I. A INVENCIONICE
Vivemos numa era em que muitas invenções têm sido criadas por "animadores de auditório". Estes visam o emocionalismo do povo, e, para fazer isso, não temem nem mesmo "ir além do que está escrito" (1 Co 4.6). O célebre Martin Loyde Jones (1899-1981) certa vez afirmou como eram os "pregadores-modelo" de sua época:
São aqueles que divertem o povo, manipulam suas emoções, afirmam sempre coisas agradáveis e não comprometem a sua autoestima. Devem ser bem preparados na arte de divertir e impressionar; e, para isso, os recursos mais usados são as experiências, histórias comoventes e frases de efeito.
E nessa cognominada "arte de impressionar" incluem-se as invencionices. A vontade dos animadores de auditório de emocionar a platéia é tanta que levam-os ao ridículo, porquanto pregam um sermão abarcado de gritarias, boatos que nunca estiveram na Bíblia, tentativas de animar o auditório e constante emprego de gracejos. Diante de tantos artifícios, pergunto: e a obra que cabe ao Espírito Santo? O mensageiro de Deus não deve ser um animador ou motivador de auditório! Sua missão, antes, é transmitir a mensagem de Deus com escrúpulos, temor e seriedade. E o Santo Espírito encarregar-se-á de introduzir a Palavra nos corações.
II. O Erro Cristológico
Um dos exemplos de invencionice mentecapta dos dias atuais — que nos focaremos neste artigo — é o grande erro cristológico de que Jesus pregou no inferno para a salvação dos espíritos perdidos, e, subsequentemente, tomou as chaves do Diabo e esmagou-lhe a cabeça. Aqueles que propagam essa tese paradoxal apresentam alguns textos bíblicos que supostamente endossam suas teses infundadas. Analisaremos a seguir os textos, utilizando o método hermenêutico crítico textual.
• E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; e esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar (Gn 3.15)
Em primeiro lugar, o verbo do texto em apreço é "ferir", e não "esmagar". Isso porque, de acordo com a Palavra de Deus, o Diabo ainda não foi derrotado por completo — esmagado. Ele está julgado (Jo 16.11), e na cruz Jesus o feriu, vencendo-o por antecipação (Cl 2.14,15). No dia em que Satanás for vencido (ou esmagado) definitivamente, o Senhor o esmagará debaixo dos pés da Igreja: E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo de vossos pés (Rm 16.20). Logo, a utilização do texto supracitado para estribamento da tese inautêntica de que Jesus foi ao inferno e "esmagou o Diabo" é, sem dúvida, muito equivocada.
• Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água (1 Pe 3.18-20)
Em primeiro lugar, convém observarmos que há uma coparticipação no texto suprareferido de Jesus e o Espírito Santo. O primeiro operou por meio do segundo. Em segundo lugar, a obra que foi realizada pelos dois deve ser entendida de modo que não venhamos a admitir conceitos antibíblicos — como o de que houve uma "segunda chance" àqueles espíritos aprisionados, enquanto a Escritura é clara e enfática na afirmação de que, "depois da morte, segue-se o juízo" (Hb 9.27). Por conseguinte, aqueles que estão presos no Hades — o receptáculo dos espíritos separados de Deus — já estão condenados; contudo, receberão o juízo definitivo por ocasião do Juízo Final (Ap 20.11-15). Cristo iria contra a Sua Palavra se desse segunda chance àqueles espíritos!
Como, então, devemos entender esse texto? À luz de uma boa hermenêutica e exegese. Para começar, o termo grego para "pregar", na passagem em foco, denota evangelização; anúncio e apregoamento das boas novas. Isso é confirmado no decorrer da epístola de Pedro (cf. 1 Pe 4.6). Logo, a "pregação" de Jesus por intermédio do Espírito Santo era de teor evangelístico. Sendo assim, essa pregação não poderia ter sido dirigida aos infiéis já no Hades; do contrário, Cristo iria contra Sua Palavra. Essa pregação só pode ter sido feita enquanto aquelas pessoas ainda estavam vivas, no tempo de Noé. Decerto, é plausível que o "Espírito de Cristo" houvesse impelido Noé, o pregoeiro da justiça (2 Pe 2.5), a anunciar a salvação àquela sociedade impura, devassa e depravada de seu tempo. Ademais, o próprio apóstolo Pedro deixou claro que o Espírito Santo era aquele que usava os profetas. Isso foi enfatizado tanto na primeira quanto na segunda epístola petrina (1 Pe 1.12; 2 Pe 1.21). Portanto, Noé falou inspirado pelo Espírito de Jesus, e pregou para a salvação dos rebeldes — os quais desdouraram por completo a sua mensagem, satirizando-a. A utilização do termo "espíritos em prisão" por Pedro ocorre pelo fato de que, quando o apóstolo escreveu sua carta, aqueles que na época da pregação de Noé estavam vivos já eram espíritos apriosionados, perdidos. Isso não significa que Noé lhes pregou naquela condição, mas sim que eles estão nela atualmente; assim, Pedro estava relatando a condição sobre-horrenda daqueles que, quando vivos, ouviram a pregação de Noé e a rejeitaram.
• E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; e o que foi morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno (Ap 1.17,18)
Notemos, primeiramente, a frase enfática de Jesus: E tenho as chaves da morte e do inferno. Ela não abre brecha para interpretações mentecaptas e paradoxais como a de que Cristo tenha tomado-as do Diabo. Muito pelo contrário, pois o texto em foco indica-nos que as "chaves" que o Senhor Jesus possui são suas por direito, e não conferidas por outrem. Além do que, "chave", nas Escrituras, denota uma posição de autoridade e domínio (Is 22.22). Portanto, quando Cristo diz que "tem a chave da morte e do inferno", estava afirmando que possui todo o domínio, poder e autoridade sobre eles. É paradoxal a ideia de que esta "autoridade" de Jesus tenha sido tomada do próprio Diabo!
Aliás, a concepção de que Jesus tomou as chaves do inferno das mãos do Adversário — além de não ser bíblica — é totalmente infundada, porque parte do pressuposto de que Satanás dominava o inferno — o que não é verdade. Conquanto o inferno desde sua fundação tenha sido o lar dos demônios, ainda antes da morte de Cristo na Cruz do Calvário há menções de que tão somente o Senhor exercia domínio sobre aquele local (Mt 10.28). Desde o começo, o Senhor possuiu a chave (i.e., o domínio) da "morte" e do "inferno"; até mesmo os demônios reconhecem isso, estremecendo ante a Seu grandioso poder (Tg 2.19).
A tese de que houve uma "festa no inferno" trata-se de uma aberração. Em primeiro lugar, os demônios não comemorariam algo que tanto puganaram para que não ocorresse — a morte expiatória de Cristo. No estopim de suas tentativas, Satanás chegou ao ponto de usar Pedro para falar: "Senhor, tem compaixão de ti mesmo; de modo nenhum te acontecerá isso [a morte na cruz]" (Mt 16.22); deveras, Pedro, persuadido pelo inimigo de Deus, repreendia Jesus, para que não morresse (Mc 8.32). Ademais, o que representa a "mensagem da cruz"? Não é, porventura, a salvação ao mísero e ignóbil pecador, mediante o sacrifício vicário Daquele que "não conheceu pecado" (2 Co 5.21)? Como os demônios poderiam se alegrar com isso?
A Bíblia revela que com a morte de Cristo ocorreu justamente o contrário: o inferno se estarreceu, e não se alegrou. De fato, com a obra sacrossanta da expiação o Senhor Jesus "triunfou sobre as potestades e principados" (Cl 2.15); e, ainda, o escritor aos Hebreus diz-nos que Cristo com Sua morte "aniquilou o Diabo" e libertou os que a ele estavam sujeitos (Hb 2.14,15). Quem em sã consciência dirá que isso é motivo do inferno fazer festas? O inferno estaria comemorando sua própria perca e derrota? Além do mais, a obra que Cristo efetuou no Calvário representava a consumação do plano salvífico do Pai. Por isso o Senhor exclamou: Está consumado! (gr. tetelestai - Jo 19.30).
É, portanto, um absurdo a tese de que o inferno se "alegrou" com a consumação do plano da salvação: a morte vicária do Senhor.
Notemos, primeiramente, a frase enfática de Jesus: E tenho as chaves da morte e do inferno. Ela não abre brecha para interpretações mentecaptas e paradoxais como a de que Cristo tenha tomado-as do Diabo. Muito pelo contrário, pois o texto em foco indica-nos que as "chaves" que o Senhor Jesus possui são suas por direito, e não conferidas por outrem. Além do que, "chave", nas Escrituras, denota uma posição de autoridade e domínio (Is 22.22). Portanto, quando Cristo diz que "tem a chave da morte e do inferno", estava afirmando que possui todo o domínio, poder e autoridade sobre eles. É paradoxal a ideia de que esta "autoridade" de Jesus tenha sido tomada do próprio Diabo!
Aliás, a concepção de que Jesus tomou as chaves do inferno das mãos do Adversário — além de não ser bíblica — é totalmente infundada, porque parte do pressuposto de que Satanás dominava o inferno — o que não é verdade. Conquanto o inferno desde sua fundação tenha sido o lar dos demônios, ainda antes da morte de Cristo na Cruz do Calvário há menções de que tão somente o Senhor exercia domínio sobre aquele local (Mt 10.28). Desde o começo, o Senhor possuiu a chave (i.e., o domínio) da "morte" e do "inferno"; até mesmo os demônios reconhecem isso, estremecendo ante a Seu grandioso poder (Tg 2.19).
III. Houve "Festa no Inferno"?
Um dos maiores erros que os animadores de auditório têm propagado é o de que, com a morte vicária de Cristo na Cruz, houve "festa" e "folguedo" no inferno; grandes comemorações e festanças que prolongaram-se por três dias — quando Cristo repentinamente aparece, dá cabo a festa, esmaga a cabeça de Satanás e toma a chave de suas mãos.A tese de que houve uma "festa no inferno" trata-se de uma aberração. Em primeiro lugar, os demônios não comemorariam algo que tanto puganaram para que não ocorresse — a morte expiatória de Cristo. No estopim de suas tentativas, Satanás chegou ao ponto de usar Pedro para falar: "Senhor, tem compaixão de ti mesmo; de modo nenhum te acontecerá isso [a morte na cruz]" (Mt 16.22); deveras, Pedro, persuadido pelo inimigo de Deus, repreendia Jesus, para que não morresse (Mc 8.32). Ademais, o que representa a "mensagem da cruz"? Não é, porventura, a salvação ao mísero e ignóbil pecador, mediante o sacrifício vicário Daquele que "não conheceu pecado" (2 Co 5.21)? Como os demônios poderiam se alegrar com isso?
A Bíblia revela que com a morte de Cristo ocorreu justamente o contrário: o inferno se estarreceu, e não se alegrou. De fato, com a obra sacrossanta da expiação o Senhor Jesus "triunfou sobre as potestades e principados" (Cl 2.15); e, ainda, o escritor aos Hebreus diz-nos que Cristo com Sua morte "aniquilou o Diabo" e libertou os que a ele estavam sujeitos (Hb 2.14,15). Quem em sã consciência dirá que isso é motivo do inferno fazer festas? O inferno estaria comemorando sua própria perca e derrota? Além do mais, a obra que Cristo efetuou no Calvário representava a consumação do plano salvífico do Pai. Por isso o Senhor exclamou: Está consumado! (gr. tetelestai - Jo 19.30).
É, portanto, um absurdo a tese de que o inferno se "alegrou" com a consumação do plano da salvação: a morte vicária do Senhor.
IV. Conclusão
Conforme vimos, as invencionices dos "animadores de platéia" tem gradativamente aumentado; e o povo, sem relutância alguma, ingere esses ensinamentos, que são verdadeiros "ventos de doutrina" (Ef 4.14). Isso só mostra a carência vigente em nosso meio de ensinos verdadeiramente bíblicos, ortodoxos e verazes. Esta é a única maneira de expurgarmos esses ensinos heterodoxos de nosso meio: com a exposição pura e genuína das Sagradas Escrituras; sem quaisquer invencionices para "emocionar" a platéia. Aqueles que alteram o que está escrito no Santo Livro com o intuito de compelir a emoção do público hão de ser severamente repreendidos pelo Todo-Poderoso (Pv 30.6; Ap 22.18,19). Portanto, assumamos o compromisso, diante do Senhor, de pregarmos somente a Sua soberana e insigne Palavra! (cf. 2 Tm 4.1,2 ss).
Por: Daniel Cardoso.
BIBLIOGRAFIA
SILVA, S.P. Apocalipse: Versículo por Versículo. 39ª imp. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
ZIBORDI, C.S. Erros que os pregadores devem evitar. 19ª imp. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
ZIBORDI, C.S. Erros que os pregadores devem evitar. 19ª imp. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
______________. Paulo: O Príncipe dos Pregadores. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.
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