E, na verdade, tenho por perda também todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo e ser achado nEle, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; para conhecê-lo, assim como o poder da Sua Ressurreição, e a comunicação de Suas aflições, sendo feito conforme a Sua morte; para ver se, de alguma maneira, eu possa chegar à ressurreição dos mortos (Fp 3.8-11).
I. Introdução
No texto em apreço, o apóstolo Paulo fala a respeito da justificação e santificação do salvo. Ao dissertar sobre a primeira, Paulo fala da importância dos irmãos não se vangloriarem, mas atribuirem sempre a Cristo a causa eterna da Salvação. Para isso, cita o seu exemplo (Fp 3.2-9). Já na dissertação da segunda, Paulo cita o seu prosseguimento rumo à perfeição, num processo paulatino de crescimento (Fp 3.12-16).
Mas, ao falar do seu progresso como cristão, Paulo exprime de modo explícito o seu desejo de conhecer mais a Cristo e de experimentar em sua vida literalmente o "poder (gr. dynamis) da Sua ressurreição". Mas afinal, o que de fato é isso?
II. O Que é o "Poder da Ressurreição"?
Uma das regras de hermenêutica é a de que a Bíblia interpreta a própria Bíblia. Sendo assim, convém analisarmos se, em outros textos, o apóstolo Paulo deixou mais informações sobre o cognominado "poder da Ressurreição".
Na Epístola aos Efésios, Paulo escreve sobre este mesmo poder, dizendo:
Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e revelação, tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da Sua vocação, e quais as riquezas da glória da Sua herança nos santos, e qual a sobre-excelente grandeza do Seu poder sobre nós, que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dos mortos, e pondo-O à Sua direita nos céus (Ef 1.16-20).
Note que Paulo cita um poder cuja grandeza é "sobre-excelente" ― isto é, mais do que excelente; aquilo que tem um nível supremo de excelência ― que está já está operando nos santos do Senhor. No decorrer da perícope, Paulo acrescenta-nos uma informação: este poder que hoje já opera nos salvos foi o mesmo poder que se manifestou sobre Cristo, fazendo-O ressurgir de entre os mortos. Mas que poder insigne!
Lembremo-nos do evento impactante que foi a ressurreição. Conquanto muitas vezes seja tratada ou falada como algo trivial, ela é o pivô da nossa esperança! Foi, deveras, o evento mais glorioso da história até o momento. Naquele dia o poder de Deus fez com que uma pedra cujo peso era de 4 toneladas, e que tinha 2,5 metros de diâmetro e 33 centímetros de espessura fosse revolvida, e o corpo de Cristo fosse glorificado e imediatamente ressuscitado. Isto remete-nos ao fato de que este poder só pode ser incomensurável, magnífico e explêndido! Imaginemos, pois, a sobre-excelente grandeza deste poder, que, segundo a Escritura, já está operando nos crentes!
O que, contudo, este poder faz? Qual a sua respectiva função na vida do cristão? Sobre isso, o apóstolo Paulo discorre no contexto imediato da perícope. Em Efésios 2, o apóstolo diz-nos que este poder começou a operar em nós desde o momento em que fomos salvos: E vos vivificou [uma referência ao poder citado em Ef 1.19] estando vós mortos em ofensas e pecados (Ef 2.1). Ou seja, desde o momento em que recebemos a Cristo como Senhor e Salvador, este explêndido e incomensurável poder passa a operar em nós!
Para entendermos a função inicial desta virtude dispensada a nós por Deus Pai, faz-se necessário reportarmos à criação do ser humano e ao seu estado original, no Éden, ainda num contexto paradisíaco. A Palavra do Senhor revela o estado de plena comunhão com Deus que estava o ser humano originalmente. Ele conversava e dialogava com o próprio Deus todos os dias, que descia do Céu na viração da tarde para este fim (Gn 3.8). Mas com o pecado encetado na humanidade, a morte espiritual acometeu a todos os seres humanos. Todos nós estavámos mortos ― isto é, separados de Deus, o Soberano Criador do Universo. Foi necessária, então, a morte expiatória do Filho de Deus, um Ser inocente e Santo, cuja vida foi tirada para restaurar-nos a comunhão com o Eterno, e propiciar-nos salvação e remissão dos nossos pecados, pela fé em Seu nome. Quando O aceitamos, passamos a viver novamente para Deus. Ocorre uma vivificação (ou ressurreição, como queira chamar), e nós, que estavámos mortos para Deus, passamos a viver novamente única e exclusivamente para Ele. Deste modo, o mesmo poder com que Deus ressuscitou Jesus de entre os mortos é manifesto na vida do pecador arrependido, que passa a ressuscitar de sua morte espiritual e viver novamente para Deus. A partir daí começa-se o glorioso processo efetuado no salvo pelo sobre-excelente "poder da Ressurreição".
Mas engana-se quem pensa que a atuação deste poder termina por aí. Pois, assim como o poder emanado do Pai não só ressuscitou a Jesus, como também fê-lo ascender ao Céu, glorificado (Ef 1.20), com o salvo não há de ser diferente. O magnífico "poder da Ressurreição" há de ser manifesto cada vez mais intensamente no salvo, até o dia em que estivermos "assentados nos lugares celestiais em Cristo" (Ef 2.6,7), já glorificados. Naquele dia perceberemos efetivamente a excelssitude desse poder emanado de Deus. Contudo, ainda assim, a Escritura nos faz um convite: perceba este poder desde já em sua vida cristã; sinta-o! Este era, deveras, o desejo do apóstolo Paulo, tanto para os efésios (Ef 1.16-19), quanto para si mesmo (Fp 3.8-11).
III. Sentindo o Poder da Ressurreição
O resultado de uma vida cristã cercada pelo vivo poder da Ressurreição é, sem dúvida alguma, uma inexorável certeza da Salvação e um gozo inexprimível pelo Céu. Este glorioso poder conferido a nós pelo Deus Pai pode ser sentido por todo salvo; contudo, para isso é necessário que o Pai Celestial ilumine nossos olhos espirituais, para, deste modo, notarmos o poder que em nós tem operado, e o sentirmos. Paulo orava incessantemente para que o Altíssimo assim fizesse nos efésios. E, conforme vimos no texto de Filipenses 3.8-11 ss, Paulo anelava para que ele mesmo pudesse sentir esta gloriosa virtude. É interessante notarmos, ainda, que o apóstolo fala sobre o sentimento deste poder como um avanço na comunhão espiritual do crente com Deus. É algo, por conseguinte, que vale a pena ser buscado.
Precisamos saber que este poder já está operando em nós. Ele está nessa operação desde o dia em que fomos salvos. Contudo, para ele ser sentido, faz-se necessário buscar isso da parte do Senhor.
Saiba que Deus deseja que você sinta este poder. Isso lhe trará grande edificação espiritual, além de uma inexorável certeza de que o mesmo poder que ressuscitou a Jesus há 2.000 atrás, é o mesmo que está hoje operando em sua vida, até a glorificação. Cabe a todos nós, portanto, desejar "ir além" do nosso nível espiritual (cf. Ez 47) e progredirmos em nossa comunhão com o Senhor, desejando melhor conhecê-Lo, assim como Paulo.
IV. Conclusão
Hoje comemora-se internacionalmente a Páscoa. Nela comemoramos a Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Nos regozijamos em saber que Ele está vivo, e que a morte não O venceu. Por isso, convém ser frisado que, acima de tudo, o cognominado "poder da Ressurreição" concede uma inedelével convicção de que o nosso Senhor ressuscitou; pois sentimos o poder que operou a Ressurreição em nossa vida cristã diária. Regojizemo-nos, pois, no Senhor; e peçamos-Lhe esta tão grande e magnífica experiência: sentir o poder da Ressurreição, que tem operado em nós!
Por: Daniel Cardoso.