor,  aprendendo  a  ter  disciplina  espiritual  na  administração  do  tempo.  
Falta  de  jejum,  devido  à  vontade  da  carne?  Crucifique  suas  vontades  carnais;  vença-as,  pelo  poderoso  sangue  de  Jesus!
Desânimo  espiritual?  Não  se  deixe  vencer  pelo  desalento,  clame  a  Cristo,  pois Ele  lhe  dará  o  ânimo  necessário.  
Desapontamento?  Confie  no  Senhor;  a  Sua  vontade  é  "boa,  perfeita  e  agradável"  (Rm  12.2),  e  transcende  nossos  pensamentos.  Derrame  tudo  em  oração!

2)  Busque  o  fortalecimento  espiritual

Busque,  ininterruptamente,  o  fortalecimento  conferido  por  Deus.  Aproprie-se,  para  isso,  de  poderosas  e  eficientes  disciplinas  espirituais:  a  oração,  o  jejum  e  a  leitura  da  Bíblia. 

3) Procure  vencer  com  a  graça  de  Deus.  

Saiba  que  quando  perdemos  um  ritmo  de  constante  busca  ao  Senhor  e  nos  enfraquecemos,  torna-se  muito  mais  difícil  o  retorno ao  mesmo  estado.  Contudo,  por  maior  que  possa  parecer  a  dificuldade, prossiga;  clame  ao  Senhor,  pois  Ele  lhe  dará  a  força  necessária.   


Para  evitar  a  fraqueza  espiritual,  aplique  estes  conselhos  práticos:

1)  Busque  um  renovo  diário

Ainda  no  contexto  veterotestamentário,  o  Senhor  havia  dado  uma  ordem  aos  sacerdotes:  O  fogo  que  está  sobre  o  altar  arderá  nele,  não  se  apagará;  mas  o  sacerdote  acenderá  lenha  nele  cada  manhã,  e  sobre  ele  porá  em  ordem  o  holocausto  e  sobre  ele  queimará  a  gordura  das  ofertas  pacíficas.  O  fogo  arderá  continuamente  sobre  o  altar;  não  se  apagará  (Lv  6.12,13).  

Outrossim,  no  Novo  Testamento  a  ordem  de  "não  extinguir  o  o  Espírito"  é  dada  (cf.  1 Ts  5.19).  Isso  só  é  possível  mediante  uma  busca  constante  a  Deus,  "renovando  as  lenhas"  diariamente  em  oração.  Somente  se  estivermos  com  o  fogo  do  Espírito  aceso  e  vibrante  que  a  frieza  espiritual  não  terá  êxito  sobre  nós...

2)  Não  dê  lugar  à  incúria  espiritual

Se  quisermos  permanecer  em  comunhão  com  o  Senhor  e  fortalecidos  espirituamente  devemos  dizer  um  sonoro  "não"  à  incúria  e  ao  desleixo  espiritual.  Nunca  alimente  à  preguiça  de  orar,  ler  a  Bíblia,  jejuar,  ir  aos  cultos,  etc.  Alimente,  antes,  à  chama  do  Espírito  em  seu   coração,  mediante  uma  vida  de  intensa  e  constante  busca  ao  Senhor.

Com  a  chama  acesa,  evitaremos  todo  e  qualquer  enlace  do  inimigo  para  nos  prejudicar  espiritualmente.  

IV.  Conclusão

Enquanto  estiver  no  mundo,  o  cristão  vive  rodeado  de  perigos.  Um  descuido  pode  lhe  trazer  a  frieza  espiritual,  e,  caso ela  não  seja  combatida  o  mais  rápido  possível,  pode  culminar  em  apostasia.  Diante  disso,  a  Santa  Escritura  orienta-nos  a  vivermos  "vigiando  e  orando"  (Lc  21.36;  1  Pe  4.7),  no  poder  do  Espírito  Santo   —  sem  extinguir  sua  gloriosa  chama  de  nossos  corações  (1 Ts  5.19).  Isto,  somado  a  um  constante  fortalecimento  "no  Senhor  e  na  força  do  Seu  poder"  (Ef  6.10)  nos  manterá  firmes  espiritualmente.  
Mas,  se  porventura  alguém  enfraquecer,  deve  imediatamente e  sem  protelo  procurar  o  caminho  para  a  vitória:  fortalecer-se  no  Senhor.  
 Lembre-se  que  a  vinda  de  Cristo  aproxima-se  a  cada  dia,  de  modo  que  esta  esperança  lhe  mantenha  "firme  e  constante",  servindo  ao  Senhor  (1  Co  15.58).

Por:  Daniel  Cardoso. 







  
      
   


  

domingo, 9 de fevereiro de 2020

EM DEFESA DA SOLA SCRIPTURA



I.   Introdução

O  Catolicismo  Romano  frequentemente  apresenta  objeções  à  uma  das  cinco  solas  protestantes:  a  Sola  Scriptura.  Isso  porque,  na  cosmovisão  católica,  a  "Sagrada  Tradição"  e  o  "Santo  Magistério"  estão  acima  da  Bíblia  em  ordem  de  autoridade. Mas as argumentativas  católicas  são  desmanteladas  ante  às  verdades  expressas  na  Escritura:  Pois  puseste  a  Tua  Palavra  acima  de  tudo  (Sl  138.2b).  Ninguém  na   Terra  está  acima  da  Bíblia!

II.   Diferenças  Entre  as  Perspectivas  Católica e  Protestante  Quanto  ao  Cânon  Sagrado

Há  uma  divergência  entre  as  correntes  doutrinárias  católica  e  protestante  no  que  tange  ao  cânone  sagrado,  e  isso  vai  além  do  acréscimo  dos  livros  apócrifos  deliberado  no Concílio  de  Trento:  a  diferença  também  diz  respeito  à  posição  da  Igreja  ante  ao  cânon.  Para  uma  melhor  elucidação,  o  eminente  teólogo  e  apologista  Norman  Geisler  (1932-2019)  sintetizou  as  diferenças  entre  essas  duas  correntes  doutrinárias  da  seguinte  maneira:


Posição  Católica  sobre  o  cânon


Posição  Protestante sobre o  cânon
 A Igreja determina o cânon
 A  Igreja descobre o cânon
 A Igreja é mãe do cânon
 A  Igreja é filha do  cânon
 A  Igreja é magistrada do cânon 

 A  Igreja é ministra do cânon
 A  Igreja regula o cânon
 A  Igreja reconhece o cânon
 A  Igreja é juíza do cânon
A  Igreja é testemunha do cânon 
 A  Igreja é  mestra do cânon
A  Igreja é serva do cânon 


Na  prática,  o  "Santo  Magistério"  é  que  determina  o  sentido  e  a  real  interpretação  dos  textos  bíblicos  no  catolicismo  romano.  Isso  dá  uma  total  atonomia  às  lideranças  clericais  de  acrescentarem  coisas  à  Bíblia,  e  esses  acréscimos  serem  acatados  pelos  fiéis  católicos  na  mesma  insuspeição  que  aceitariam  uma  doutrina  bíblica.   Deveras,  é  isso  que  aclara  como  doutrinas  que  nunca  estiveram  presentes  nas  páginas  da  Sagrada  Escritura  —   como  o purgatório,  a  impecabilidade  e  virgindade  perpétua  de  Maria,  as  rezas  pelos  mortos, o cultos  aos  santos,  a  infalibilidade  do  papa,  etc. — estão  presentes  no  credo  católico.  E  isso  demonstra  de  forma  incontestável  que  a  negação  da  suficiência  da  Escritura  abre  brechas  para  grandes heresias.  É  por  isso  que  a  Santa  Escritura  ordena-nos  "provar  os  espíritos"  (1  Jo  4.1),  e  analisar  tudo  no  seguinte  dizer: À  Lei  e  o  Testemunho!  Se  não  falarem  conforme  a  Palavra,  não  há  luz  neles  (Is  8.20).


III.   Resposta  aos  Argumentos  Católicos

Objeção  1:  A  Bíblia  nunca  afirmou  ser  a  nossa  única  regra  de  fé  e  prática.

Resposta  Bíblica:  De  fato,  não  há  nenhum  texto  explícito  na  Bíblia  conclamando  ser  ela  o  único  manual.  Contudo,  as  Escrituras  não  deixam  espaço  para  "ensinos"  e  "tradições"  que  contradigam  a  sua  mensagem.   Ela  nos  manda,  antes,  repelirmos  aos  falsos  ensinamentos  (Gl  1.8),  não  nos  enredarmos  por  quaisquer  ventos  de  doutrina  (Ef  4.14)  e não  promovermos  heresias  (2  Jo  vv. 10,11);  ela  nos  manda  o  contrário: que  batalhemos  pela  lídima  fé  dos  santos  (Jd  v. 3),  estando  preparados  para  isso  (1  Pe  3.15) e sempre  demonstrando  a  supremacia  das  Escrituras  (Tt  1.9).  Todo  ensino  precisa  passar  pelo  crivo  das  Santas  Escrituras!  (Is  8.20;  Fp   4.8,9).

Indubitavelmente,  há  uma  incongruência  entre  o  que  a  Bíblia  ensina  e  o  que  o  Catolicismo  advoga.  O  desejo  de  Deus  sempre  foi  que  o  seu  povo  tivesse  contato  com  as  Escrituras  (cf.  Dt  31.9-13),  mas  a  Igreja  Católica,  em  1229  —  no  Concílio  de  Toledo —,  vetou  o  uso  da  Bíblia  aos  fiéis.  As  consequências  da  desobediência  à  essa  decisão  eram  tão  penosas  que  o  reformador  William  Tyndale  foi  assassinado  na  fogueira  em  1536,  em  decorrência  de  ter  traduzido  a  Bíblia  para  o  povo  inglês.  Como  podemos  nos  resignar  ante  a  tamanho  perpetro?  Se  as  doutrinas  católicas  contrariam  claramente  as  Escrituras  e  antagonizam-se  a  elas  —  a  tal  ponto  de  haver  proibido-as,  além  de  ter  assassinado  e  perseguido  os  seus  tradutores  —,  como  alguns  cogitam  ser  tal instituição  a  "Igreja  de  Cristo"?  A  inibição  das  Escrituras  aos  leigos,  deliberada  no  Concílio  de  Toledo,  resultou-se  na  perdição  de  muitos,  porquanto  foram  impedidos  de  ler  o  único  livro  que  torna  os  pecadores  "sábios  para  a  salvação"  (2  Tm  3.15).  Portanto,  podemos  notar  que,  toda  vez  que  a  tradição  é  tida  como  superior  às  Escrituras,  consequências  horrendas  ocorrem.  Destarte,  toda  mensagem  ou  tradição  que  antagoniza-se  à  Bíblia  deve  ser  pugnada!

Objeção  2:  Foi  a  Igreja  quem  determinou  quais  livros  seriam  os  canônicos;  logo,  ela  está  acima  do  cânon  sagrado.

A  bem  da  verdade,  a  Igreja  "descobriu  o  cânon".  Ela  tão  somente  reconheceu  os  verdadeiros  livros  inspirados.  Quem  determinou  quais  livros  seriam  canônicos  ou  não  foi  o  próprio  Deus;  porquanto,  foi  Ele  quem  selou  os  livros  com  o  Seu  santo  selo:  o  chamado  selo  da  inspiração.  A  Igreja  apenas  reconheceu  tais  livros,  e,  impelida  pelo  Espírito,  compeliu-os  na  Bíblia.  O  fato  da  Igreja  ter  reconhecido  os  livros  inspirados  pelo  Senhor  não  a  torna  superior  a  eles.  Quem  propala  tais  teses  mentecaptas  comete  um  erro  crasso!  A  Palavra  de  Deus  está  acima  de  tudo  (Sl  138.2)  e  rege  a  Igreja —  não  o  inverso!  (2  Tm  3.16,17).   Ademais,  a  palavra  cânon,  etimologicamente,  denota  uma  "vara  de  medir".  Logo,  se  os  livros  bíblicos  são  o  nosso  "cânon",  segue-se  que  eles  devem  "medir"  e  "reger"  nossos  comportamentos,  palavras  e  ações. E, se são  eles  os  regedores,  estão  numa   posição  superior!  É  a  palavra  quem  rege (Sl  119.105),  quem  santifica  a  Igreja  (Jo  17.17),  quem  purifica  a  Igreja  (Jo  15.3; Ef  5.26)  quem  alimenta-a  (1 Pe  2.2)  e  quem  a  dá  poder  para  o  combate  contra  as  trevas,  com  a  "Espada  do  Espírito"  (Ef   6.17),  a  armadura  com  que  o  cristão  pugna  contra  o  arqui-inimigo  de  Deus  e  dos  homens,  juntamente  com  as  demais  hostes  demoníacas.
Se  é  a  Palavra  de  Deus  quem  exerce  tamanhas  coisas  sobre  a  Noiva  do  Cordeiro,  como  pode-se  cogitar  que  a  Igreja  é  "superior  à  ela"?  

O  agir  do  Espírito  na  Igreja  para  que  ela  reconhecesse  o  cânon  foi  sendo  gradativamente  tão  forte  que,  consensualmente,  a  Igreja  concordou  em  quais  livros  eram  verdadeiramente  inspirados  pelo  Altíssimo.  O  Santo  Espírito  testificou  nos  corações.  Coisa  que  não  aconteceu  no  Concílio  de  Trento,  em  1546,  quando   as  brigas  concernentes  aos  livros  apócrifos   —  aceitos  pelo  catolicismo  —  tornaram-se  tão  intensas  que,  em  pleno  concílio,  40  dos  49  bispos  presentes   travaram  uma  luta  corporal,  agarrados  às  barbas  e  batinas  uns  dos  outros...  Foi  nesse  ambiente  "espiritual"  que  os  livros  apócrifos  foram  aprovados!


IV.  Conclusão       

Os  salvos  em  Cristo  devem  ser  regidos  somente  pelas  Santas  Escrituras.  Não  devem  ir  além do  que  está  escrito  (1 Co  4.6), por  preceitos  e  doutrinas  de  homens  (Cl  2.22),  ou  mesmo  pela  "tradição"  (Mt  15.3,6;  Mc  7.9).  Na Escritura  está  "todo  o  conselho  de  Deus"  (At  20.27)  —  e  isso  dispensa  a  necessidade  de  qualquer  outro  manual  ou  regra. Portanto,  a  suficiência  das  Escrituras  é  tão  patente,  que  nós,  protestantes,  somos  levados  a  conclamar  o  "grito  de  guerra"  da  Reforma  com  cada  vez  mais  ímpeto:  Sola  Scriptura!

Por:  Daniel  Cardoso.

BIBLIOGRAFIA:

Biblia  Apologética  com  Apócrifos.  1ª  ed.  São  Paulo:  ICP,  2015.  

GILBERTO,  A.  A  Bíblia  Através  dos  Séculos.  15ª  ed.  Rio  de  Janeiro:  CPAD,  2004.  


           

  

       

   


  
  

domingo, 26 de janeiro de 2020

INVENÇÃO DOS PREGADORES: O ERRO CRISTOLÓGICO



     I.  A  INVENCIONICE

     Vivemos  numa  era  em  que  muitas  invenções  têm  sido  criadas  por  "animadores  de  auditório".  Estes  visam  o  emocionalismo  do  povo,  e,  para  fazer  isso,  não  temem  nem  mesmo  "ir  além  do  que  está  escrito"  (1 Co  4.6). O  célebre  Martin  Loyde  Jones  (1899-1981)  certa  vez  afirmou  como  eram  os  "pregadores-modelo"  de  sua  época:

São  aqueles  que  divertem  o  povo,  manipulam  suas  emoções,  afirmam  sempre  coisas  agradáveis  e  não  comprometem  a  sua  autoestima. Devem  ser  bem  preparados  na  arte  de  divertir  e  impressionar;  e,  para  isso,  os  recursos  mais  usados  são  as  experiências,  histórias  comoventes  e  frases  de  efeito.

      E  nessa  cognominada  "arte  de  impressionar"  incluem-se  as  invencionices.  A  vontade  dos  animadores  de  auditório de  emocionar a  platéia  é  tanta  que  levam-os  ao  ridículo,  porquanto  pregam  um  sermão  abarcado  de  gritarias,  boatos que  nunca  estiveram  na  Bíblia, tentativas  de  animar  o  auditório  e  constante  emprego  de  gracejos.  Diante  de  tantos  artifícios,  pergunto:  e  a  obra  que  cabe  ao  Espírito  Santo?  O  mensageiro  de  Deus  não  deve  ser  um  animador  ou  motivador  de  auditório!  Sua  missão,  antes,  é  transmitir  a  mensagem  de  Deus  com  escrúpulos,  temor  e  seriedade.  E  o  Santo  Espírito  encarregar-se-á  de  introduzir  a  Palavra  nos  corações.

  II.   O  Erro  Cristológico    


     Um  dos  exemplos  de  invencionice  mentecapta  dos  dias  atuais  —  que  nos  focaremos  neste  artigo —  é  o  grande  erro  cristológico  de  que  Jesus  pregou  no  inferno  para  a  salvação  dos  espíritos  perdidos, e,  subsequentemente,  tomou  as  chaves  do  Diabo  e  esmagou-lhe  a  cabeça. Aqueles  que  propagam  essa  tese  paradoxal  apresentam  alguns  textos  bíblicos  que  supostamente  endossam  suas  teses  infundadas.  Analisaremos  a  seguir  os  textos,  utilizando  o  método  hermenêutico  crítico  textual.

•  E  porei  inimizade  entre  ti  e  a  mulher  e  entre  a  tua  semente  e  a  sua  semente;  e  esta  te  ferirá  a  cabeça,  e  tu  lhe ferirás  o  calcanhar   (Gn 3.15)

      Em  primeiro  lugar,  o  verbo  do  texto  em  apreço  é  "ferir",  e  não  "esmagar".  Isso  porque,  de  acordo  com  a  Palavra  de  Deus,  o  Diabo  ainda  não  foi  derrotado  por  completo  — esmagado.  Ele  está  julgado  (Jo  16.11),  e  na  cruz  Jesus  o  feriu,  vencendo-o  por  antecipação  (Cl  2.14,15).  No  dia  em  que  Satanás  for  vencido  (ou  esmagado)  definitivamente,  o  Senhor  o  esmagará  debaixo  dos  pés  da  Igreja:  E  o Deus  de  paz  esmagará  em  breve  Satanás  debaixo  de  vossos  pés  (Rm  16.20).   Logo,  a  utilização  do  texto  supracitado  para  estribamento  da  tese  inautêntica  de  que  Jesus  foi  ao  inferno  e  "esmagou  o  Diabo"  é,  sem  dúvida,  muito  equivocada.

•  Porque  também  Cristo  padeceu  uma  vez  pelos  pecados,  o  justo  pelos  injustos,  para  levar-nos  a  Deus;  mortificado,  na  verdade,  na  carne,  mas  vivificado  pelo  Espírito;  no  qual  também  foi  e  pregou  aos  espíritos  em  prisão;  os  quais  noutro  tempo  foram  rebeldes,  quando  a  longanimidade  de  Deus  esperava  nos  dias  de  Noé,  enquanto  se  preparava  a  arca;  na  qual  poucas  (isto  é,  oito)  almas  se  salvaram  pela  água   (1 Pe  3.18-20)

       Em  primeiro  lugar,  convém  observarmos  que  há  uma  coparticipação  no  texto  suprareferido  de  Jesus  e  o  Espírito  Santo.  O  primeiro  operou  por  meio  do  segundo.  Em  segundo  lugar,  a  obra  que  foi  realizada  pelos  dois  deve  ser  entendida  de  modo  que  não  venhamos  a  admitir  conceitos  antibíblicos  —  como  o  de  que  houve  uma  "segunda  chance"  àqueles  espíritos  aprisionados,  enquanto  a  Escritura  é  clara  e  enfática  na  afirmação  de  que,  "depois  da  morte,  segue-se  o  juízo"  (Hb  9.27). Por  conseguinte,  aqueles  que  estão  presos  no  Hades  —  o  receptáculo  dos  espíritos  separados  de  Deus  —  já  estão  condenados;  contudo,  receberão  o  juízo  definitivo  por  ocasião  do  Juízo  Final  (Ap  20.11-15).  Cristo  iria  contra  a  Sua  Palavra  se  desse  segunda  chance  àqueles  espíritos!

         Como,  então,  devemos  entender  esse  texto?  À  luz  de  uma  boa  hermenêutica  e  exegese.  Para  começar,  o  termo  grego  para  "pregar",  na  passagem em  foco,  denota  evangelização;  anúncio  e  apregoamento  das  boas  novas.  Isso  é  confirmado  no  decorrer  da  epístola  de  Pedro  (cf.  1  Pe  4.6).  Logo,  a  "pregação"  de  Jesus   por  intermédio  do  Espírito  Santo  era  de  teor  evangelístico.  Sendo  assim,  essa  pregação  não  poderia  ter  sido  dirigida  aos  infiéis  já  no  Hades;  do  contrário,  Cristo  iria  contra  Sua  Palavra.  Essa  pregação  só  pode  ter  sido  feita  enquanto  aquelas  pessoas  ainda  estavam  vivas,  no  tempo  de  Noé.  Decerto,  é  plausível  que  o  "Espírito  de  Cristo"  houvesse  impelido  Noé, o  pregoeiro  da  justiça  (2  Pe  2.5),  a  anunciar  a  salvação  àquela  sociedade  impura,  devassa  e  depravada  de  seu  tempo.  Ademais,  o  próprio  apóstolo  Pedro  deixou  claro  que  o  Espírito  Santo  era  aquele  que  usava  os  profetas.  Isso  foi  enfatizado  tanto  na  primeira  quanto  na  segunda  epístola  petrina  (1  Pe  1.12;  2 Pe 1.21).  Portanto,  Noé  falou  inspirado  pelo  Espírito  de  Jesus,  e  pregou  para  a  salvação  dos  rebeldes   —  os  quais  desdouraram  por  completo  a  sua  mensagem,  satirizando-a.  A  utilização  do  termo  "espíritos  em  prisão"  por  Pedro  ocorre  pelo  fato  de  que,  quando  o  apóstolo  escreveu  sua  carta,  aqueles  que  na  época  da  pregação  de  Noé  estavam vivos  já  eram  espíritos  apriosionados,  perdidos.  Isso  não  significa  que  Noé  lhes  pregou  naquela  condição,  mas  sim que  eles  estão  nela  atualmente;  assim,  Pedro  estava  relatando  a  condição sobre-horrenda daqueles  que,  quando  vivos,  ouviram  a  pregação  de  Noé  e  a  rejeitaram.

•  E  eu,  quando  o vi,  caí  a  seus  pés  como  morto;  e  ele  pôs  sobre  mim  a  sua  destra,  dizendo-me:  Não  temas;  Eu  sou  o primeiro  e  o  último;  e  o  que  foi  morto,  mas  eis  aqui  estou  vivo  para  todo  o  sempre.  Amém.  E  tenho  as  chaves  da  morte  e  do  inferno  (Ap  1.17,18) 

       Notemos,  primeiramente,  a  frase  enfática  de  Jesus:  tenho  as  chaves  da  morte  e  do  inferno.  Ela  não  abre brecha  para  interpretações  mentecaptas  e  paradoxais  como  a  de  que  Cristo  tenha  tomado-as  do  Diabo.  Muito  pelo  contrário, pois  o  texto  em  foco  indica-nos  que  as  "chaves"  que  o  Senhor  Jesus  possui  são  suas  por  direito,  e  não  conferidas  por  outrem.  Além  do  que,  "chave",  nas  Escrituras,  denota  uma  posição  de  autoridade  e  domínio  (Is  22.22).  Portanto,  quando  Cristo  diz  que  "tem  a  chave  da  morte  e  do  inferno",  estava  afirmando  que  possui  todo  o  domínio,  poder  e  autoridade  sobre  eles.  É  paradoxal  a  ideia  de  que  esta  "autoridade"  de  Jesus  tenha  sido  tomada do próprio Diabo!  

        Aliás,  a  concepção  de  que  Jesus  tomou  as  chaves  do  inferno  das  mãos  do  Adversário   além  de  não  ser  bíblica  —  é  totalmente  infundada,  porque  parte  do  pressuposto  de  que  Satanás  dominava  o  inferno  o  que  não  é  verdade.  Conquanto  o  inferno  desde  sua  fundação  tenha  sido  o  lar  dos  demônios,  ainda  antes  da  morte de  Cristo  na  Cruz  do  Calvário  há  menções  de  que  tão  somente  o  Senhor  exercia  domínio  sobre  aquele  local  (Mt  10.28).  Desde  o  começo,  o  Senhor  possuiu  a  chave  (i.e.,  o  domínio)  da  "morte"  e  do  "inferno";  até  mesmo  os  demônios  reconhecem  isso,  estremecendo  ante  a  Seu  grandioso  poder  (Tg  2.19).   


   III.   Houve  "Festa  no  Inferno"?  

    Um  dos  maiores  erros  que  os  animadores  de  auditório  têm  propagado  é  o  de  que,  com  a  morte  vicária  de  Cristo  na  Cruz,  houve  "festa"  e  "folguedo"  no  inferno; grandes  comemorações  e  festanças  que  prolongaram-se  por  três  dias    quando  Cristo  repentinamente  aparece,  dá  cabo  a  festa,  esmaga  a  cabeça  de  Satanás  e  toma  a  chave  de  suas  mãos.  

    A  tese  de  que  houve  uma  "festa  no  inferno"  trata-se  de  uma  aberração.  Em  primeiro  lugar,  os  demônios  não  comemorariam  algo  que  tanto puganaram  para  que  não  ocorresse     a  morte  expiatória  de  Cristo.  No  estopim  de  suas  tentativas,  Satanás  chegou  ao  ponto  de  usar  Pedro  para  falar:  "Senhor,  tem  compaixão  de  ti  mesmo;  de  modo  nenhum  te  acontecerá  isso  [a  morte  na   cruz]"  (Mt   16.22);  deveras,  Pedro,  persuadido  pelo  inimigo  de  Deus,  repreendia  Jesus,  para  que  não  morresse  (Mc  8.32).  Ademais,  o  que  representa  a  "mensagem  da  cruz"?  Não  é,  porventura,  a  salvação  ao  mísero  e  ignóbil  pecador,  mediante  o  sacrifício  vicário  Daquele  que  "não  conheceu  pecado"  (2  Co  5.21)?   Como  os  demônios  poderiam  se  alegrar  com  isso?  

     A  Bíblia  revela  que  com  a  morte  de  Cristo  ocorreu  justamente  o  contrário:  o  inferno  se  estarreceu,  e  não  se  alegrou. De  fato,  com  a  obra  sacrossanta  da  expiação  o  Senhor  Jesus  "triunfou  sobre  as  potestades  e  principados"  (Cl  2.15);  e,  ainda,  o  escritor  aos  Hebreus  diz-nos  que  Cristo  com  Sua  morte  "aniquilou  o  Diabo"  e  libertou  os  que  a  ele  estavam  sujeitos  (Hb  2.14,15).  Quem  em  sã  consciência  dirá  que  isso  é  motivo  do  inferno  fazer  festas?  O  inferno  estaria  comemorando  sua  própria  perca  e  derrota? Além  do  mais,  a  obra  que  Cristo  efetuou  no  Calvário  representava  a  consumação  do  plano  salvífico  do  Pai.  Por  isso  o  Senhor  exclamou:  Está  consumado!  (gr.  tetelestai  -  Jo  19.30).  
     É,  portanto,  um  absurdo  a  tese  de  que  o  inferno  se  "alegrou"  com  a  consumação  do  plano  da  salvação:  a  morte  vicária  do  Senhor. 


   IV.  Conclusão

    Conforme  vimos,  as  invencionices  dos  "animadores  de  platéia"  tem  gradativamente  aumentado;  e  o  povo,  sem  relutância  alguma,  ingere  esses  ensinamentos,  que  são  verdadeiros  "ventos  de  doutrina"  (Ef  4.14).  Isso  só  mostra  a  carência  vigente  em  nosso  meio  de  ensinos  verdadeiramente  bíblicos,  ortodoxos  e  verazes.  Esta  é  a  única  maneira  de  expurgarmos  esses  ensinos  heterodoxos  de  nosso  meio:  com  a  exposição  pura  e  genuína  das  Sagradas  Escrituras;  sem  quaisquer  invencionices  para  "emocionar"  a  platéia.  Aqueles  que  alteram  o  que  está  escrito  no  Santo  Livro  com  o  intuito  de  compelir  a  emoção  do  público  hão de  ser  severamente  repreendidos  pelo  Todo-Poderoso  (Pv  30.6;  Ap  22.18,19). Portanto,  assumamos  o  compromisso,  diante  do  Senhor,  de  pregarmos  somente  a  Sua  soberana  e  insigne Palavra!  (cf. 2 Tm 4.1,2  ss).

Por:  Daniel  Cardoso.

BIBLIOGRAFIA

SILVA,  S.P.  Apocalipse:  Versículo  por  Versículo.  39ª  imp.  Rio  de  Janeiro:  CPAD,  2018.

ZIBORDI,  C.S.  Erros  que  os  pregadores  devem  evitar.  19ª  imp.  Rio  de  Janeiro:  CPAD,  2012.  

______________.  Paulo:  O  Príncipe  dos  Pregadores.  1ª  ed.  Rio  de  Janeiro:  CPAD,  2019.  

                         
                                                                                                      
     
     

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