terça-feira, 9 de junho de 2020

LIVRO DE JÓ: AS INQUIETAÇÕES DE UM HOMEM FIEL



I.   Introdução  

Qual  o  cristão  no  Ocidente  que  nunca  ouviu  falar  de  Jó,  o  servo  que  mantevesse  fiel  mesmo  diante  das  mais  melindrosas  provações? 

De  fato,  podemos  constatar  que  a  biografia  bíblica  de  Jó  relata  uma  história  épica,  que  fortalece-nos  a  fé.  Ela  nos  conta  a  história  de um  homem  muito  bem-sucedido  e temente  a  Deus,  que  foi  provado  num  ponto  extremo —  e  muito  extremo.  A  linguagem  hiperbólica  usada  por  Jó  —  quando  ele  disse  que  se  o  seu  sofrimento  fosse  pesado  numa  balança  o  peso  excederia  o  da  areia  dos  mares  (Jó  6.2,3)  —  evidencia   o  quão  penosa  era  a  sua  dor. Uma  dor  tão  terrível  que,  não  à  toa,  levou-o  a  perguntar:  É,  porventura,  a  minha  força  a  força  da  pedra?  Ou  é  de  cobre  a  minha  carne?  (Jó  6.12).

Contudo,  a  despeito  das  inquietações  que  tanto  permeavam  a  sua  mente,  Jó  nunca  perdeu  a  sua  fidelidade  a  Deus.  E  é  justamente   esta  qualidade  que  abrilhanta-o  dentre  os  demais  e  torna  da  sua  história  um  relato  épico.  Mesmo  em  meio  às  mais  terríveis  dificuldades  e  vicissitudes  da  vida,  Jó  nunca  perdia  a  fidelidade  ao  seu  Senhor.

Por  conseguinte,   podemos aprender  muito  com  a  história  desse  servo  fiel,  que,  a  despeito  de  suas  inquietações  constantes,  nunca  perdia  a  fidelidade  a  Deus.

II.  A  Ocasião  do  Livro

Embora   hajam   grandes  controvérsias  entre  os  estudiosos bíblicos no  que tange  à  datação  e  ocasião  do  livro  e  dos  eventos  nele  narrados,   a  maior  parte  das  evidências,  indubitavelmente,   apontam  que  os  eventos  aconteceram  por  volta  do  período  patriarcal,   e  mais  precisamente  em  contemporâneidade  com  Jacó  e  seus  filhos.   Escrutinemos  os  indícios:

 •   Os  procedimentos,  os  costumes  e  o  estilo  de  vida  geral  apresentados  no  livro  remetem  diretamente  ao  período  patriarcal  (cerca  1800  a.C.);

 •   Não  há  nenhuma  referência  à  lei  mosaica,  nem  ao  tabernáculo,  ou  a  algum  elemento  histórico  de  Israel,  etc.;  além  do  quê,  nem  mesmo  o  nome  que  Deus  passou  a  se  revelar  a  partir  de  Moisés  (Êx  6.3)  —  o  conhecido  tetragrama  (YHWH)  —  é  mencionado,  mas  somente  o  nome  antigo  pelo  qual  os  patriarcas  conheciam a Deus: El-Shadai,  isto  é,  o  Todo-Poderoso  (cf.  Jó  5.17; 6.14; 8.5;  11.7;  13.3;  15.25;  21.15,20;  22.3,17,23,25,26;  23.16;  24.1;  27.2,11,13;  29.5;  31.35;  33.4;  34.10,12;  35.13;  37.23;  40.2);

•   Tanto  no  começo  quanto  no  final  do  livro  menciona-se  que  era  o  próprio  Jó  quem  oferecia  sacrifícios  a  Deus, o  que  denota  a  ausência  da  classe  sacerdotal  —  o  que,  conseguintemente,  implica  em  Jó  ter  vivido  numa  era  anteior  à  de  Moisés   (cf.  Jó  1.5;  42.7-10);

•   A  longevidade  de  Jó  demanda  que  ele  tenha  vivido  no  período  patriarcal —  haja  vista  ser  esse  um  privilégio  alcançado  somente  nos  dias  dos  patriarcas  (Jó  42.16,17);

•  Depreende-se, ao  lume  dos  indícios,  que  um  dos  "amigos"  de  Jó  apresentados  no  livro  —  a  saber,  Elifaz  (Jó  2.11) —  era  o  mesmo  que  foi  mencionado  em  Gênesis  como  filho  de  Esaú   e como  vivendo  no  período  patriarcal  (Gn  36.3,10).

Portanto,  é  razoável  situar  Jó  ao  período  dos  filhos  do  patriarca  Jacó.  Existem  tradições,  inclusive,  que  o  identificam  como  descendente  de  Naor,  o  irmão  de  Abraão.  

Seja  como  for,  o  fato  é  que  a  narrativa  bíblica  concernente  a  Jó  é  real,  e  não  parabólica  (cf.  Ez  14.14;  Tg  5.11),  e  que  seu  conteúdo  foi  reprisado  numa  carta  paulina,  evidenciando  claramente  a  sua  inspiração  (1  Co  1.19  comp.  Jó  5.12).  Sendo  assim,  há  grandes  coisas  que  podemos  aprender  com  esse  relato  bíblico  verídico.


III.   A  Colossal  Provação  de  Jó

As  Escrituras  mostram-nos  que  Jó  foi  provado  de  forma  muitíssimo  ciclópica.  

A  sua  provação  divide-se  em  duas  fases,  respectivamente:

A  primeira  fase  da  provação  de  Jó  foi  a  que  atingiu  tudo  o  que  estava  ao  seu  redor.  Contudo,  a  principal  área  provada  foram  as  suas  emoções.
Com  relação  às  suas  finanças,  ele  perdeu  em  um  único  dia  todos  os  seus  mil  bois,  as  suas  quinhentas  jumentas,  as  suas  sete  mil  ovelhas  e  os  seus   três  mil  camelos.  Entretanto,  lamentavelmente,  junto  à  perda  de  seus  rebanhos  somou-se  a  morte  de  todos  os  seus  servos,  com  exceção  dos  que  lhe  trouxeram  essa  triste  notícia  (cf.  Jó  1.13-17).
No  entanto,  o  que  mais  mexeu  no  âmago  de  suas  emoções  foi  que,  ainda  no  mesmo  dia,  os  seus  sete  filhos  e  três  filhas  faleceram  (Jó  1.18,19).  Mas,  incrivelmente,  foi  neste  momento  deveras  tão  dorolido  que  Jó  prostrou-se  em  terra  e  adorou  ao  Senhor  (Jó  1.20,21).

Já  na  segunda  fase   da  provação  de  Jó,  ele  mesmo  foi  o atingido,  porquanto  chagas  malignas  lhe  foram  lançadas  por  Satanás,  da  planta  do  pé  até  o  alto  da  cabeça (Jó  2.7). 
 Mais  tarde,  já  em  companhia  de  seus  três  "amigos",   Jó  descreve  um  pouco  de  sua  mui  violenta  dor  e  enfermidade:  O  meu  corpo  está  coberto  de  bichos  e  de  cascas  de  feridas;  a  minha  pele  racha,  e   dela  escorre  pus   (Jó  7.5,  NTLH).  Dolorido,  Jó  tomou  um  pedaço  de  telha  para  raspar  suas  feridas,  e  assentou-se  no  meio  da  cinza  (Jó  2.8).

A  esposa  de  Jó,  vendo  que  ele  continuava  firme  em  sua  fidelidade  a  Deus,  reprimendou  seu  marido  e  o  abandonou  (Jó  2.9).  Mas  Jó  manteve  sua  conduta  irreprensível  perante  o  seu  Senhor:  Em  tudo  isto  não  pecou  Jó  com  os  seus  lábios  (Jó  2.10).  

Contudo,  aprouvera  a  Deus  que  permitisse  ainda  mais  uma  provação  para  Jó:  a  zombaria  de  seus  "amigos".  Ao  invés  de  ajudarem-lhe  com  consolo,  eles  somente  o  culpavam  por  tudo.  

Mas  após  Jó com  suas  fraquezas  ter  vencido  às  provações,  Deus  apareceu  a  ele  e  mudou  o  seu  estado  peremptoriamente.   

 IV.  As  Inquietações  de Jó,  as  Falácias  de  Seus  Amigos  e a   Resposta  do  Senhor

Em  meio  às  desmedidas  dores  de  Jó,  seus  amigos  apareceram  com o  intuito  de  consolá-lo.  Entretanto,   só  de  terem  visto  ainda  em  terra  longínqua   a  sua  aparência  toda  desfigurada,  não suportaram  e  puseram-se  a  chorar,  prostrados  e  com  os  mantos  rasgados.  Seguidamente,  quando  finalmente  aproximaram-se  dele,  assentaram-se  por  sete  dias  e  sete  noites  inteiras, calados,  e  absortos  em  sua  dor  intensa  (cf.  Jó  2.12, 13).

Após  todo  esse  tempo  de  divagação  sobre  a  aflição  de  Jó,  os  diálogos começam.   Jó  inicia-os  com  uma  explosão,  derramando  uma  torrente  de  dor  e  amargura  e  amaldiçoando  a  sua  concepção  e  o  seu  nascimento  (Jó  3).  Depois  disso,  há  um  diálogo  de  três  fases entre  Jó  e  seus  três  amigos,  que  começava  por  ordem  de  idade:  primeiro  Elifaz,  o  temanita;  seguidamente,  Bildade,  o suíta;  e,  depois,  Zofar,  o  naamatita. 

A  Primeira  Fase 

 O  Discurso  de  Elifaz:  Em  seu  discurso,  Elifaz baseou  a  sua posição num  conceito  teológico  muito  crido  no  mundo  antigo:  o  cognominado  princípio  da  retribuição   —  a  ideia  de  que  tudo  que  ocorre  é  fruto  de nossas   ações.  Ele  utilizou  este  conceito  para  arguir  que Jó era  o  culpado  por  tudo  aquilo que  lhe  sobreveio. Na  cosmovisão  de  Elifaz  aquele  sofrimento  de  Jó  era  nada  mais  do  que  um  castigo  de  Deus  para  ele  (Jó  5.17);  destarte,  Jó  devia  arrepender-se  de  seus  pecados  (Jó  5.8).   
Na  conclusão  de  seu  discurso,  Elifaz  utiliza  a  sua  idade  e  experiência  de  vida  para  consubstanciar a  sua  assertiva  (cf.  Jó  5.27). 

A  Resposta  de  Jó: Jó  responde  primeiramente  voltando  a  chamar  a  atenção  de  seus  amigos  para  a  sua  dor e  sofrimento.  Ele  começa  afirmando  hiperbólicamente  que  o  peso  de  suas  aflições,  se  colocadas  numa  balança,  excederiam  o  peso  da  areia  do  mar  (Jó  6.2,3).  Contristado,  Jó  chega  a  até  mesmo  desejar  avidamente  a  morte,  em  virtude  de  não  estar  mais  suportando  tamanhas  tribulações   (Jó  6.8-13).
Depois  deste  lastimoso  desabafo,  Jó  exprime  o  seu  desapontamento  com  a  resposta  de   Elifaz  (Jó  6.14,15),  e  exige  que  ele  lhe  mostre  os  seus  erros,  já  que  o  acusou  (Jó  6.24).
Por  fim,  Jó  roga  clemência  ao  Todo-Poderoso  (Jó  7.1-21).

O  Discurso  de  Bildade:  Bildade  baseia-se  em  três  premissas:

1.  Os  caminhos  de  Deus  são  justos  (Jó  8.3);
2.  Deus  castiga  o  ímpio  e  abençoa  o  justo  (Jó  8.20-22);
3.  Logo,  Deus  é  justo  em  punir  Jó,  pois  seus  filhos  eram  ímpios  (Jó  8.4).

Contudo,  Bildade  deseja  a  restauração  de  Jó.  Para  isso,  então,  lhe  exorta  ao  arrependimento  (Jó  8.5,6).

A  Resposta  de  Jó:  Jó  responde  deixando  explícito  em  sua  retórica  que  ele  também  acredita  que  Deus  é Justo  (Jó  9.2).  

Ele  contrasta  a  grandeza  de  Deus  com  a  sua  pequeneza.  Contudo, ao  fazer  isso  infelizmente  Jó  começou  a  apresentar  noções   de  uma  visão   tirânica  sobre  Deus.  
O  quadro  desesperador  que  Jó  tinha  de  Deus  naquele  momento  era  o  de  um  tirano  que  destruía  arbitrariamente  a  quem  quisesse,  sem  importar  se  tratava-se  de  um  inocente  ou  de  um  culpado;  um  Deus  que  possui  prazer  em  afligir  os  seres  humanos  que  criou  (cf.  Jó  9.22-28;  10.3). 

O  Discurso  de  Zofar:  De  todos  os  amigos  de  Jó,  Zofar  era  o  mais  agressivo  em  seu  temperamento  e,  por  extensão,  em  suas  palavras.   Isso  fica  transparecido  em  todos  os  seus  discursos  —  e  neste  em  especial.   Para  Zofar,  Jó  é  um  mentiroso  e  um  arrogante;  alguém  que  não  queria  reconhecer  seus  erros  (Jó  11.3,4);  sendo  assim,  Jó  estaria  recebendo  menos  do  que  merecia  pela  sua  iniquidade  (Jó  11.5,6).

Como  um  campeão  em  defender  a  tradição  e  um  zelador  à  risca  da  ortodoxia  teológica  da  época,  Zofar  não  aceita  que  Jó  seja  um  inocente.  Para  ele,  Jó  deveria  estar  escondendo  alguma  coisa  que  fez.  Por  isso,  Zofar  adverte-o  para  o  fato  de  que  Deus  vê  tudo  (Jó  11.11).   Na  cosmovisão  deste  intransigente  "amigo"  de  Jó,  a  única  solução  seria  Jó  arrepender-se  de  seus  pecados  (Jó  11.13-19).  Do  contrário,  ele  certamente  morreria  (Jó  11.20).

A  Resposta  de  Jó:  Jó  responde  o  discurso  colérico  de  Zofar  com  uma  ironia:  Sem  dúvidas  vocês  são  o  povo,  e  a  sabedoria  morrerá  com  vocês!  (Jó  12.1,  NVI).  Jó  rebate  esta  jactância  de  seus  amigos, em  pressuporem  que  eles  são  os  "detentores  da  sabedoria",  enquanto  Jó  não  sabia  nada.  Jó  responde:  Não  vos  sou  inferior...  (Jó  12.3;  13.2).

Após  um  sucinto  discurso  tratando da  grandeza  e  soberania  do  Todo Poderoso  (Jó  12.7-25),  Jó  expressa  o  seu  anseio  por  um  encontro  pessoal  com  esse  Deus,  para  dialogar  com  Ele  sobre  as  suas  aflições  (Jó  13.2).  Esta  esperança  é  o  consolo  de  Jó.  Já  os  seus  amigos,  diz  ele,  "são  médicos  que  não  valem  nada",  haja  vista  as  palavras  com  que  se  dirigiam  a  Jó,  que serviam  mais  para  acusá-lo  do  que  para  consolá-lo  (Jó  13.4).  Eles  tentavam  transparecer  sabedoria  de  forma  debalde,  pois  a  atitude  mais  sábia  que  poderiam  tomar  era  o  silêncio  (Jó  13.5).

Contudo,  já  que  seus  amigos  lhe  acusavam  tanto  de  haver  cometido  pecado, mas  não  apontavam  qual  era,  Jó  recorre  a  Deus,  inquirindo  a  Ele  sobre  qual  seria  a  sua  transgressão e  o  motivo  de  seu  sofrimento  (Jó  13.23-28).

Mas,  infelizmente,  Jó  permanecia  resoluto  na  sua  visão  tirânica  sobre  Deus  (cf.  Jó  14.19-22).


A  Segunda  Fase

O  Discurso  de  Elifaz:  Em  seu  segundo  discurso,  Elifaz  se  mostra  mais  impaciente  com  Jó.   Ele  o  adverte  duramente  (Jó  15.2-6),  e  o  trata  como  um  ímpio  e  um   arrogante.  Nessa  reprimenda,  Elifaz  admoesta  Jó  de  que  a  dureza  de   coração  traz  graves  consequências.  Ele  aconselha  Jó  a  parar  de  justificar  a  si  mesmo  (Jó  15.31),  pois  assim  Jó  estaria  enganando-se,  e  o  seu  fim  seriam  as  maldições  que  cabem  aos  perversos  (cf.  Jó  15.17-35).

Novamente,  Elifaz  utiliza  a  sua  idade  avançada  e  a  sua  experiência  de  vida  para  endossar  a  sua  tese  (cf.  Jó  15.10).

A  Resposta  de  Jó:   Jó  inicia  sua  resposta  a  Elifaz  acusando  seus  amigos  de  falta  de  compaixão  e  misericórdia.  Ele  convida-os à possuirem  um  pouco  de  empatia,  imaginando-se  no  lugar  dele.  Jó  diz:  Bem  que  eu  poderia  falar  como  vocês,  se  estivessem  em  meu  lugar;  eu  poderia  condená-los  com  belos  discursos,  e  menear  a  cabeça  contra  vocês.  Mas  a  minha  boca  procuraria  encorajá-los;  a  consolação  dos  meus  lábios  lhes  daria  alívio  (Jó  16.4,5  -  NVI).  Jó,  como  amigo,  jamais  condenaria  e  zombaria  de  seus  amigos,  sobretudo  num  momento  tão  dorolido  como  aquele.  Contudo,  seus  "amigos"  não  tinham  essa  noção  empática.  Eles  eram,  na  verdade,  grandemente  apáticos.   
Sabendo  disso,  Jó  perde  toda  esperança  de  receber  alívio  por  parte  de  seus  companheiros.  Ele  sabe  que  eles  não  estão  dispostos  nem  à  ouvi-lo  nem  à  confortá-lo,  mas  tão-somente  à  condená-lo. Então,  Jó  dirige  agora  os  seus  diálogos  a  Deus,  o  Todo-Poderoso;  apelando-Lhe  para  averiguar  a  sua  inocência.  

Jó  aspirava  por  um  árbitro  entre  Deus  e  a  humanidade  (Jó  16.21;  17.3).  Felizmente,  esta  solicitação  foi  atendida  cerca  de  2.000  anos  mais  tarde,  na  pessoa  bendita  de  Cristo,  o  único  e  suficiente  Mediador  entre  Deus  e  os  homens  (cf.  1  Tm  2.5).  

O  Discurso  de  Bildade:  Bildade  inicia  seu  segundo  discurso  considerando  tolas  as  palavras  de  Jó  e  até  mesmo  zombando-o  (cf.  Jó  18.1-4).  Bildade  prenuncia  que  Jó  é  um  pecador  endurecido,  um  perverso;  assim  sendo,  o  seu  fim  é  a  destruição,  não  havendo  arrependimento  (Jó  18.5-21).

A  Resposta  de  Jó:  Mais  uma  vez,  Jó  apela  aos  seus  amigos  para  serem  mais  empáticos  com  ele.  A  bem  da  verdade, Jó  impressiona-se  de  que  eles  não  tenham  tido  vergonha  do  modo  como  estavam  o  tratando  (cf.  Jó  19.3b).   Jó  reprisa  o  fato de  que,  ainda  que  ele  estivesse  errado,  não  deveria  ser  tratado  daquela  maneira  (Jó  19.2,4;  cf.  6.14).  

Jó  ainda  possuia  noções  tirânicas  sobre  Deus  (cf.  Jó  19.5-22).  Contudo,  ele possuia  a  esperança  de  que,  no  final,  ele  seria  inocentado  perante  o  Senhor:  Porque  eu  sei  que  o  meu  Redentor  vive,  e  que  por  fim  se  levantará  sobre  a  Terra  (Jó  19.25).
Por  fim,  Jó  dá   uma  clara  admoestação  aos  seus  amigos  (Jó  19.28,29).  Desta  vez,  ele  não  somente  lastima  o  modo  como  eles  lhe  tratavam,  mas  os  adverte de  que  Deus  é  Juiz  Justo  e  castiga.

O  Discurso  de  Zofar:   Zofar  não  deixou  de  ser  aquele  homem  colérico  em  exuberância.  Pelo  contrário:  suas  palavras  ainda  demonstram  uma  grande  fúria  contra  Jó.

Zofar  ficou  perturbado  com  os  discursos  de  Jó,  e  assegurou  refutá-los  (Jó  20.1-3). Ele  "fez"  isso  descrevendo  as  calamidades  que  os  ímpios  sofrem.  Ele  anuncia  sobre  o  fim  trágico  dos  perversos  e  dos  hipócritas,  e  inclui  Jó  nessa  categoria  de  pessoas  (Jó  20.4-29).  
Este  foi  o  último  discurso  de  Zofar,  que,  devido  à  sua  ira  extremada,  deixou  de  respondê-lo.

A  Resposta  de  Jó:  Após  fazer  novamente  um  apelo  para  que  seus  amigos  o  ouçam  (cf.  Jó  21.1-6),  Jó  muda  o  foco  do  seu  discurso:  ele  para  de  focar  em  suas  aflições,  e  direciona  o  foco  para  o  famigerado  conceito  muito  vigente  na  teologia  da  época:  o  conhecido  princípio  da  retribuição.  Jó  pretende  refutar  esta  ideia  legalista  de  Zofar  de  que  os  sofrimentos  são  unicamente  destinados  aos  ímpios;  e,  por  sua  vez,  o  bem  aos  justos.  Jó  demonstra  claramente  que  os  ímpios  muitas  vezes  são  bem-sucedidos,  e  nenhum  mal  lhes  acontece  —  contrariando  Zofar  (Jó  21.7-33).  

Infelizmente,  ainda  existem  nos  dias  atuais  falsos  profetas  que  propalam  esses  ensinos  heréticos  de  Zofar,  apregoando  que  aos  justos  não  pode  acontecer  nada  ruim,  uma  vez  que  isso  é  destinados  somente  aos  ímpios.  O  crente  deve  ser  rico,  bem  de  saúde,  completamente  próspero,  etc.;  caso  contrário,  há  algo  de  errado  com  ele.  Esse  evangelho  maldito,  conhecido  popularmente  como   Teologia  da  Prosperidade,   foi  desde  aquela  época  reprovado  por  Deus  (cf.  Jó  42.7-9).


Terceira  Fase

O  Discurso  de  Elifaz:  Em  seu  último  discurso,  Elifaz   simplesmente  ignora  os  argumentos  apresentados.  Em  vez  disso,  ele  acusa  Jó  de  alguns  pecados  específicos  (Jó  22.1-11)  —  que  mais  tarde  foram negados por Jó (cf.  Jó  31).  
Elifaz  deixa  bem  clara  a  sua  visão,  não  muito  diferente  da  de  seus  outros  amigos:  a  única  esperança  para  Jó  é  o  arrependimento  (Jó  22.21-30).

A  Resposta  de  Jó:  Assim  como  Elifaz  ignorou  seus  argumentos,  Jó  agora  ignora  os  seus  amigos.  Ele  volta  a  apelar  para  Deus.  

Em  seu  discurso,  percebe-se  claramente  o  anseio  de  Jó  por  um  encontro  pessoal  com  Deus  (Jó  23.1-17).  A  sua  solicitação  foi  atendida  pelo  Senhor  (cf.  Jó  38-41).  Assim,  podemos  afirmar  com  certeza  que  as  duas  solicitações  que  Jó  fez  em  vida  foram  atendidas:  a  primeira  —  a  por  um  encontro  pessoal  com  Deus,  desejo  que  era  muito  manifestado  em  seus  discursos  (cf. Jó  13.22;  23.1-17;  31.25);  e  a  segunda  —  a  por  um  ábitro  entre  Deus  e  a  humanidade  (Jó  9.33;  16.21;  17.3;  19.25;  cf.  1  Tm  2.5).  Deus  atende  às  orações!

Já  prosseguindo  no  monólogo,  Jó  continua  a  desmantelar  a  errônea  doutrina  da  retribuição  (Jó  24.1-17).  Por  mais  que  seu  amigo  Elifaz  tenha  ignorado  seus  argumentos,  ele  deseja  que  seus  amigos  cogitem  sobre  as  falácias  de  suas  teologias.

O  Discurso  de  Bildade:  Em  seu  último  discurso,  Bildade  baseia-se  sucintamente  em  duas  proposições:

1.  Ninguém  pode  discutir  com  Deus  (Jó  25.2,3, 5,6); e 
2.  Ninguém  pode  afirmar  que  é  puro  diante  de  Deus  (Jó  25.4).

Estas  duas  proposições,  somadas  em  conjunto,  conduzem  à  seguinte  conclusão:  nem  de  longe,  Deus  ouviria  Jó.
Mas,  felizmente,  esta  conclusão  estava  errada.

A  Resposta  de  Jó:  Jó  fica  irritado  com  seus  amigos,  especialmente  com  Bildade  (Jó  26.1-4).  Ele  exalta  o  poder  de  Deus  (Jó  26.5-14),  mas  ainda  é  resoluto  na  confissão  de  sua   inocência  (Jó  27.1-6).  Embora  não  creia  na  doutrina  da  retribuição,  Jó  ainda  exprime  a  convicção  de  que,  no  final,  os  ímpios  hão  de  ser  punidos,  pois  Deus  é  Justo  e  misericordioso  (Jó  27.7-23).   

Jó  sabia  que  Deus  tinha  uma  reposta  a  tudo  aquilo;  ademais,  Ele  é  infinito  em  sabedoria;  Ele  é  o  detentor  perpétuo  dela  (Jó  28).  Somente  Ele  pode  resolver  as  questões  irrespondíveis  da  vida.

Contudo,  de  uma  coisa  Jó  tinha  certeza:  o  seu  sofrimento  não  se  devia  a  algum  pecado,  mas  continha  alguma  razão  mais  profunda  que  somente  Deus  conhecia  (Jó  29.1—31.40).

O  Discurso  de  Eliú

Findado  o  discurso  de  Jó,  os  seus  três  amigos  cessaram  de  respondê-lo  (cf.  Jó  32.1).  Então  Eliú,  um  jovem  que  estva  acompanhado  junto  dos  três  amigos  de  Jó para  escutá-los,  ficou  enfurecido.  A  sua  ira  devia-se  ao  fato  de  os  três  amigos  de  Jó  —  homens  idosos  —  não  terem  descobrido  a  razão  do  sofrimento  de  Jó;  todavia,  mesmo  assim  condenavam-no  (Jó  32.1—33.1-7).

Eliú  segue  a  cosmovisão  de  Bildade  quando  diz  que  não  podemos  pedir  explicações  a  Deus  por  aquilo  que  acontece  (Jó  33.12,13).  O  resultado  dessa  tese  seria  invariavelmente  o  mesmo:  Deus  não  ouviria  o  clamor  de  Jó.

Eliú  demonstrou-se  completamente  imparcial  em  seu  discurso.  Ele  foi  contra  a  atitude  dos  amigos  de  Jó,  e  os  reprimendou  (Jó  32.6-10),  mas  também  foi  contra  o  próprio  Jó,  e  o  repreendeu  severamente  (cf. Jó  34.5-9,  31-37).  

Para  Eliú,  aqueles  sofrimentos  faziam  parte  de  uma  disciplina  educacional  de  Deus  para  Jó.  Em  sua  percepção,  aquilo  era  sim  o  resultado  do  pecado  de  Jó  —  que  não  queria  reconhecer   isso  por  sua  arrogância  (Jó  35.14-16).  

Por  fim,  Eliú  descreve,  grosso  modo,  o  grande  poder  de  Deus,  com  o  objetivo  de  instigar  Jó  a  temê-lo  (Jó  36.1—37.24).

A  Resposta  do  Senhor

Quando  finalmente  todos  terminaram  de  arguir,  Deus  vem  em  um  redemoinho  e  responde  a  Jó  (Jó  38.1).  É  importante  salientarmos,  contudo,  que  a  resposta  de  Deus  não  pretendia  ser  uma  explicação  para  os  sofrimentos  de  Jó,  mas  sim  contrastar  a  Onipotência  de  Deus  com  a  impotência  de  Jó.  E  Deus  faz  isso  descrevendo  a  grandeza  da  Terra   (38.2-18),  a  complexidade  dos  céus  (38.19-38),  e  as  criaturas  que  Ele  criou  (38.39—39.30).  Tudo  isso  tornou  Jó  mais  humilde  (Jó  40.3-5),  e  fê-lo  reconhecer  que  Deus,  como  Senhor  e  Soberano,  está  numa  posição  infinitamente  maior  do  que Jó.  Como  disse  o  apóstolo  Paulo,  os  juízos  de  Deus  são  insondáveis;  e,  os  seus  caminhos,  inexcrutáveis  (Rm  11.33).

Agora  Jó  é  confrontado  pela  santidade  e  grandeza  do  Todo-Poderoso.  Os  resultados  são  notáveis:  Jó  perde  de  uma  vez  por  todas  as  noções  erradas  que  ele  tinha  sobre  Deus  (como  a  tirania  e  prepotência  divina,  por  exemplo).  Agora,  diz  ele,  Te  vêem  os  meus  olhos  (Jó  42.5).  Com  essa  experiência,  tudo  mudou!

Seguidamente,  Deus  repreende  os  três  amigos  de  Jó,  por  terem  falado ideias  errôneas  sobre  Ele  (Jó  42.7-9).  Mas  nada  diz  referente  a  Eliú.  Deus  não  confirma,  não  reconhece,  não  repreende,  nem  responde  a  Eliú.  

Enquanto  Jó  orava  pelos  seus  amigos,  Deus  mudou  o  seu  cativeiro  peremptoriamente  (Jó  42.10).  Deus  restituiu  tudo  em  dobro  a  Jó,  e  fê-lo  viver  por  mais  longos  dias  (Jó  42.12-17).


V.  Conclusão


Satanás  estava  errado.  Jó,  de  fato,  amava  a  Deus  incondicionalmente,  e  era  fiel  a  Ele,  mesmo  com  suas  inquietações  intensas  e  constantes.

Com  esta  história  épica  podemos  aprender  que:

•  Deus  é  Soberano,  e,  por  vezes,  não  conseguimos  entender  os  seus  caminhos.  Mas,  ainda  assim,  devemos  nos  sujeitar  a  Ele  e  repousar  em  Seu  infinito  amor  e  cuidado  para  conosco;

•  Devemos  ser  fiéis  a  Deus  a  qualquer  custo,  e  aconteça  o  que  acontecer;

•   Deus  galardoou  a  Jó;  e,  do  mesmo  modo,  galardoará  aos  fiéis,  porque,  quanto  mais  tribulações  passarmos,  maior  será  o  peso  de  glória  que  em  nós  será  revelado  na  eternidade  (2  Co  4.17).  Jamais  esqueça:  vale  a  pena  ser  fiel!

O  reconhecimento  de  Deus  a  Jó  não  se  limitou apenas a uma  geração  (cf.  Ez  14.14).    Deus  reconhece  o  fiel,  e  mantém  seu  compromisso  com  ele  para  sempre!


Por:  Daniel  Cardoso.


      

terça-feira, 26 de maio de 2020

O Sublime Amor de Cristo

         


                         Oh  que  amor  sublime,
                Constrangedor  e  insigne
               Esse  de  meu  Jesus,
           Demonstrado ricamente em Sua Cruz!


             Oh  que  amor  mais  infinito, 
             Consolador  e  bendito
             Sinto  agora  em  meu  Senhor;
             Nele  possuo  mui  glorioso  fulgor!
                       
             Oh  que  amor  profundo,
            Mais  profundo  que  o  mar;
            Mais  imenso  que  o  horizonte,
           Posso  nele  descansar!



             Esse  amor  tão   glorioso
            Mudou  todo  o  meu  viver;
            A  Salvação  e  Vida  Eterna
           Posso  nele  receber!



        Este  amor  maravilhoso,
       Só  em  Cristo  acharás;
       Tão sublime  e  tão  ditoso,
       Apenas  nEle  provarás!
                                                                                                                      D.S.C


domingo, 12 de abril de 2020

EXPERIMENTE O PODER DA RESSURREIÇÃO!



E,  na  verdade,  tenho  por  perda  também  todas  as  coisas,  pela  excelência  do  conhecimento  de  Cristo  Jesus,  meu  Senhor;  pelo  qual  sofri  a  perda  de  todas  estas  coisas  e  as  considero  como  esterco,  para  que  possa  ganhar  a  Cristo  e  ser  achado  nEle,  não  tendo  a  minha  justiça  que  vem  da  lei,  mas  a  que  vem  pela  fé  em  Cristo,  a  saber,  a  justiça  que  vem  de  Deus  pela  fé;  para  conhecê-lo,  assim  como  o  poder  da  Sua  Ressurreição,  e  a  comunicação  de  Suas  aflições,  sendo  feito  conforme  a  Sua  morte;  para  ver  se,  de  alguma  maneira,  eu  possa  chegar  à  ressurreição  dos  mortos   (Fp  3.8-11).

I.  Introdução

No  texto  em  apreço,  o  apóstolo  Paulo  fala  a  respeito  da  justificação  e  santificação  do  salvo. Ao  dissertar  sobre  a  primeira,  Paulo  fala  da  importância  dos  irmãos  não  se  vangloriarem,  mas  atribuirem  sempre  a  Cristo  a  causa  eterna  da  Salvação.  Para  isso,  cita  o  seu  exemplo  (Fp  3.2-9).  Já  na  dissertação  da  segunda,  Paulo  cita  o  seu  prosseguimento  rumo  à  perfeição,  num  processo  paulatino  de  crescimento  (Fp  3.12-16). 

Mas,  ao  falar  do  seu  progresso  como  cristão,  Paulo  exprime  de  modo  explícito  o  seu  desejo  de  conhecer  mais  a  Cristo  e  de  experimentar  em  sua  vida  literalmente  o  "poder  (gr.  dynamis)  da  Sua  ressurreição".  Mas  afinal,  o  que  de  fato  é  isso?

II.  O  Que  é  o  "Poder  da  Ressurreição"?

Uma   das  regras  de  hermenêutica  é  a  de  que  a  Bíblia  interpreta  a  própria  Bíblia.  Sendo  assim,  convém  analisarmos  se,  em  outros  textos,  o  apóstolo  Paulo  deixou  mais  informações  sobre  o  cognominado  "poder  da  Ressurreição".

Na  Epístola  aos  Efésios,  Paulo  escreve  sobre  este   mesmo  poder,  dizendo:
Não  cesso  de  dar  graças  a  Deus  por  vós,  lembrando-me   de  vós  nas  minhas  orações,  para  que  o  Deus  de  nosso  Senhor  Jesus  Cristo,  o  Pai  da  glória,  vos  dê  em  seu  conhecimento  o  espírito  de  sabedoria  e  revelação,  tendo  iluminados  os  olhos  do  vosso  entendimento,  para  que  saibais  qual  seja  a  esperança  da  Sua  vocação,  e  quais  as  riquezas  da  glória  da  Sua  herança  nos  santos,  e  qual  a  sobre-excelente  grandeza  do  Seu  poder  sobre  nós,  que  manifestou  em  Cristo,  ressuscitando-O  dos  mortos,  e  pondo-O  à  Sua  direita  nos  céus   (Ef  1.16-20).

Note  que  Paulo  cita  um  poder  cuja  grandeza  é  "sobre-excelente" ―  isto  é,  mais  do  que  excelente;  aquilo  que  tem  um  nível  supremo  de  excelência  ―  que  está  já  está  operando  nos  santos  do  Senhor.  No  decorrer  da  perícope,  Paulo  acrescenta-nos  uma  informação:  este  poder  que  hoje  já  opera  nos  salvos  foi  o  mesmo  poder  que  se  manifestou  sobre  Cristo,  fazendo-O  ressurgir  de  entre  os  mortos.  Mas  que  poder  insigne!  

Lembremo-nos  do  evento  impactante  que  foi  a  ressurreição.  Conquanto  muitas  vezes  seja  tratada  ou  falada  como  algo  trivial,  ela  é  o  pivô  da  nossa  esperança!  Foi,  deveras,  o  evento  mais  glorioso  da  história  até  o  momento.   Naquele  dia  o  poder  de  Deus  fez  com  que  uma  pedra  cujo  peso  era  de  4  toneladas, e  que  tinha  2,5  metros  de  diâmetro  e  33  centímetros  de  espessura  fosse  revolvida,  e  o  corpo  de  Cristo  fosse  glorificado  e  imediatamente  ressuscitado.  Isto  remete-nos  ao  fato  de  que  este  poder  só  pode  ser  incomensurável,  magnífico  e  explêndido!  Imaginemos,  pois,  a  sobre-excelente  grandeza  deste  poder,  que,  segundo  a  Escritura,  já  está  operando  nos  crentes!

O  que,  contudo,  este  poder  faz?  Qual  a  sua  respectiva  função  na  vida  do  cristão?   Sobre  isso,  o  apóstolo  Paulo  discorre  no  contexto  imediato  da  perícope.   Em  Efésios  2,  o  apóstolo  diz-nos  que  este  poder  começou  a  operar  em  nós  desde  o  momento  em  que  fomos  salvos:  E  vos  vivificou  [uma  referência  ao  poder  citado  em  Ef  1.19]   estando  vós  mortos  em  ofensas  e  pecados  (Ef  2.1).   Ou  seja,  desde  o  momento  em  que  recebemos  a  Cristo  como  Senhor  e  Salvador,  este  explêndido  e  incomensurável  poder  passa  a  operar  em  nós!

Para  entendermos  a  função  inicial  desta  virtude  dispensada  a  nós  por  Deus  Pai,  faz-se  necessário  reportarmos  à  criação  do  ser  humano  e  ao  seu  estado  original,  no  Éden,  ainda  num  contexto  paradisíaco.  A  Palavra  do  Senhor  revela  o  estado  de  plena  comunhão  com  Deus  que  estava  o  ser  humano  originalmente.  Ele  conversava  e  dialogava  com  o  próprio  Deus  todos  os  dias,  que  descia  do  Céu  na  viração   da  tarde  para  este  fim  (Gn  3.8).  Mas   com   o  pecado  encetado  na  humanidade,  a  morte  espiritual acometeu  a  todos  os  seres  humanos. Todos  nós   estavámos  mortos   ―  isto  é,  separados    de  Deus,  o  Soberano  Criador  do  Universo.  Foi  necessária,  então,  a  morte  expiatória  do  Filho  de  Deus,  um  Ser  inocente  e  Santo,  cuja  vida  foi  tirada  para  restaurar-nos  a  comunhão  com  o  Eterno,  e  propiciar-nos  salvação  e  remissão  dos  nossos  pecados,  pela  fé  em  Seu  nome.  Quando  O  aceitamos,  passamos  a  viver  novamente  para  Deus.  Ocorre  uma  vivificação  (ou  ressurreição,  como  queira  chamar),  e  nós,  que  estavámos   mortos  para  Deus,  passamos  a  viver  novamente  única  e  exclusivamente  para  Ele.  Deste  modo,  o  mesmo  poder com  que  Deus  ressuscitou  Jesus  de  entre  os  mortos  é  manifesto  na  vida  do  pecador  arrependido, que  passa  a  ressuscitar  de  sua  morte  espiritual  e  viver  novamente  para  Deus.  A  partir  daí  começa-se  o  glorioso  processo  efetuado  no  salvo  pelo  sobre-excelente  "poder  da  Ressurreição".

Mas  engana-se  quem  pensa  que  a  atuação  deste  poder  termina  por  aí.  Pois,  assim  como  o  poder  emanado  do  Pai  não  só  ressuscitou  a  Jesus,  como  também  fê-lo  ascender  ao  Céu,  glorificado  (Ef  1.20), com  o  salvo  não  há  de  ser  diferente.   O  magnífico  "poder  da  Ressurreição"  há  de  ser  manifesto  cada  vez  mais  intensamente  no  salvo, até  o  dia  em  que  estivermos  "assentados  nos  lugares  celestiais  em  Cristo"  (Ef  2.6,7),  já  glorificados.   Naquele  dia  perceberemos  efetivamente  a  excelssitude  desse  poder  emanado  de  Deus.  Contudo,  ainda  assim,  a  Escritura  nos  faz  um  convite:  perceba   este  poder  desde  já  em  sua  vida  cristã;  sinta-o!  Este  era,  deveras,  o  desejo  do  apóstolo  Paulo,  tanto  para  os  efésios  (Ef  1.16-19),  quanto  para  si  mesmo  (Fp  3.8-11).

III.  Sentindo  o  Poder  da  Ressurreição

O  resultado  de  uma  vida  cristã  cercada  pelo  vivo  poder  da  Ressurreição  é,  sem  dúvida  alguma,  uma  inexorável  certeza  da  Salvação  e  um  gozo  inexprimível  pelo  Céu.   Este  glorioso  poder  conferido  a  nós  pelo  Deus  Pai  pode  ser  sentido  por  todo  salvo;  contudo,  para  isso  é  necessário  que  o  Pai  Celestial  ilumine  nossos  olhos  espirituais,  para,  deste  modo,  notarmos  o  poder  que em nós  tem  operado,  e  o  sentirmos.  Paulo  orava  incessantemente  para  que  o  Altíssimo  assim  fizesse  nos  efésios. E,  conforme  vimos  no  texto  de  Filipenses  3.8-11  ss,  Paulo  anelava  para  que  ele  mesmo  pudesse  sentir  esta  gloriosa  virtude.  É  interessante  notarmos,  ainda,  que  o  apóstolo  fala  sobre  o  sentimento  deste  poder  como  um  avanço  na  comunhão  espiritual  do  crente  com  Deus.  É  algo,  por  conseguinte,  que  vale  a  pena  ser  buscado.

Precisamos  saber  que  este  poder  já  está  operando  em  nós.  Ele  está  nessa  operação  desde  o  dia  em  que  fomos  salvos.  Contudo,  para  ele  ser  sentido,  faz-se  necessário  buscar isso da  parte  do  Senhor. 

Saiba  que  Deus  deseja  que  você  sinta  este  poder.  Isso  lhe trará  grande  edificação  espiritual,  além  de  uma  inexorável  certeza  de  que  o  mesmo  poder  que  ressuscitou  a  Jesus  há  2.000  atrás,  é  o  mesmo  que  está  hoje  operando  em  sua  vida,  até  a  glorificação.  Cabe  a  todos  nós,  portanto,  desejar  "ir  além"  do  nosso  nível  espiritual  (cf.  Ez  47)  e  progredirmos  em  nossa  comunhão  com  o  Senhor,  desejando  melhor  conhecê-Lo,  assim  como  Paulo.

IV.   Conclusão

Hoje  comemora-se  internacionalmente  a  Páscoa.  Nela  comemoramos  a  Ressurreição  de  nosso  Senhor  Jesus  Cristo. Nos  regozijamos  em  saber  que  Ele  está  vivo,  e  que  a  morte  não  O  venceu.  Por  isso,  convém  ser  frisado  que,  acima  de  tudo,  o  cognominado  "poder  da  Ressurreição"  concede  uma  inedelével  convicção  de  que  o  nosso  Senhor  ressuscitou;  pois  sentimos  o  poder  que   operou  a  Ressurreição  em  nossa  vida  cristã  diária.  Regojizemo-nos,  pois,  no  Senhor;  e  peçamos-Lhe  esta  tão  grande  e  magnífica  experiência:  sentir  o  poder  da  Ressurreição,  que  tem  operado  em  nós!

Por:  Daniel  Cardoso.     
  


   



sábado, 4 de abril de 2020

O ABSURDO DA VIDA SEM DEUS


I.  A  Diferença  Peremptória  

Existe  uma  diferença  peremptória  se  Deus  existe  ou  não.  Uma  diferença  definitiva,  contundente  e  cabal. Se  Deus  não  existe ― como  insinua  veementemente  a  cosmovisão  ateísta  ―  absolutamente  tudo  na  vida  humana  passa  a  não  ter  sentido  algum.  Sentidovalor  e  propósito ―  os  três  elementos  que  dão  significado  à  existência  humana  ―  seriam,  em  última  análise,  meras  ilusões  humanas.  Dado  o  ateísmo,  tudo  vira  "conjectura"  e  ilusão  subjetiva:  só  há  aparência  de  sentido,  aparência  de  valor  e  aparência  de  propósito para  a  vida;  mas  estes,  na  realidade,  não  existem.  Em  última  instância,  a  vida  seria,  simplesmente,  um  enorme  absurdo.

A  diferença  peremptória  que  refiro-me  não  diz  respeito  exatamente  à  "felicidade" de  uma  vida  com  ou  sem  Deus   a  despeito  de  que,  se  levarmos  o  ateísmo  às  últimas consequências,  não  haveria  felicidade  alguma.  Mas a diferença  que  referi-me  diz,  mais  precisamente,  respeito  a  um  sentido  último para  a  vida  humana,  que  acaba  sendo  destituído do  ser  humano  na  cosmovisão  ateísta.      

Somente  Deus  pode  dar  um  "télos"  à  vida  humana,  e  um  sentido,  valor  e  propósito  objetivos  para  ela.  Para  demonstrar  isso,  elucidaremos  no  próximo  tópico  concernente  a  o  que  é  necessário  para  que  a  vida  humana  tenha  um  sentido  último.

II.  O  Necessário  Para  Que  a  Vida  Tenha  Sentido

Em  linhas  gerais,  para  que  haja  sentido  na  vida  humana  é  necessário  indubitavelmente Deus  e  a  imortalidade.  O  ponto  culminante  é  que  tanto  um  como  outro  não  existem  na  cosmovisão  ateísta,  desprovendo  a  vida  de  um  propósito  completamente.

Vamos  trabalhar  as  duas  questões:

A   Imortalidade

Existiria  algum  sentido  último  num  mundo  em  que  tudo  acaba?  Absolutamente  não.  E,  se  Deus  não  existir  ―  como  propala  o  ateísmo  ―  tanto  o  homem  quanto  o  universo  estão  inevitavelmente  fadados  à  morte.   Sem  a  esperança  da  imortalidade,  a  vida  humana  caminha  apenas  para  a  cova.  A  vida  humana  não  passa  de uma  faísca  na  escuridão  infinita,  uma  faísca  que  aparece,  emite  uma  trêmula  chama  e  logo  se  extingue  para  sempre.    

O  próprio  Universo  haveria  de  enfrentar  a  morte  a  seu  próprio  modo.  De  acordo  com a   Ciência,  o  Universo  está  se  expandindo  e  as  galáxias  estão  cada  vez  mais  se  distanciando. À  medida  que  isso  ocorre,  vai  ficando  cada  vez  mais  frio  ― e   isso  tudo  à  medida  que  se  consome  energia. Um  dia  todas  as  estrelas  se  apagarão,  e  toda  matéria  será  atraída  por  estrelas  mortas  e  buracos  negros.  Não  haverá  mais  luz,  nem  calor,  nem  vida;  somente  estrelas  mortas  e  galáxias  expandindo-se  cada  vez  mais  para  dentro  da  escuridão  sem  fim  dos  frios  intervalos  de  tempo.  Será um  Universo  em  ruínas!

Isto  não  é  nenhuma  espécie  de "ficção"  científica:  isso  realmente  vai  acontecer,  a  menos  que  Deus  intervenha.  Mas,  partindo  do  pressuposto  ateísta  ―  em  que  Deus  não  existe  ―  isto  inelutavelmente  vai  acontecer.  Então,  em  última  análise:  tudo,  absolutamente  tudo  à  nossa  volta  está  fadado  à  extinção  perpétua.   

Portanto,  se  toda  pessoa  deixa  de  existir  quando  morre,  então  que  sentido  último  há  em  viver?  Será  que  faz  alguma  diferença  no  final  ter  ou  não  sequer  existido? Sem  a  imortalidade,  absolutamente  não.  

O  filósofo  cristão  William  Lane  Craig  aborda  esta  questão  do  seguinte  modo:

[sem  a  imortalidade]  a  humanidade  não  tem  mais  sentido  do  que  um  enxame  de  mosquitos  ou  um  punhado  de   porcos,  pois  o  final  de  todos  é  o  mesmo.  O  mesmo  processo  cósmico  cego,  do  qual  eles  resultaram,  vai,  no  fim  de  tudo,  tragá-los  de  volta.  As  contribuições  de  um  cientista  para  o  avanço  do  conhecimento  humano,  as  pesquisas  para  aliviar  a  dor  e  diminuir  o  sofrimento,  os  esforços  diplomáticos  para  garantir  a  paz  mundial, os  sacrifícios  feitos  por  pessoas  de  bem,  em  todo  o  mundo,  para  melhorar  a  sorte  da  raça  humana  ―  tudo  isso  resultará  em  nada.  E  este  é  o  horror  do  homem  moderno:  por  ele  acabar  em  nada,  ele  nada  é. 
 É  importante  entendermos,  contudo,  que  não  é  somente  da  imortalidade  que  o  homem  precisa  para  que  a  sua  vida  faça  sentido.  A  mera  "duração  da  existência",  de  per  si,  não  é  suficiente  para  dar  uma  finalidade   última  à  existência  humana.  Precisamos  de  Deus!

Deus

Sem  Deus,  ainda  que  fôssemos  imortais,  viveríamos  uma  vida  completamente   sem  sentido.  Ademais,  "viver  eternamente"  sem  fins  objetivos  é  simplesmente  "viver  por  viver".  

Para  ilustrar,  existe  uma  estória  de  ficção  científica  em  que  um  astronauta  foi  abandonado  em  um  estéril  pedaço  de  rocha  perdido  no  espaço  sideral.  Ele  trazia  consigo  dois  frascos:  um  com  veneno;  e  o  outro,  por  sua  vez,  com  uma  porção  que  lhe  faria  viver  para  sempre.  Imediatamente,  o  astronauta  ―  impelido  pela  tristeza  em  pensar  no  futuro  que  lhe  aguardava ―  tomou  o  frasco  de  veneno.  Mas,  para  seu  horror,  o  pobre  homem  descobriu  que  tinha  bebido  o  frasco  errado: ele  tinha  tomado  a  porção  que  lhe  tornaria  um  imortal!  E  isso  significa  que  ele  estava  fadado  a  viver  uma  vida  perpétua,  porém  sem  sentido,  de   dor  e  sofrimento.

Portanto,  o  homem  não  precisa  apenas  da  imortalidade  para  que  haja  um  sentido  último  para  viver:  ele  precisa  de  Deus  e  da  imortalidade.  E  se  Deus  não  existir,  ele  não  tem  nem  uma  coisa  nem  outra.


III.  E  Os  Valores?

Sem  Deus  e  a  imortalidade,  não  existem  valores  morais  objetivos.  Pois,  se  a  vida  termina  e  extingue-se  para  sempre,  então  não  faz  a  menor  diferença  se  você  vive  como  um  Stalin  ou  como  uma  madre  Teresa  de  Calcutá,  visto que  o  seu  destino  não  possui  qualquer  relação  final  com  o  seu  comportamento.  Pessoas  boas  e  pessoas  más  teriam  o  mesmo  destino  final:  a  extinção  perpétua.  Logo,  por  que  não  viver  perfeitamente  como  bem  entender?

Para  exemplificar,  leia  a  seguir  o  relato  do  pastor  Richard  Wurmbrand,  que  foi  torturado  por  sua  fé  pelos  seus  algozes  na  prisão  russa:

É  difícil  acreditar  na  crueldade  do  ateísmo  quando  não  se  crê  na  recompensa  do  bem  ou  na  punição  do  mal.  Não  há  motivos  para  ser  humano.  Não  há  limites  para  as  insondáveis  profundezas  do  mal  que  se  encontram  dentro  do  homem.  Os  torturadores  comunistas  costumavam  dizer:  "Não  há  Deus,  não  há  outra  vida,  não  há  punição  para  o  mal.  Podemos  fazer  o  que  quisermos."  Ouvi  até  mesmo  um  torturador  dizer:  "Agradeço  a  Deus,  em  quem  não  acredito,  por  ter  vivido  para  colocar  para  fora  todo  o  mal  que  trago  em  meu  coração."  Ele  disse  essas   palavras  em  meio  a  uma  inacreditável  brutalidade,  enquanto  torturava  prisioneiros. 

Mas  há  um  problema  ainda  maior:  se  Deus  não  existe,  então  não  há  um  padrão  objetivo  do  que  seja  certo  ou  errado;  pois qual  é  o  parâmetro  que  usaremos  para  julgar  uma  ação  boa  ou  má?   Se  não  existe  um  padrão  universal  perfeito,  então  não  há  como  condenar  qualquer  ação  dita  como  ruim;  pois,  se  a  condenarmos,  estaremos  fazendo  isso  a  partir  de  qual  padrão?  Qual  parâmetro?  Se  é  tão-somente  pelo  nosso,  por  que  isso  deve  necessariamente  valer  para  outra  pessoa?
Somente  a  existência  de  Deus  pode  explicar  e  justificar  os  valores  morais.  Sem  ela,  tudo  vira  subjetivo,  e,  portanto,  sem  valor  universal  nenhum.  

Talvez  você  possa  responder  citando  a  declaração  de  Aristóteles:  tudo  que  o  homem  tem  instintivamente  por  correto  é  uma  verdade  natural ―  e  com  isso  dizer  que  a  noção  da  moralidade  é  intrínseca  ao  ser  humano;  portanto,  ele  deveria  prezar  por  ela  simplesmente  por  ser  uma  verdade  natural.  Mas,  se  a  noção  da  moralidade  é  "inerente  ao  ser  humano",  e  está  gravada  em  sua  consciência,  quem  a  colocou  lá?  
Pode-se  chamar  isso  de  Lei  Moral   ―  porquanto  está  definitivamente  gravada  dentro  de  nós;  de  sorte  que  a  consciência  acusa-nos  quando  a  infligimos  e  tranquiliza-nos  quando  a  cumprimos.  Contudo, somente  um  Ser  sobrenatural  poderia  ter  gravado  tal  lei  em  nós,  e  nos  dado  a  noção  básica  de  Suas  leis  santas.

Por  fim,  sem  Deus  não  há  como  justificar  e  muito  menos  explicar  a  moralidade;  porquanto  ela  é  transcedente,  servindo  inclusive  de  uma  evidência  poderosa  para  a  existência  de  Deus. 


 IV.  Ateísmo  X  Teísmo  Cristão

Na  cosmovisão  ateísta,  assustadoramente,  não  há  sentido  para  a  vida  humana. Somos  mero  subproduto  acidental  da  natureza.  Não  há  razão  para  nossa  existência.

A  consequência  lógica  trágica  de  uma  visão  de  mundo  ateísta  é  o  niilismo   ―  doutrina  filosófica  que  rejeita  radicalmente  às  tentativas  de  se  estabelecer   sentido, valor  e  propósito  à  vida  humana;  pois,  segundo  ela,  não  há   nenhum  sentido  ou  utilidade  na  existência.  

Não  por  acaso,  filósofos  como  Friedrich  Nietzsche  (niilista),  Jean-Paul  Sartre  e  Albert  Camus  ―  que eram  ateus  e  mergulharam  profundamente  nas  implicações  lógicas  do  ateísmo  ―  diziam  em  amiúde  que  a  vida  não  possui  nenhum  sentido. Um  deles,  Sartre   um  dos  maiores  nomes  do  ateísmo  existencialista ― chegava  a  dizer  que  o  homem  era  apenas  uma  "paixão  inútil"  neste  mundo;  apenas  um  ser  insignificante  e  estupidamente  destinado  à  morte.   
O  filósofo  ateu  Bertrand  Russel  (1872-1970),  ao  negar  a  existência  de  Deus,  afirmou  que  sua  visão  de  mundo  era  simplesmente  "inacreditável";  nem  eu  não  sei  a  solução  ―  confessou.  Sem  Deus,  esvai-se  toda  motivação  em  viver!  

Mas  então  como  há  ateus  felizes?  ―  você  pode  perguntar.  A  resposta  é  simples:  de  acordo  com  o  próprio  Pascal,  por  nos  ocuparmos  com  atividades  e  entretenimento,  nós  não  pensamos  sobre  o  "absurdo  da  vida"  e  sobre  a  "falta  de  sentido"  que  nos  rodeia.  De  fato,  seria  necessário  uma  séria  reflexão  filosófica  para   percebê-las.  E  grande  parte  das  pessoas  não  pausam  para  pensar  seriamente  ou  fazer  uma  reflexão  estritamente  filosófica  sobre  essas  questões,  mas  apenas  embaraçam-se  com  a  rotina  e  com  os  casuais  eventos  da  vida.  Isso  explica,  grosso  modo,  porque  muitas  pessoas  ateias  não  levam as  implicações  lógicas  do  ateísmo  à  vida  prática.  

E  do  Teísmo  Cristão,  quais  são  as  implicações  lógicas? As  implicações  trazem  consigo  um  consolo  e  paz  inexprimível,  e  carregam  em  si  mesmas  um  sentido,  valor  e  propósito  objetivos  para  a  vida  humana:  elas  significam  que  existe  um  Criador  e  Sustentador  do  Universo,  um  Ser  Supremo  por  excelência;  um  Ser  de  máxima  grandeza,  Infinito  em  glória  e majestade.  Esse  Ser  Bendito  é  a  fonte  dimanante  de  toda  bondade  existente  no  cosmos.  Ele  ama  inenarravelmente  os  seres  humanos,  e  quer  trazê-los  a  um  relacionamento  profundo  com  Ele,  para  sempre.  Destarte,  isso  significa  que  existe  um  propósito  objetivo  para  o  qual  fomos  criados;  e  que,  intrinsicamente,  os  seres  humanos  são  valiosos  e  possuem  obrigações  morais  a  serem  cumpridas,  como  amar  seu  próximo  e  ajudar  a  aliviar  a  dor  e  o  sofrimento  humano. 
Significa, ainda,  que  Deus  tem  um  propósito  para  você  cumprir  nesta   vida!

Na  Cosmovisão  Cristã,  o  homem  desviou-se  do  propósito  original  para  o  qual   Deus  o  criou. Ele  fez  isso  quando  virou  as  costas  para  Deus,  através  do  pecado.  Mas  através  de  Jesus  Cristo  o  nosso  relacionamento  com  Deus  é  restaurado,  e  podemos,  assim,  viver  uma  vida  em  comunhão  com  Ele  enquanto  estivermos  na  Terra;  e,  na  eternidade,  vivermos  para  sempre  junto  dEle,  numa  alegria  e  glória  indizíveis. 

Sem  dúvidas,  a  cosmovisão  teísta-cristã  é  indubitavelmente  preeminente   sobre  o  ateísmo.  


V.  Conclusão

Por  fim,  sinteticamente,  Richard  Dawkins  ―  considerado  um  dos  "quatro  cavaleiros  do  Ateísmo"  ― descreve   o  valor  do  ser  humano  na  cosmovisão  ateísta:  No  final  não  há  nenhum  design,  nenhum  propósito,  nenhum  mal,  nenhum  bem,  nada  mais  do  que  uma  insípida  indiferença  [...]  Somos  máquinas  para  a  propagação  do  DNA  [...]  Essa  é  a   única  e  exclusiva  razão  de  cada  ser  vivo  existir.  
Não  se  faz  necessário  nem  demarcar  a  deprimente  avaliação do  ateu  Richard  Dawkins  quanto  ao  valor  do  ser  humano... 
Concluimos,  portanto,  que  a  existência  de  Deus  faz-se  necessária  para  nós.  Sem  Deus,  a  vida  humana  seria  absurda  ― se  é  que  haveria  vida!

  Não  quero  por  meio  dessa  abordagem  insinuar  que  um  ateu  veja  a  vida  como  algo  maçante,  sem  sentido,  ou  que  ele  não  tenha  propósitos  pessoais,  ou  leve  uma  vida  imoral,  etc.,  mas  sim  dizer  que,  sem a existência de  Deus,  a  vida  humana  é,  em  última  análise, absurda e totalmente  destituída  de  quaisquer  tipos  de  sentido,  valor  ou  propósito.  É  por  implicações  lógicas  como  essa  que  a  Bíblia  define  terminantemente  o  ateísmo  como  loucura,  tanto  perante  Deus  quanto  perante  os  homens  (Sl  14.1;  53.1).

Por:  Daniel  Cardoso.

REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS:

CRAIG,  W.L.   Em  Guarda:  Defenda  a  Fé  Cristã  com  Razão  e  Precisão.  São  Paulo:  Vida  Nova,  2011.

COSTA,  J.M.  Provas  da  Existência  de  Deus.  1ª  ed.  Rio  de  Janeiro:  Central  Gospel,  2016.    

             

  


    

   




   

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