domingo, 9 de fevereiro de 2020

EM DEFESA DA SOLA SCRIPTURA



I.   Introdução

O  Catolicismo  Romano  frequentemente  apresenta  objeções  à  uma  das  cinco  solas  protestantes:  a  Sola  Scriptura.  Isso  porque,  na  cosmovisão  católica,  a  "Sagrada  Tradição"  e  o  "Santo  Magistério"  estão  acima  da  Bíblia  em  ordem  de  autoridade. Mas as argumentativas  católicas  são  desmanteladas  ante  às  verdades  expressas  na  Escritura:  Pois  puseste  a  Tua  Palavra  acima  de  tudo  (Sl  138.2b).  Ninguém  na   Terra  está  acima  da  Bíblia!

II.   Diferenças  Entre  as  Perspectivas  Católica e  Protestante  Quanto  ao  Cânon  Sagrado

Há  uma  divergência  entre  as  correntes  doutrinárias  católica  e  protestante  no  que  tange  ao  cânone  sagrado,  e  isso  vai  além  do  acréscimo  dos  livros  apócrifos  deliberado  no Concílio  de  Trento:  a  diferença  também  diz  respeito  à  posição  da  Igreja  ante  ao  cânon.  Para  uma  melhor  elucidação,  o  eminente  teólogo  e  apologista  Norman  Geisler  (1932-2019)  sintetizou  as  diferenças  entre  essas  duas  correntes  doutrinárias  da  seguinte  maneira:


Posição  Católica  sobre  o  cânon


Posição  Protestante sobre o  cânon
 A Igreja determina o cânon
 A  Igreja descobre o cânon
 A Igreja é mãe do cânon
 A  Igreja é filha do  cânon
 A  Igreja é magistrada do cânon 

 A  Igreja é ministra do cânon
 A  Igreja regula o cânon
 A  Igreja reconhece o cânon
 A  Igreja é juíza do cânon
A  Igreja é testemunha do cânon 
 A  Igreja é  mestra do cânon
A  Igreja é serva do cânon 


Na  prática,  o  "Santo  Magistério"  é  que  determina  o  sentido  e  a  real  interpretação  dos  textos  bíblicos  no  catolicismo  romano.  Isso  dá  uma  total  atonomia  às  lideranças  clericais  de  acrescentarem  coisas  à  Bíblia,  e  esses  acréscimos  serem  acatados  pelos  fiéis  católicos  na  mesma  insuspeição  que  aceitariam  uma  doutrina  bíblica.   Deveras,  é  isso  que  aclara  como  doutrinas  que  nunca  estiveram  presentes  nas  páginas  da  Sagrada  Escritura  —   como  o purgatório,  a  impecabilidade  e  virgindade  perpétua  de  Maria,  as  rezas  pelos  mortos, o cultos  aos  santos,  a  infalibilidade  do  papa,  etc. — estão  presentes  no  credo  católico.  E  isso  demonstra  de  forma  incontestável  que  a  negação  da  suficiência  da  Escritura  abre  brechas  para  grandes heresias.  É  por  isso  que  a  Santa  Escritura  ordena-nos  "provar  os  espíritos"  (1  Jo  4.1),  e  analisar  tudo  no  seguinte  dizer: À  Lei  e  o  Testemunho!  Se  não  falarem  conforme  a  Palavra,  não  há  luz  neles  (Is  8.20).


III.   Resposta  aos  Argumentos  Católicos

Objeção  1:  A  Bíblia  nunca  afirmou  ser  a  nossa  única  regra  de  fé  e  prática.

Resposta  Bíblica:  De  fato,  não  há  nenhum  texto  explícito  na  Bíblia  conclamando  ser  ela  o  único  manual.  Contudo,  as  Escrituras  não  deixam  espaço  para  "ensinos"  e  "tradições"  que  contradigam  a  sua  mensagem.   Ela  nos  manda,  antes,  repelirmos  aos  falsos  ensinamentos  (Gl  1.8),  não  nos  enredarmos  por  quaisquer  ventos  de  doutrina  (Ef  4.14)  e não  promovermos  heresias  (2  Jo  vv. 10,11);  ela  nos  manda  o  contrário: que  batalhemos  pela  lídima  fé  dos  santos  (Jd  v. 3),  estando  preparados  para  isso  (1  Pe  3.15) e sempre  demonstrando  a  supremacia  das  Escrituras  (Tt  1.9).  Todo  ensino  precisa  passar  pelo  crivo  das  Santas  Escrituras!  (Is  8.20;  Fp   4.8,9).

Indubitavelmente,  há  uma  incongruência  entre  o  que  a  Bíblia  ensina  e  o  que  o  Catolicismo  advoga.  O  desejo  de  Deus  sempre  foi  que  o  seu  povo  tivesse  contato  com  as  Escrituras  (cf.  Dt  31.9-13),  mas  a  Igreja  Católica,  em  1229  —  no  Concílio  de  Toledo —,  vetou  o  uso  da  Bíblia  aos  fiéis.  As  consequências  da  desobediência  à  essa  decisão  eram  tão  penosas  que  o  reformador  William  Tyndale  foi  assassinado  na  fogueira  em  1536,  em  decorrência  de  ter  traduzido  a  Bíblia  para  o  povo  inglês.  Como  podemos  nos  resignar  ante  a  tamanho  perpetro?  Se  as  doutrinas  católicas  contrariam  claramente  as  Escrituras  e  antagonizam-se  a  elas  —  a  tal  ponto  de  haver  proibido-as,  além  de  ter  assassinado  e  perseguido  os  seus  tradutores  —,  como  alguns  cogitam  ser  tal instituição  a  "Igreja  de  Cristo"?  A  inibição  das  Escrituras  aos  leigos,  deliberada  no  Concílio  de  Toledo,  resultou-se  na  perdição  de  muitos,  porquanto  foram  impedidos  de  ler  o  único  livro  que  torna  os  pecadores  "sábios  para  a  salvação"  (2  Tm  3.15).  Portanto,  podemos  notar  que,  toda  vez  que  a  tradição  é  tida  como  superior  às  Escrituras,  consequências  horrendas  ocorrem.  Destarte,  toda  mensagem  ou  tradição  que  antagoniza-se  à  Bíblia  deve  ser  pugnada!

Objeção  2:  Foi  a  Igreja  quem  determinou  quais  livros  seriam  os  canônicos;  logo,  ela  está  acima  do  cânon  sagrado.

A  bem  da  verdade,  a  Igreja  "descobriu  o  cânon".  Ela  tão  somente  reconheceu  os  verdadeiros  livros  inspirados.  Quem  determinou  quais  livros  seriam  canônicos  ou  não  foi  o  próprio  Deus;  porquanto,  foi  Ele  quem  selou  os  livros  com  o  Seu  santo  selo:  o  chamado  selo  da  inspiração.  A  Igreja  apenas  reconheceu  tais  livros,  e,  impelida  pelo  Espírito,  compeliu-os  na  Bíblia.  O  fato  da  Igreja  ter  reconhecido  os  livros  inspirados  pelo  Senhor  não  a  torna  superior  a  eles.  Quem  propala  tais  teses  mentecaptas  comete  um  erro  crasso!  A  Palavra  de  Deus  está  acima  de  tudo  (Sl  138.2)  e  rege  a  Igreja —  não  o  inverso!  (2  Tm  3.16,17).   Ademais,  a  palavra  cânon,  etimologicamente,  denota  uma  "vara  de  medir".  Logo,  se  os  livros  bíblicos  são  o  nosso  "cânon",  segue-se  que  eles  devem  "medir"  e  "reger"  nossos  comportamentos,  palavras  e  ações. E, se são  eles  os  regedores,  estão  numa   posição  superior!  É  a  palavra  quem  rege (Sl  119.105),  quem  santifica  a  Igreja  (Jo  17.17),  quem  purifica  a  Igreja  (Jo  15.3; Ef  5.26)  quem  alimenta-a  (1 Pe  2.2)  e  quem  a  dá  poder  para  o  combate  contra  as  trevas,  com  a  "Espada  do  Espírito"  (Ef   6.17),  a  armadura  com  que  o  cristão  pugna  contra  o  arqui-inimigo  de  Deus  e  dos  homens,  juntamente  com  as  demais  hostes  demoníacas.
Se  é  a  Palavra  de  Deus  quem  exerce  tamanhas  coisas  sobre  a  Noiva  do  Cordeiro,  como  pode-se  cogitar  que  a  Igreja  é  "superior  à  ela"?  

O  agir  do  Espírito  na  Igreja  para  que  ela  reconhecesse  o  cânon  foi  sendo  gradativamente  tão  forte  que,  consensualmente,  a  Igreja  concordou  em  quais  livros  eram  verdadeiramente  inspirados  pelo  Altíssimo.  O  Santo  Espírito  testificou  nos  corações.  Coisa  que  não  aconteceu  no  Concílio  de  Trento,  em  1546,  quando   as  brigas  concernentes  aos  livros  apócrifos   —  aceitos  pelo  catolicismo  —  tornaram-se  tão  intensas  que,  em  pleno  concílio,  40  dos  49  bispos  presentes   travaram  uma  luta  corporal,  agarrados  às  barbas  e  batinas  uns  dos  outros...  Foi  nesse  ambiente  "espiritual"  que  os  livros  apócrifos  foram  aprovados!


IV.  Conclusão       

Os  salvos  em  Cristo  devem  ser  regidos  somente  pelas  Santas  Escrituras.  Não  devem  ir  além do  que  está  escrito  (1 Co  4.6), por  preceitos  e  doutrinas  de  homens  (Cl  2.22),  ou  mesmo  pela  "tradição"  (Mt  15.3,6;  Mc  7.9).  Na Escritura  está  "todo  o  conselho  de  Deus"  (At  20.27)  —  e  isso  dispensa  a  necessidade  de  qualquer  outro  manual  ou  regra. Portanto,  a  suficiência  das  Escrituras  é  tão  patente,  que  nós,  protestantes,  somos  levados  a  conclamar  o  "grito  de  guerra"  da  Reforma  com  cada  vez  mais  ímpeto:  Sola  Scriptura!

Por:  Daniel  Cardoso.

BIBLIOGRAFIA:

Biblia  Apologética  com  Apócrifos.  1ª  ed.  São  Paulo:  ICP,  2015.  

GILBERTO,  A.  A  Bíblia  Através  dos  Séculos.  15ª  ed.  Rio  de  Janeiro:  CPAD,  2004.  


           

  

       

   


  
  

domingo, 26 de janeiro de 2020

INVENÇÃO DOS PREGADORES: O ERRO CRISTOLÓGICO



     I.  A  INVENCIONICE

     Vivemos  numa  era  em  que  muitas  invenções  têm  sido  criadas  por  "animadores  de  auditório".  Estes  visam  o  emocionalismo  do  povo,  e,  para  fazer  isso,  não  temem  nem  mesmo  "ir  além  do  que  está  escrito"  (1 Co  4.6). O  célebre  Martin  Loyde  Jones  (1899-1981)  certa  vez  afirmou  como  eram  os  "pregadores-modelo"  de  sua  época:

São  aqueles  que  divertem  o  povo,  manipulam  suas  emoções,  afirmam  sempre  coisas  agradáveis  e  não  comprometem  a  sua  autoestima. Devem  ser  bem  preparados  na  arte  de  divertir  e  impressionar;  e,  para  isso,  os  recursos  mais  usados  são  as  experiências,  histórias  comoventes  e  frases  de  efeito.

      E  nessa  cognominada  "arte  de  impressionar"  incluem-se  as  invencionices.  A  vontade  dos  animadores  de  auditório de  emocionar a  platéia  é  tanta  que  levam-os  ao  ridículo,  porquanto  pregam  um  sermão  abarcado  de  gritarias,  boatos que  nunca  estiveram  na  Bíblia, tentativas  de  animar  o  auditório  e  constante  emprego  de  gracejos.  Diante  de  tantos  artifícios,  pergunto:  e  a  obra  que  cabe  ao  Espírito  Santo?  O  mensageiro  de  Deus  não  deve  ser  um  animador  ou  motivador  de  auditório!  Sua  missão,  antes,  é  transmitir  a  mensagem  de  Deus  com  escrúpulos,  temor  e  seriedade.  E  o  Santo  Espírito  encarregar-se-á  de  introduzir  a  Palavra  nos  corações.

  II.   O  Erro  Cristológico    


     Um  dos  exemplos  de  invencionice  mentecapta  dos  dias  atuais  —  que  nos  focaremos  neste  artigo —  é  o  grande  erro  cristológico  de  que  Jesus  pregou  no  inferno  para  a  salvação  dos  espíritos  perdidos, e,  subsequentemente,  tomou  as  chaves  do  Diabo  e  esmagou-lhe  a  cabeça. Aqueles  que  propagam  essa  tese  paradoxal  apresentam  alguns  textos  bíblicos  que  supostamente  endossam  suas  teses  infundadas.  Analisaremos  a  seguir  os  textos,  utilizando  o  método  hermenêutico  crítico  textual.

•  E  porei  inimizade  entre  ti  e  a  mulher  e  entre  a  tua  semente  e  a  sua  semente;  e  esta  te  ferirá  a  cabeça,  e  tu  lhe ferirás  o  calcanhar   (Gn 3.15)

      Em  primeiro  lugar,  o  verbo  do  texto  em  apreço  é  "ferir",  e  não  "esmagar".  Isso  porque,  de  acordo  com  a  Palavra  de  Deus,  o  Diabo  ainda  não  foi  derrotado  por  completo  — esmagado.  Ele  está  julgado  (Jo  16.11),  e  na  cruz  Jesus  o  feriu,  vencendo-o  por  antecipação  (Cl  2.14,15).  No  dia  em  que  Satanás  for  vencido  (ou  esmagado)  definitivamente,  o  Senhor  o  esmagará  debaixo  dos  pés  da  Igreja:  E  o Deus  de  paz  esmagará  em  breve  Satanás  debaixo  de  vossos  pés  (Rm  16.20).   Logo,  a  utilização  do  texto  supracitado  para  estribamento  da  tese  inautêntica  de  que  Jesus  foi  ao  inferno  e  "esmagou  o  Diabo"  é,  sem  dúvida,  muito  equivocada.

•  Porque  também  Cristo  padeceu  uma  vez  pelos  pecados,  o  justo  pelos  injustos,  para  levar-nos  a  Deus;  mortificado,  na  verdade,  na  carne,  mas  vivificado  pelo  Espírito;  no  qual  também  foi  e  pregou  aos  espíritos  em  prisão;  os  quais  noutro  tempo  foram  rebeldes,  quando  a  longanimidade  de  Deus  esperava  nos  dias  de  Noé,  enquanto  se  preparava  a  arca;  na  qual  poucas  (isto  é,  oito)  almas  se  salvaram  pela  água   (1 Pe  3.18-20)

       Em  primeiro  lugar,  convém  observarmos  que  há  uma  coparticipação  no  texto  suprareferido  de  Jesus  e  o  Espírito  Santo.  O  primeiro  operou  por  meio  do  segundo.  Em  segundo  lugar,  a  obra  que  foi  realizada  pelos  dois  deve  ser  entendida  de  modo  que  não  venhamos  a  admitir  conceitos  antibíblicos  —  como  o  de  que  houve  uma  "segunda  chance"  àqueles  espíritos  aprisionados,  enquanto  a  Escritura  é  clara  e  enfática  na  afirmação  de  que,  "depois  da  morte,  segue-se  o  juízo"  (Hb  9.27). Por  conseguinte,  aqueles  que  estão  presos  no  Hades  —  o  receptáculo  dos  espíritos  separados  de  Deus  —  já  estão  condenados;  contudo,  receberão  o  juízo  definitivo  por  ocasião  do  Juízo  Final  (Ap  20.11-15).  Cristo  iria  contra  a  Sua  Palavra  se  desse  segunda  chance  àqueles  espíritos!

         Como,  então,  devemos  entender  esse  texto?  À  luz  de  uma  boa  hermenêutica  e  exegese.  Para  começar,  o  termo  grego  para  "pregar",  na  passagem em  foco,  denota  evangelização;  anúncio  e  apregoamento  das  boas  novas.  Isso  é  confirmado  no  decorrer  da  epístola  de  Pedro  (cf.  1  Pe  4.6).  Logo,  a  "pregação"  de  Jesus   por  intermédio  do  Espírito  Santo  era  de  teor  evangelístico.  Sendo  assim,  essa  pregação  não  poderia  ter  sido  dirigida  aos  infiéis  já  no  Hades;  do  contrário,  Cristo  iria  contra  Sua  Palavra.  Essa  pregação  só  pode  ter  sido  feita  enquanto  aquelas  pessoas  ainda  estavam  vivas,  no  tempo  de  Noé.  Decerto,  é  plausível  que  o  "Espírito  de  Cristo"  houvesse  impelido  Noé, o  pregoeiro  da  justiça  (2  Pe  2.5),  a  anunciar  a  salvação  àquela  sociedade  impura,  devassa  e  depravada  de  seu  tempo.  Ademais,  o  próprio  apóstolo  Pedro  deixou  claro  que  o  Espírito  Santo  era  aquele  que  usava  os  profetas.  Isso  foi  enfatizado  tanto  na  primeira  quanto  na  segunda  epístola  petrina  (1  Pe  1.12;  2 Pe 1.21).  Portanto,  Noé  falou  inspirado  pelo  Espírito  de  Jesus,  e  pregou  para  a  salvação  dos  rebeldes   —  os  quais  desdouraram  por  completo  a  sua  mensagem,  satirizando-a.  A  utilização  do  termo  "espíritos  em  prisão"  por  Pedro  ocorre  pelo  fato  de  que,  quando  o  apóstolo  escreveu  sua  carta,  aqueles  que  na  época  da  pregação  de  Noé  estavam vivos  já  eram  espíritos  apriosionados,  perdidos.  Isso  não  significa  que  Noé  lhes  pregou  naquela  condição,  mas  sim que  eles  estão  nela  atualmente;  assim,  Pedro  estava  relatando  a  condição sobre-horrenda daqueles  que,  quando  vivos,  ouviram  a  pregação  de  Noé  e  a  rejeitaram.

•  E  eu,  quando  o vi,  caí  a  seus  pés  como  morto;  e  ele  pôs  sobre  mim  a  sua  destra,  dizendo-me:  Não  temas;  Eu  sou  o primeiro  e  o  último;  e  o  que  foi  morto,  mas  eis  aqui  estou  vivo  para  todo  o  sempre.  Amém.  E  tenho  as  chaves  da  morte  e  do  inferno  (Ap  1.17,18) 

       Notemos,  primeiramente,  a  frase  enfática  de  Jesus:  tenho  as  chaves  da  morte  e  do  inferno.  Ela  não  abre brecha  para  interpretações  mentecaptas  e  paradoxais  como  a  de  que  Cristo  tenha  tomado-as  do  Diabo.  Muito  pelo  contrário, pois  o  texto  em  foco  indica-nos  que  as  "chaves"  que  o  Senhor  Jesus  possui  são  suas  por  direito,  e  não  conferidas  por  outrem.  Além  do  que,  "chave",  nas  Escrituras,  denota  uma  posição  de  autoridade  e  domínio  (Is  22.22).  Portanto,  quando  Cristo  diz  que  "tem  a  chave  da  morte  e  do  inferno",  estava  afirmando  que  possui  todo  o  domínio,  poder  e  autoridade  sobre  eles.  É  paradoxal  a  ideia  de  que  esta  "autoridade"  de  Jesus  tenha  sido  tomada do próprio Diabo!  

        Aliás,  a  concepção  de  que  Jesus  tomou  as  chaves  do  inferno  das  mãos  do  Adversário   além  de  não  ser  bíblica  —  é  totalmente  infundada,  porque  parte  do  pressuposto  de  que  Satanás  dominava  o  inferno  o  que  não  é  verdade.  Conquanto  o  inferno  desde  sua  fundação  tenha  sido  o  lar  dos  demônios,  ainda  antes  da  morte de  Cristo  na  Cruz  do  Calvário  há  menções  de  que  tão  somente  o  Senhor  exercia  domínio  sobre  aquele  local  (Mt  10.28).  Desde  o  começo,  o  Senhor  possuiu  a  chave  (i.e.,  o  domínio)  da  "morte"  e  do  "inferno";  até  mesmo  os  demônios  reconhecem  isso,  estremecendo  ante  a  Seu  grandioso  poder  (Tg  2.19).   


   III.   Houve  "Festa  no  Inferno"?  

    Um  dos  maiores  erros  que  os  animadores  de  auditório  têm  propagado  é  o  de  que,  com  a  morte  vicária  de  Cristo  na  Cruz,  houve  "festa"  e  "folguedo"  no  inferno; grandes  comemorações  e  festanças  que  prolongaram-se  por  três  dias    quando  Cristo  repentinamente  aparece,  dá  cabo  a  festa,  esmaga  a  cabeça  de  Satanás  e  toma  a  chave  de  suas  mãos.  

    A  tese  de  que  houve  uma  "festa  no  inferno"  trata-se  de  uma  aberração.  Em  primeiro  lugar,  os  demônios  não  comemorariam  algo  que  tanto puganaram  para  que  não  ocorresse     a  morte  expiatória  de  Cristo.  No  estopim  de  suas  tentativas,  Satanás  chegou  ao  ponto  de  usar  Pedro  para  falar:  "Senhor,  tem  compaixão  de  ti  mesmo;  de  modo  nenhum  te  acontecerá  isso  [a  morte  na   cruz]"  (Mt   16.22);  deveras,  Pedro,  persuadido  pelo  inimigo  de  Deus,  repreendia  Jesus,  para  que  não  morresse  (Mc  8.32).  Ademais,  o  que  representa  a  "mensagem  da  cruz"?  Não  é,  porventura,  a  salvação  ao  mísero  e  ignóbil  pecador,  mediante  o  sacrifício  vicário  Daquele  que  "não  conheceu  pecado"  (2  Co  5.21)?   Como  os  demônios  poderiam  se  alegrar  com  isso?  

     A  Bíblia  revela  que  com  a  morte  de  Cristo  ocorreu  justamente  o  contrário:  o  inferno  se  estarreceu,  e  não  se  alegrou. De  fato,  com  a  obra  sacrossanta  da  expiação  o  Senhor  Jesus  "triunfou  sobre  as  potestades  e  principados"  (Cl  2.15);  e,  ainda,  o  escritor  aos  Hebreus  diz-nos  que  Cristo  com  Sua  morte  "aniquilou  o  Diabo"  e  libertou  os  que  a  ele  estavam  sujeitos  (Hb  2.14,15).  Quem  em  sã  consciência  dirá  que  isso  é  motivo  do  inferno  fazer  festas?  O  inferno  estaria  comemorando  sua  própria  perca  e  derrota? Além  do  mais,  a  obra  que  Cristo  efetuou  no  Calvário  representava  a  consumação  do  plano  salvífico  do  Pai.  Por  isso  o  Senhor  exclamou:  Está  consumado!  (gr.  tetelestai  -  Jo  19.30).  
     É,  portanto,  um  absurdo  a  tese  de  que  o  inferno  se  "alegrou"  com  a  consumação  do  plano  da  salvação:  a  morte  vicária  do  Senhor. 


   IV.  Conclusão

    Conforme  vimos,  as  invencionices  dos  "animadores  de  platéia"  tem  gradativamente  aumentado;  e  o  povo,  sem  relutância  alguma,  ingere  esses  ensinamentos,  que  são  verdadeiros  "ventos  de  doutrina"  (Ef  4.14).  Isso  só  mostra  a  carência  vigente  em  nosso  meio  de  ensinos  verdadeiramente  bíblicos,  ortodoxos  e  verazes.  Esta  é  a  única  maneira  de  expurgarmos  esses  ensinos  heterodoxos  de  nosso  meio:  com  a  exposição  pura  e  genuína  das  Sagradas  Escrituras;  sem  quaisquer  invencionices  para  "emocionar"  a  platéia.  Aqueles  que  alteram  o  que  está  escrito  no  Santo  Livro  com  o  intuito  de  compelir  a  emoção  do  público  hão de  ser  severamente  repreendidos  pelo  Todo-Poderoso  (Pv  30.6;  Ap  22.18,19). Portanto,  assumamos  o  compromisso,  diante  do  Senhor,  de  pregarmos  somente  a  Sua  soberana  e  insigne Palavra!  (cf. 2 Tm 4.1,2  ss).

Por:  Daniel  Cardoso.

BIBLIOGRAFIA

SILVA,  S.P.  Apocalipse:  Versículo  por  Versículo.  39ª  imp.  Rio  de  Janeiro:  CPAD,  2018.

ZIBORDI,  C.S.  Erros  que  os  pregadores  devem  evitar.  19ª  imp.  Rio  de  Janeiro:  CPAD,  2012.  

______________.  Paulo:  O  Príncipe  dos  Pregadores.  1ª  ed.  Rio  de  Janeiro:  CPAD,  2019.  

                         
                                                                                                      
     
     

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

TIMÓTEO: UM EXEMPLO AO JOVEM CRISTÃO



I.   A  Vida  de  Timóteo

      Timóteo  foi  um  jovem  cristão,  companheiro  e  ajudante  de  Paulo. Sua  mãe, Eunice,  e  sua  avó,  Loide,  eram  cristãs  fervorosas  (cf. 2 Tm  1.5).   Essa  fé  foi  transmitida  a  Timóteo,  que  se  tornou  desde  pequeno  um  crente  fervoroso  nas  orações  (cf. 2 Tm 1.4),  e  na  leitura das  Sagradas  Escrituras  (cf.  2 Tm  3.15).  Seu  pai  era  grego,  e  provavelmente  não  era  cristão  (At  16.1).  

      Timóteo  vivia  nas  regiões  de  Listra.  Mas  seu  bom  testemunho  como  cristão  era  tão  eminente  que  chamou  a  atenção  até  de  outras  cidades,  como  Derbe  e  Icônio  (At  16.1,2).  Era  um  jovem  deveras  querido  por  toda  a  comunidade  cristã  daquelas  localidades.  Em  sua  segunda  viagem  missionária,  Paulo  visitou  àquelas  comunidades  cristãs,  e  deslumbrou-se  com  as  falas  dos  irmãos  sobre  o  jovem  Timóteo.  De  fato,  o  apóstolo  ficara  maravilhado  ao  ver  a  conduta  cristã  daquele  fidalgo  jovem.  Mais  adiante,  quando  Paulo  estava  preso  e  à  beira  do  martírio,  regozijava-se  com  aquelas  afáveis  lembranças  de  Timóteo  (2  Tm  1.4,5). Imediatamente,  o  apóstolo o escolheu  para  ser  seu  companheiro  em  suas  viagens.   

      Uma  comitiva  de  anciãos,  na  época  denominada  de  presbitério,  impuseram  as  mãos  sobre  Timóteo.  Depreende-se  que  a  unção  e  o  poder  do  Espírito  desceu  ali fortemente,  de  sorte  que  ocorreram  profecias  (1 Tm  4.14),  e  Timóteo  recebeu  dons  do  Senhor  (2  Tm  1.6).  Ali  ele  foi  separado  ao  ministério.   Doravante,  foi  um  ativo  companheiro  do  apóstolo  Paulo  (At  17.10-15;  18.5;  19.21,22;  20.3-5).  

    Apesar  das  limitações  que  tinha  —  e.g., frequentes  enfermidades  (cf.  1  Tm  5.23)  —  o  jovem  evangelista  persistia  em  anunciar  o  Santo  Evangelho. Participou  efetivamente  da  abertura  de  igrejas  (cf. 2  Co  1.19),  e  pregava  até  mesmo  em  locais  onde  o  Cristianismo  era  inibido  pelas  autoridades,  como  Tessalônica  (2  Ts  3.2,6).   Evidentemente,  foi  preso  em  decorrência  disso,  padecendo  perseguições.  É  o  que  aparenta  a  passagem  de  Hebreus  13.23:  Sabei  que  já  está  solto  o  irmão  Timóteo,  com  o  qual  (se  vier  depressa)  vos  verei.  Segundo  a  tradição  da  Igreja,  Timóteo,  feito  bispo  de  Éfeso,  foi  martirizado  pelos  pagãos,  e  substituído  em  seu  trabalho  pastoral  pelo  próprio  apóstolo  João.

II.    O  Legado  de  Timóteo  aos  Jovens  Cristãos

       Timóteo  deixou  um  vasto  legado  aos  jovens  cristãos.  Dentre  eles:

A)  Timóteo  dedicava-se  devocionalmente  ao  Senhor

      Paulo  se  lembrava  na  prisão  das  "lágrimas"  que  Timóteo  derramava  na  presença  de  Deus  (2  Tm  1.4).  Subentende-se,  pois,  que  ele  dedicava-se,  ininterruptamente,  à  oração  e  à  leitura  do  Livro  Sagrado  (2  Tm  3.15).  Outrossim,  os  jovens  cristãos  precisam  aplicarem-se  a  terem  uma  vida  consagrada  e  devocional  ao  Senhor.  Uma  vida  repleta  de  orações,  jejuns,  e  leitura  das  Sagradas  Escrituras.  O  sábio  Salomão  admoestou  os  jovens  a  aproveitarem  suas  energias  e  forças  para  a  busca  incessante  ao  Senhor  (Ec  12.1).  Timóteo  aproveitou  toda  a  sua  juventude  na  presença  de  Deus.  Faça  o  mesmo!

B)  Timóteo  era  totalmente  fiel  a  Deus,  tendo  um  bom  testemunho

      Para  solucionar  os  problemas  da  Igreja  de  Corinto,  Paulo  enviou  Timóteo.  Feito  isso,  escreveu:  Por  esta  causa  vos  enviei  Timóteo,  que  é  meu  filho  amado  e  fiel  ao  Senhor,  o  qual  vos  lembrará  os  meus  caminhos  em  Cristo,  como  por  toda  parte  ensino  a  cada  igreja  (1  Co  4.17).  Note:  Timóteo  era  fiel  ao  Senhor. Decerto,  sua  conduta  era  tão  intocável  que  até  mesmo  Paulo  a  isso  reconheceu.  Do  mesmo  modo,  os  jovens  cristãos  precisam  prezar  por  um  bom  testemunho;  uma  boa  conduta,  porquanto,  somos  a  "carta  que  o  mundo  lê"  (2  Co  3.2).  Assim  sendo,  o  que  os   outros  jovens,  que  não  conhecem  a  Deus,  o  Soberano  Senhor,  dirão  ao  verem  alguém  que,  ainda  jovem,  serve  a  Jeová  e  preza  por  Sua  doutrina?  Não  ficarão  admirados?  Deveras,  nossas  ações  podem  valer  mais  do  que  palavras.  Portanto,  assim  como  Timóteo,  preze  por  um  bom  testemunho!   

C)  Timóteo  sujeitava-se  e  ajudava  a  liderança  eclesiástica
       
           Saúda-vos  Timóteo,  meu  companheiro  de  trabalho  (Rm  16.21,  NTLH).  Não  somente  no  trabalho,  mas  "na  doutrina,  no  modo  de  viver,  na  intenção,  na  fé,  na  longanimidade,  no  amor,  na  paciência,  nas  perseguições  e  aflições"  (2 Tm  3.10,11).  Em  suma,  Timóteo  era  companheiro  de  Paulo  em  tudo! Ele  ajudava  a  liderança  da  Igreja  Primitiva  (At  19.22).  A  bem  da  verdade,  Timóteo  tinha  um  chamado  para  liderar.  Não  obstante,  era  humilde  e  desejava  servir;  estar  sob  a  liderança  de  outrem.  Igualmente,  os  jovens  cristãos  precisam  ajudar  a  liderança  da  Igreja,  e  serem  prestativos  e  idôneos  para  tudo.  

D)  Timóteo  era  um  evangelista  itinerante

      Não  é  de  se  espantar  a  vida  missionária  de  Timóteo.  Junto  com  Paulo,  ele  evangelizou  diversas  províncias,  até  chegar  à  Europa.  Ele  trabalhava  arduamente  na  Obra  do  Senhor  (1  Co  16.10).  Quando  Jesus  instituiu  a  Grande  Comissão,  ele  não  a  ordenou  somente  a  uma  determinada  classe  de  pessoas.  Ele  mandou  para  todos  os  crentes  —  independente  do  sexo,  cor,  raça,  etnia,  estatura,  idade,  etc.  —,  sendo  assim,  os  jovens  também  precisam  cumprir  efetivamente  essa tarefa  dada  por  Cristo.  Em  verdade,  até  os  anjos  almejavam  cumpri-la  (cf.  1  Pe  1.12),  mas  o  Eterno  vetou-lhes  esse  encargo,  concedendo-o  a  nós,  meros  vasos  de  barro  (cf.  2 Co  4.7).  Portanto, assim  como  Timóteo,  evangelize!  Não  esquive-se  na  sala  de  aula,  na  faculdade,  no  local  de  trabalho,  etc.  Testemunhe  do  nome  de  Jesus,  e  de  Seu  incomensurável  poder,  que  pode  salvar  ao  mais  mísero  pecador.  Majoritariamente,  os  jovens  universitários  têm  se  alimentado  de  ideologias  contrárias  à  Santa  Escritura,  como  ateísmoagnosticismohedonismo,  etc.  Por  conseguinte,  faça  a  diferença;  seja  a  luz  no  meio  das  trevas  (Mt  5.16),  e  "brilhe  como  um  astro"  no  meio  de  uma  geração  corrompida  e  perversa  (Fp  2.15).  Fale  de  Cristo!  

E)  Timóteo  não  era  egoísta

      Paulo  escreveu  aos  filipenses:  E  espero,  no  Senhor  Jesus,  que  em  breve  vos  mandarei  Timóteo,  para  que  também  eu  esteja  de  bom  ânimo,  sabendo  dos  vossos  negócios.  Porque  a  ninguém  tenho  de  igual  sentimento,  que  sinceramente  cuide  do  vosso  estado;  porque  todos  buscam  o  que  é  seu  e  não  o  que  é  de  Cristo  Jesus.  Mas  vós  bem  sabeis  qual  a  sua  experiência  [de  Timóteo],  e  que  serviu  comigo  no Evangelho,  como  filho  ao  pai  (Fp  2.19-22).  Perceba:  muitos  dos  que  Paulo  conhecia  eram  egoístas,  e  por  isso  neles  não  confiava.  Mas  Timóteo  não  era  egoísta,  e  por  isso  Paulo  escreve  que  confiava  muito  nele. Que  exemplo  de  conduta!  Os  jovens  cristãos,  igualmente,  tem  de  agir  para  o  bem  de  todos,  não  visando  somente  a  si  mesmos.  Esta  é,  na  verdade,  uma  ordenança  a  todos  os  crentes!

III.   Os  Desafios  de  Timóteo  e  as  Suas  Semelhanças  com  os  Jovens  Cristãos  Atuais 

       Timóteo  viveu  rodeado  de  desafios.  A  vida  desse  jovem  pregador,  em  via  de  regra,  não  era  fácil.  Ele  teve  de  lidar  e  de  vencer  grandes  obstáculos.   Muitos  deles  assemelham-se  ao  desafio  que  os  jovens  cristãos,  comprometidos  com  seu  Senhor,  possuem  nos  dias  atuais. 

1)  Vencer  as  barreiras  socioculturais

       O  século  I  AD  foi  uma  era  em  que  a  filosofia  socrática  estava  em  efeito  retumbante  entre  os  gregos.   O  racionalismo  era  deveras  valorizado  demasiadamente.  Todos  os  dias  os  amantes  da  filosofia  se  reuniam  num  lugar  chamado  Aerópago,  onde  discursavam  —  inclusive  Paulo  discursou  lá  (At  17.19).  E,  dentro  do  escopo  mental  grego,  era  demasiadamente  ridícula  a  mensagem  cristã.  Isso  por  diversos  motivos,  como  o  de  contrariar  o  henoteísmo  vigente  em  suas  crenças  e  o  de  anunciar  a  mensagem  da  ressurreição.  Os  coríntios (cristãos  da  cidade  grega  de  Corinto) tiveram  em  particular  uma  grande  dificuldade  de  aceitar  a  doutrina  da  ressurreição,  devido  ao  fato  de  terem  sido  doutrinados  com  o  pensamento  grego —  que  desde  os  filósofos  pré-socráticos,  como  Tales  de  Mileto,  até  os  socráticos,  como  Platão,  rejeitavam  definitivamente  a  ressurreição;  porém,  consubstanciavam  a  crença  numa  alma  imortal.  Paulo  advertiu-os  sobre  isso  num  capítulo  inteiro  de  sua  carta  (cf.  1  Co  15).

       Como  Timóteo  vivia  numa  sociedade  em  que  a  mensagem  cristã  era  "loucura"  (cf.  1  Co  1.23),  ele  tinha  por  desafio  vencer  esses  obstáculos  socioculturais  vigentes  na  cultura  greco-romana.   Timóteo  venceu  essas  barreiras!  Mesmo  com  a  zombaria  dos  gregos,  ele  evangelizou-os,  anunciando-lhes  sem  timidez  a  mensagem  de  Cristo  (1  Co  1.19).  Paulo  admoestou-o  para  que  ele  permanecesse  assim:   Porque  Deus  não  nos  deu  espírito  de  temor,  mas  de  poder,  e  de  amor,  e  de  moderação.  Portanto,  não  te  envergonhes  do  testemunho  de  nosso  Senhor,  nem  de  mim,  que  sou  prisioneiro  Seu;  antes,  participa  das  aflições  do  Evangelho,  segundo  o  poder  de  Deus  (2  Tm  1.7,8).  

       Outrossim,  na  atual  sociedade  os  jovens  não  podem  envergonharem-se  de  ser cristãos.   Muitas  universidades,  faculdades,  salas  de  aula,  etc.,  estão  imbuídas  por  ideologias  ateístas,  agnósticas,  céticas,  entre  outras.  Nem  sempre  os  jovens  cristãos  serão  bem  vindos  nesses  lugares.  Decerto,  gradativamente  o  Maligno  implanta  um  ódio  contra  o  Cristianismo  no  coração  dos  infiéis.  Entretanto,  os  jovens  cristãos  precisam  ter  a  conduta  de  Timóteo:  com  toda  ousadia,  proclamarem  a  sua  fé!  Não  devem  se  deixar  vencidos  por  zombarias,  deboches e escárnios  visando  satirizar  a  lídima  fé  cristã.  Devem,  antes,  anunciá-la  com  mais  fervor,   com  ímpeto  e  sabedoria.  Decerto,  ganharão  muitas  almas  ao  Senhor!    

2)   Ser  um  exemplo de conduta

      Paulo  deu  a Timóteo  a  incumbência  de  ser  exemplo  a  todos:   Ninguém  despreze  a  tua  juventude;  mas  seja  o  exemplo  dos  fiéis,  na  palavra,  no  trato,  no  amor,  no  espírito,  na  fé,  na  pureza   (1  Tm  4.12).  Note  que  ele  deveria  dar  um  belíssimo  exemplo  em  seis  áreas:

•  Na  palavra  —  depreende-se  que  sejam  as  conversas (i.e.,  até  mesmo  as  conversas  que  o  jovem  Timóteo  tinha  com  os  irmãos  precisavam  ser  um  exemplo  de  conversa  santa);

•  No  trato  —  isto  é,  nas  atitudes.  O  modo  como  Timóteo  agia  ante  a  qualquer  situação  tinha  de  ser  exemplo  aos  crentes;

•  No  amor  —  o  jovem  precisava  ser  um  exemplo  de  conduta  amorosa,  e,  para  isso,  tinha  de  cumprir  literalmente  as  insignes  palavras  de  Jesus:  Amai-vos  uns  aos  outros como  eu  vos  amei  (Jo  15.12);

•  No  espírito  —  ou  seja,  no  poder  do  Espírito  Santo.  Subentende-se,  pois,  que  até  mesmo  a  vida  espiritual  e  a  comunhão  pessoal  que  Timóteo  tinha  com  Deus  tinha  de  ser  de  sobremodo  exemplar; 

•   Na  fé  —  o  jovem  evangelista  precisava  ser  um  exemplo  em  sua  fé  e  confiança  em  Deus.  Ele  nunca  podia  deixar que  quaisquer  tipos  de  dúvida  entrassem  em  seu  coração,  para  ser  exemplo  aos  fiéis;

•   Na  pureza  —  seus  pensamentos,  palavras  e  ações  deviam  ser  puros.  Essa  pureza  devia  transparecer  e  ser  notada  por  todos  os  irmãos  (cf.  1  Tm  5.2).

      Porventura  não  é  isso   um  grande  desafio?  Os  jovens  cristãos  atuais,  posto  que  estão  "rodeados  de  uma  tão  grande  nuvem  de  testemunhas"  (Hb  12.1)  —  quer  em  casa,  no  local  de  estudo  ou  trabalho,  na  igreja,  etc.  —  precisam  procurar  transmitir  o  máximo  de  exemplo  aos  fiéis.  Contudo,  jamais  devem  esquecerem-se  de  que  a  motivação  primária  de  serem  santos  é  agradarem  ao  Todo-Poderoso;  pois,  por  mais  que  hajam  testemunhas  terrenas  nos  assistindo,  há  também  uma  "Testemunha  no  céu"  (Sl  89.37b).  Timóteo  deveria  lembrar-se  disso  (cf.  1  Tm  5.21).           

3)  Fugir  dos  desejos  da  juventude

      Esta  tarefa  não  foi  exclusivamente  peculiar   de  Timóteo,  porquanto  todos  os  jovens  cristãos  da  vasta  história  da  Igreja  precisaram  abdicar  suas  vontades  nesse  sentido.  A bem  da  verdade,  a  juventude —   mais  precisamente  a  adolescência  —  é  uma  época  em  que  os  hormônios  ficam  "à  flor  da  pele".  Timóteo  precisava  abnegar  esses  desejos  carnais.  Paulo  advertiu-o:  Foge  dos  desejos  da  juventude  (2  Tm  2.22a).  

      Todos  os  jovens  cristãos  enfrentam  tentações  com  os  "desejos  da  juventude"  —  que  contrapõem-se  à  vontade  do  Eterno.  É,  portanto,  uma  fase  desafiadora.  Contudo,  as  Escrituras  exortam-nos:  Jovens,  vós  sois  fortes,  e  já  vencestes  o  Maligno  (1  Jo  2.15).  Essa  vitória  tem  de  ser  confirmada;  e,  de  fato,  a  será,  se  atentamente  obedecermos  ao  Senhor,  abnegando-nos  e  crucificando  a  nossa  carne  "com  suas  paixões  e  concupiscências"  (Gl  5.24).     

4)  Combater  os  falsos  ensinos

      Quando  Paulo  foi  à  Macedônia,  deixou  Timóteo  em  Éfeso,  com  um  dever  explícito:  advertires  a  alguns  para  que  não  ensinem  outra  doutrina  (1  Tm  1.3).  Destarte,  Timóteo  tinha  de  pugnar  contra  os  falsos  ensinos.  Provavelmente  judaizantes  estavam  tentando  judaizar  a  Igreja;  pois  as  falsas  doutrinas  em  Éfeso  diziam  respeito  a  genealogias  e  fábulas  (1  Tm  1.4).  Timóteo,  como  bom  obreiro,  tinha  de  responder-lhes  com  mansidão  (2  Tm  2.25),  manejando  bem  a  Espada —  a  Palavra  da  Verdade  (2  Tm  2.15).

     Outrossim,  os  jovens  cristãos  precisam  defender  a  Santa  Doutrina,  porquanto  são  os  futuros  obreiros  da  Casa  de  Deus —  o  que  realça  a  responsabilidade  de  conservar  a  pureza  do  Evangelho  e  a  santidade,  posto  que,  à  medida  que  as  seitas  gradativamente  aumentam,  mais  o  Santo  Evangelho  tem  de  ser  conclamado  e  defendido.  Portanto,  assim  como  Timóteo,  precisam  manejar  bem  a  Espada,  "tanto  para  admoestar  como  para  convencer  os  contradizentes"  (Tt  1.9);  igualmente,  "guardar  o  bom  depósito"  —  isto  é,  a  doutrina  que  temos  aprendido  (cf.  2  Tm  1.14).

       Timóteo  tinha  uma  vida  de  leitura  (cf.  1  Tm  4.14).  Quem  lê,  sabe  mais,  e  fundamenta  melhor  as  suas  ideias.  Por  isso,  para  uma  boa  argumentação  ante  aos  adeptos  das   seitas  é  fundamental  uma  vida  de  leitura.  Leia  constantemente  livros  cristãos.  Esteja  afincado  na  fé,  fundamentando-a  também  com  sólidos  argumentos  racionais,  utilizando-os  também  para  convencer  os  céticos  — na  unção  e  no  poder  do  Espírito  Santo.  Esta  tarefa,  se  bem  cumprida,  se  resultará  em  muitas  e  muitas  almas  ao  Senhor...

       5)  Não  dar  ouvidos  à  falsa  ciência
                                                                                                                    Ó  Timóteo,  guarda  o  depósito  que  te  foi  confiado,  tendo  horror  aos  clamores  vãos  e  profanos  e  às  oposições  da  falsa  ciência   (1  Tm  6.20).  Incrivelmente,  aqui  temos  um  verdadeiro  vaticínio  profético  sobre  a nossa  era!  Literalmente,  estamos  vivendo  nos  dias  em  que  a  "falsa  ciência"  tem  se  proliferado  cada  vez  mais  no  mundo  e  na  sociedade.  Nos  dias  de  Timóteo,  a  "falsa  ciência"  dizia  respeito  às  falsas  filosofias  —  que  na  época  abarcava  todo  e  qualquer  tipo  de  ciência. Hoje  em  dia,  as  farsas  científicas  referem-se  às  teorias  que  visam  negar  a  veracidade  das  Santas  Escrituras.  

      Precisamos  estar  cônscios  de  que  uma  falsa  ciência  gera  ateus.  A   Teoria  da  Evolução  é  um  exemplo  de  farsa  científica.  Além  de  contrariar  as  leis  da  termodinâmica,  essa  falsa  teoria  desdoura  os  enormes  abismos  existentes  entre  as  espécies,  tornando  improvável  a  ligação  de  uma  com  a  outra  por  meio  de  uma  mutação  contínua  e  progressiva.  Há  um  enorme  abismo  entre  peixes  e  anfíbios;  entre  anfíbios  e  répteis;  entre  répteis  e  aves;  e,  principalmente,  entre  mamíferos  e  humanos.  Os  supostos  "homens-macacos",  que  a  comunidade  científica  por  anos  tanto  aclamou,  eram  ou  fraudes  —  como  a  do  "homem"  de  Piltdown,  em  1912  —  ou  símios  —  uma  espécie  de  macaco  antropomorfo  que  teve por  anos seus  fósseis  confundidos  com  um  "homem  arcaico".   

       As  evidências  multiformes descartam  a  Teoria  da  Evolução;  em  contrapartida,  apontam  para  um  Design  Inteligente.  A  "falsa  ciência"  elucida  que  tudo  veio  do  acaso,  sem  a  presença  de  um  Criador.  Os  próprios  partidários  dela,  como  Richard  Dawkins  —  um  dos  chamados  "quatro  cavaleiros  do  ateísmo"  de  nossos  dias  —  reconhecem  que  a  origem  da  vida  é  um  milagre.  Como  explicar  a  complexidade  do  ser  humano  sem  recorrer  à  Divindade?  O  cérebro  humano  parece  perfeitamente  ajustado,  e  é  complexo  demais  para  ter  vindo  do  acaso.  Sobre  isso,  o  Dr.  Robert  White  comenta:


Afirmar  que  o  cérebro  humano  evoluiu  de  algum  animal  é  contradizer  a  razão  e  os  fatos.  Muito  mais  lógica  é  a  seguinte  conclusão:  "Não  tenho  outra  escolha,  senão  reconhecer  a  existência  dum  Intelecto  Superior,  responsável  pelo  projeto  e   pelo  desenvolvimento  da  incrível  relação  entre  o  cérebro  e  a  mente    algo  muito  além  da  capacidade  de  compreensão  do  homem  [...]  Tenho  de  crer  que  tudo isto  teve   um  começo  inteligente,  que  Alguém  fez  que  acontecesse."

        As  células,  os  olhos, os órgãos,  etc.,  só  demonstram  a  grandeza  do  Ser  Divino,  porquanto:  "um  Design  Inteligente  exige  um  Criador  Inteligente".  Desde  a  época  dos  primeiros  filósofos  há  uma  respeitada  lei  sendo  considerada,  a  saber:  a  de que  nada  vem  do  nada.  Somente  um  Ser  atemporal,  eterno,  transcedente  ao  tempo,  ao  espaço  e  a  matéria,  poderia  ter  subsistido  ininterruptamente.  Portanto,  se  segundo  os  ateus  esse  Ser  "não  existe",  qual  a  origem  de  tudo?  Que  outro  ser,  elemento  ou  coisa  poderia  ser  detentora  do  tempo;  além  do  que  ter  originado  a  tudo?  

       Por  conseguinte,  assim  como  Timóteo,  não  podemos  nos  deixar  enredar  pelos  falsos  ensinos  e  pela  "falsa  ciência".  Paulo  aconselhou  Timóteo  a  aborrecer  as  objeções  dessa  "ciência",  porquanto  são  todas  falsas.  Não  há  motivo  fundamentalmente  sólido  para  negar  a  Bíblia  Sagrada.  Antes,  a  bem  da  verdade,  é  necessário  mais  fé  para  ser  ateu  do  que  para  ser   cristão.



       IV.   Conclusão

        Em  linhas  gerais,  Timóteo  era  um  jovem  extremamente  exemplar  aos  jovens  cristãos, sejam  eles  de  qualquer  época.  Ele  confiou  nas  promessas  do  Altíssimo,  retendo  a  fé:  Este  mandamento  te  dou,  meu  filho  Timóteo,  que,  segundo  as  profecias  que  houve  acerca  de  ti,  milites  por  elas  boa  milícia,  conservando  a  fé  e  a  boa  consciência,  rejeitando  a  qual  alguns  fizeram  naufrágio  na  fé  (1  Tm  1.18,19).   Estes  versículos  mostram-nos  que,  desde  cedo,  Timóteo  recebia  profecias  acerca  do  importante  papel  que  mais  tarde  exerceria  na  Igreja  Primitiva.  Ele  permaneceu  na  fé,  e  as  promessas  divinas  cumpriram-se  em  sua  vida,  fazendo com que  ele  literalmente  "cumprisse  seu  ministério"  (cf.  2  Tm  4.5). Outrossim, os  jovens  cristãos  precisam  reter  a  fé,  perseverantes  e  confiantes  no  Deus  Altíssimo;  decerto,  cumprirão  seus  ministérios  e  por  fim  receberão  a  "coroa  da  vida"  que  Deus  lhes  preparou  (Tg  1.12).  Maior  gozo  temos,  posto  que,  desde  jovens,  podemos  servir  ao  Senhor.  Regozije-se  nisso,  e  seja  como  Timóteo,  servindo  a  Deus!  

Por:  Daniel  Cardoso.         
                                                                                                                                                                               




          
       

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

ANJO DA GUARDA: MITO OU REALIDADE?



  I.     Introdução

   Neste  estudo,  ver-se-á  o  por  que  da  ideia  da  existência  de  "anjos  da  guarda"  designados  para  acompanhar  cada  crente  durante  toda  sua  lida  terrena  não  possuir  sustentação  bíblica; não  está  arrimada  à  Sagrada  Escritura!  Destarte,  não  pode  ser  resignada,  mas  combatida.  Deveras,  tal  tradição  dimana  do  período  interbíblico  (séc. IV a.C. -  séc. I AD),  um  período  de  apostasia  do  povo  judeu,  concomitantemente  com  a  escrita  dos  livros  apócrifos  e/ou  pseudo-epígrafos,  donde  surgiram  amiúdes de  concepções  errôneas,  doutrinariamente  falando.

   Essa  tradição  da  existência  de  "anjos  da  guarda" permeou  vários  séculos,  e  até  hoje  está  presente  em  algumas  denominações.    Trata-se  de  uma  total  incompreensão  da  doutrina  bíblica  dos  anjos  ―  angelologia  ―  e  de  "um  vento de  doutrina" que  deve ser  evitado (cf. Ef 4.14).  

  II.   Quem  São  os  Anjos? Quais  as  Suas  Funções?

   Consoante  as  Sagradas  Escrituras,  os  anjos  são  criaturas  espirituais  (Cl  1.16),  celestiais  (Lc  22.43),  imortais  (Lc 20.36),  assexuados  (Lc  20.34,35),  poderosos  (Sl  103.20),  numerosos  (Dt  33.2; Dn 7.10; Hb  12.22;  Ap  5.11)  e  mensageiros  de  Deus  (1 Rs  19.5-7).  Possuem  uma  autoridade  delegada  pelo  próprio  Jeová  ― que  lhes  pôs  por  maiorais  entre  suas  criaturas  (cf.  Sl  8.5; Hb 2.7; 2 Pe 2.11).  

      As  Escrituras  ainda  informam-nos  que  existem  os  anjos  bons  e  maus.  Os  primeiros  sujeitam-se  a  Deus  (Sl 103.20),  sendo  seus  ministros  (Hb  1.14).  Os  outros,  por  sua  vez,  são  os  anjos  caídos,  que  não  retiveram  o  seu  principado  (cf. Jd v. 6);  antes,  deram  ouvidos  a  Lúcifer  ―  tradução  da  Vulgata latina  para  "portador  da  luz"  (cf. Is  14.12)  ―,  aquele  que  transformou-se  no  arqui-inimigo  de  Deus  e  dos  homens,  e  autor  da  perdição,  do  mal,  do  pecado  e  das  trevas.   

     A  bem  da  verdade,  existem  anjos  que  protegem  os crentes.  São  enviados  por  Deus para  nos  livrar  (Sl  91.11). Observam a  nossa  conduta  cristã  diária (cf. 1 Tm 5.21), e  depois  assistem  perante  Deus  (Mt  18.10).  Esses  anjos  estão  presentes  nas  reuniões  dos  santos  (cf. 1 Co 11.10),  e  alegram-se  muito quando  uma  alma  se  rende  a  Cristo  (Lc  15.7-10).  Executam,  quando  designados  pelo  Divino,  juízos  contra  os  adversários  da  Igreja  (cf.  At  12.23),  ou  também  contra  crentes  rebeldes  (1 Cr  21.16).  São,  de  fato,  ministros  de  Deus  que  cooperam  com  aqueles  que  hão  de  herdar  a  salvação  (Hb  1.14).  São  cooperadores  na  obra  evangelizadora,  não  de  forma  direta  (cf. 1  Pe  1.12),  mas  indiretamente;  assim  fizeram  com  Filipe (cf. At 8.26 e  ss)  e  com  Pedro  (cf.  At  10.1-7).  São  verdadeiros  auxiliadores  dos  santos!  

    Entretanto,  a  ideia  de que  cada  crente  possui  um  anjo  restritamente  para  a  sua  guarda  não  possui  sustentação  bíblica.  Os  anjos  estão  à  mercê  dos  fiéis;  contudo, somente  obedecem  ao  Senhor  (cf.  Sl  103.20,21; 1 Pe 3.22),  e  não  a  nós.  Por  conseguinte,  não  são  nossos  "servos",  ou  "guardiões"  exclusivamente  nossos.  Quem  pensa  assim  está  completamente  equivocado,  porquanto  o  testemunho  das  Escrituras  não  atesta  isso!  Os  supostos  "anjos  de  guarda",  conjecturamente  presentes  em  alguns  textos  bíblicos,  não  são  o  que  é  tão  "conclamado"  por  muitos.   Provar-se-á  isso  a  seguir.  

   III.    Resposta  aos  Textos  Apontados  pelos  Defensores  da  Tese  do  "Anjo  da  Guarda"

      De  todos  os  textos  apontados  pelos  defensores  da  tese  do  "anjo  da  guarda",  três  são  os  mais  apresentados,  os  quais  serão  respondidos  à  luz  da  Palavra  de  Deus.




    

           



     

• Mateus  18.10:  Vede,  não  desprezeis  nenhum  destes  pequeninos,  porque  eu  vos  digo  que  os  seus  anjos  nos  céus  sempre  veem  a  face  de  meu  Pai  que  está  nos  céus.

     Este  texto  bíblico  somenta  realça  e  frisa  a  realidade  de  que  os  anjos  cuidam  dos  filhos  de  Deus.  A  expressão  "pequeninos",  usada  por  Cristo,  era  utilizada  por  Ele  regularmente  para  se  referir  a  seus  discípulos  (cf.  Mt  10.42;  Mc  9.42;  Lc  17.2,  etc.).  Ademais,  analisando-se  o  contexto  imediato  da  passagem  em  foco,  vê-se  que  Cristo  utilizou  o  termo  "pequeninos"  poucos  versículos  antes,  para  aludir  aos  discípulos  (cf.  Mt  18.6).  Assim  sendo,  uma  boa  hermenêutica  nos  dirá  que  os  "pequeninos"  referidos  por  Cristo  como  recebendo  um  cuidado  especial  dos  anjos  trata-se  dos  próprios  crentes.  

     Contudo,  o  texto  em  foco  não  diz  mais  do  que  isso.  Devemos  aprender  a  "não  ir  além  do  que  está  escrito"  (1  Co  4.6).  De  modo  algum  o  Senhor  está  aqui  mencionando  "anjos  da  guarda".  Pelo  contrário:  aqui  temos  a  informação  de  que  os  anjos  estão  na  presença  de  Deus,  adorando  e  louvando  ao  Pai,  e  não  que  cuidam  individualmente  das  pessoas  neste  mundo.  


•  Atos  12.11-15:  E  Pedro,  tornando  a  si,  disse:  Agora,  sei,  verdadeiramente,  que  o  Senhor  enviou  o  seu  anjo e me  livrou  da  mão  de  Herodes  e  de  tudo  o  que  o  povo  dos  judeus  esperava.  E,  considerando  ele  nisso,  foi  à  casa  de  Maria,  mãe  de  João,  que  tinha  por  sobrenome  Marcos,  onde  muitos  estavam  reunidos  e  oravam.  E,  batendo  Pedro  à  porta  do  pátio,  uma  menina  chamada  Rode  saiu  a  escutar.  E,  conhecendo  a  voz  de  Pedro,  de  alegria  não  abriu  a  porta,  mas,  correndo  para  dentro,  anunciou  a  todos  que  Pedro  estava  à  porta.  E  disseram-lhe:  estás  fora  de  ti.  Mas  ela  afirmava  que  assim  era.  E  diziam:  é o  seu  anjo.  

     O  apóstolo  Pedro  havia  sido  liberto da  mão  de  Herodes  Agripa  I  (11 d.C. -  44  d.C.)  por  um  anjo  de  Deus.  Entrementes,  a  igreja  reunida  na  casa  de  Maria  ―  mãe  de  Marcos  orava  com  instância  ao  Altíssimo  por  Pedro,  que  estava  batendo  na  porta.  Rode  saiu  a  escutar.  Quando  notou  que  era  Pedro,  alegrou-se  e  imediamente  anunciou  aos  irmãos.  Os  crentes  ouviram  isso  duvidando:  pensavam  que  Rode  estava  alienada!  Contudo,  devido  a  sua  relutância,  mudaram  de  parecer:  interpretaram  aquilo  como  sendo  o  "anjo  de  Pedro"  os  visitando. 

      Conforme  salientado  na  introdução,  o  pensamento  de que  existem  "anjos  da  guarda"  é  uma  tradição  que  dimana  do  período  interbíblico  ―  os  400  anos  que  separaram  a  escrita  dos  dois  testamentos  ―,  e  que  já  vinha  há  tempo  sendo  embutida  na  mente  dos  judeus.  A  própria  tradição  judaica  antiga  havia  incorporado  essa  concepção.

      Segundo  essa  tradição,  o  suposto  anjo  da  guarda  assume  a  semelhança  daquele  que  o  acompanha.  Sendo  assim,  quando  os  crentes  interpretaram  aquele  que  batia  na  porta  como  o  "anjo  de  Pedro",  eles  apenas  refletiram  os  resquícios  da  tradição  judaica,  donde  vieram.  Os  primeiros  convertidos  foram  judeus  (cf.  At  13.46).  Oito  mil  judeus  e  prosélitos  constituiam  os  primeiros  fiéis  (cf.  At  2.41; 4.4).  Portanto,  deve-se  observar  que,  como  eles  vieram do  judaísmo,  retiveram  em  suas  mentes  alguns  dos  vestígios  da  tradição  judaica,  dentre  eles  a  ideia  da  existência  de  "anjos  da  guarda";  pois  não  há  registro  dos  apóstolos ensinando  essa  tese  aos  fiéis.

       Além  disso,  a  ideia  de  que  aquele que  batia  na  porta  era  o  "anjo da  guarda"  de  Pedro  não  era  consensual  entre  os  irmãos.  Rode  ―  uma  jovem  possivelmente  criada  na  religião  cristã,  sem  ter  tido  influências  do  judaísmo  ―,  conheceu  a  "voz  de  Pedro"  e  interpretou  aquilo  como  sendo  literalmente  o  apóstolo;  ademais,  ela  anunciou  que  "Pedro  estava  à  porta"  (At  12.14).  Isso  mostra  que  nem  todos  criam  na  suposta  visita  do  "anjo  de  Pedro"  à  casa.
      
      Em  síntese,  o  livro  de  Atos  dos  Apóstolos  não  tem  por  finalidade  primária  ser  um  tratado  doutrinário,  mas  sim  histórico.  Tinha  por  objetivo  narrar  o  desenvolvimento   da  Igreja  do 1°  século da Era  Cristã. A  narrativa  fala,  a  grosso  modo,  do  plano  de  expansão  do  Evangelho:  Jerusalém,  Judéia,  Samaria  e  confins  da  terra  (At  1.8).   Por  conseguinte,  o  livro  cita  eventos  e  histórias  que  ocorreram  na  Igreja  Primitiva  nessa  sua  missão,  e  que  não  são  necessariamente  regras,  ou  doutrinas.  Lucas  cita,  por  exemplo,  que  "os  lenços  e  aventais  de  Paulo  eram  levados  aos  enfermos,  e  as  enfermidades  fugiam  deles"  (At  19.12),  algo  que  limitou-se  somente  a  Éfeso,  e  que  não  deve  ser  repetido  nos  dias  atuais. No  caso  suprarreferido  de  Pedro,  deve-se  observar  que  Lucas  apenas  redigiu  a  fala  daqueles  crentes,  e  as  suas  respectivas interpretações  sobre  quem  estava  à  porta ―  que  poderiam  estar  certas  ou  erradas.  Tão  somente  isso!  Quem  utiliza  desse  texto  para  fundamentar  a  tese  antibíblica  de  que  existem  "anjos  da  guarda" precisa  ignorar  várias  regras  hermenêuticas!       


    IV.  Conclusão

    Ficou  provado,  à  luz  das  Santas  Escrituras,  que a tese  que  sustenta  a  existência  de  "anjos  da  guarda"  é  inconsistente  e  antibíblica;  derivando-se  da  tradição, e não  da  Escritura.  A  Igreja  de  Colossos  estava  agasalhando  sérios  erros  doutrinários  — inclusive  no  que  tange  aos  anjos (Cl  2.18) — devido  à  tradição,  aos  preceitos,  e  a  doutrina  de  homens  (cf. Cl 2.22).

      Temos  por  certo  de  que  a  crença  em  "anjos  da  guarda"  é  um  dos  muitos  mitos  populares  a  respeito  dos  anjos;  uma  "tradição"  que  permeou  até  os  nossos  dias.  Destarte,  existe  uma  única  maneira  de  demitologizar  as  fantasias  populares  a  respeito  dos  anjos:  voltar  à  realidade  bíblica.






       



   



   

O PERIGO DO CRISTIANISMO EMOCIONAL

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