segunda-feira, 8 de novembro de 2021

O PERIGO DO CRISTIANISMO EMOCIONAL

 

Ultimamente, tenho notado muito o prejuízo causado pela ausência de compreensão correta no que diz respeito ao lugar das emoções na vida cristã. 

Digo isso começando por minha própria experiência. Muitas vezes, vivi uma espécie de  "cristianismo emocional" — o que é bastante comum de certa forma, especialmente quando estamos no início de nossas caminhadas na fé. Nessa fase, as emoções são geralmente valorizadas em extremo. O perigo de andarmos pelo que sentimos, ao invés de pelo que cremos, é simplesmente enorme.

Podemos ver vários exemplos disso na prática. Muitos cristãos afligem-se ao não sentirem nada quando oram. Eles acreditam que todas as orações devem ser acompanhadas de algum tipo de êxtase emocional. Outros, afligem-se quando confessam seus pecados e não se "sentem perdoados".  Neste caso, eles acreditam que a garantia do perdão divino está no sentir. Não à toa, numerosos cristãos já tiveram crises quanto à sua salvação por não se sentirem salvos.

Existem ainda os casos daqueles que possuem a chamada "consciência escrupulosa", e chamam de pecado tudo aquilo que desconforta seus sentimentos. Se suas emoções são levemente perturbadas, a reação imediata é dizer que pecaram.

E o que dizer dos casos em que cristãos vivem por mensagens divinas recebidas através de sentimentos? Especialmente em meios pentecostais, não são incomuns expressões como "sentir de Deus".  Na verdade, elas são mais comuns do que se imagina. Acontece que os sentimentos não são uma fonte totalmente confiável, e é justamente nisso onde reside o perigo de se deixar conduzir por eles.   

O que deve nos guiar, afinal? São as nossas emoções? São elas o critério para sabermos a vontade de Deus, ou para sabermos se Ele está conosco, ou para sabermos que Ele nos perdoa?

Deixe que a Escritura responda. Em lugar nenhum dela é dito que o justo deveria andar ou viver por seus sentimentos. É pela fé que vivemos (Romanos 1.17; II Coríntios 5.7). É desastroso quando deixamos de viver pelo que sabemos para vivermos pelo que sentimos. 

A preocupação essencial da Escritura aos crentes é muito mais que eles saibam das promessas divinas do que necessariamente que eles as sintam. João não disse que escrevia sua epístola para que os cristãos "sentissem que possuem a vida eterna", mas sim para que soubessem disso com plena certeza (I João 5.13). Sua linguagem é contundente: "Sabemos que somos de Deus" (5.19); "Sabemos que Ele cuida de nós" (3.14); "Sabemos que o conhecemos" (2.3), etc. 

As bênçãos do perdão e da presença constante de Cristo estão baseadas em promessas. Deus garantiu o perdão com base em Sua própria fidelidade: "Ele é fiel ... para nos perdoar" (I João 1.7).  Semelhantemente, Cristo garantiu-nos Sua presença constante ao prometer que estaria conosco em todos os dias (Mateus 28.19). Sentindo você ou não, a fidelidade de Deus não pode ser  anulada.

Viva por certezas. Nossas emoções variam a todo momento. Nossas emoções estão afetadas pelo pecado. Viver por elas é viver em inconstância. Para sermos constantes e firmes, precisamos nos firmar no sólido fundamento divino: as Escrituras. A Palavra de Deus é o nosso único guia seguro, através de suas "grandíssimas e preciosas promessas" (II Pedro 1.4). Firme-se nelas! Este é o segredo de uma vida cristã vitoriosa, frutífera e constante.  


terça-feira, 10 de agosto de 2021

CERTITUDO SALUTIS

 "Certitudo Salutis" —   A Certeza da Salvação 

                             

1. O que as Escrituras dizem sobre a certeza da salvação? 

Primeiramente, que ela é plenamente possível. Ela pode ser vista diversas vezes na vida dos personagens bíblicos e dos primeiros cristãos. Às vésperas da morte, Paulo não tinha receio algum em afirmar que "a coroa da justiça" lhe estava reservada pelo Senhor, e que ele, com toda certeza, a receberia (2Timóteo 4.6-8). João expressou total segurança ao escrever aos crentes: "Sabemos que já passamos da morte para a vida" (1João 3.14). O que deu ao apóstolo tamanha certeza? Certamente, as palavras que ouviu do próprio Cristo: "aquele que ouve a Minha Palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna. Não entrará em condenação. Já passou da morte para a vida" (João 5.24). Observe como esta certeza é usada com relação ao passado, ao presente e ao futuro daquele que crê em Jesus:  

(1) Passado: "já passou da morte para a vida".

(2) Presente: "tem a vida eterna". 

(3) Futuro: "Não entrará em condenação". 

 Que segurança para o presente e para toda a eternidade! 

De forma semelhante ao que aprendeu com seu Senhor, João apresentou em sua primeira epístola uma total segurança aos crentes em Cristo. Na verdade, este era inclusive o objetivo maior de sua carta: "Estas coisas vos escrevi para que saibas que tendes a vida eterna" (5.13). A segurança apresentada também abrangia o passado, o presente e o futuro. O passado, pois já passamos da morte para a vida (3.14).  O presente, pois definitivamente "sabemos que O conhecemos" (2.3), "sabemos que Nele estamos" (2.5), "sabemos que Ele tem cuidado de nós" (3.14) e "sabemos que somos de Deus" (5.19).  Finalmente, o futuro, pois também sabemos que "quando Ele vier, seremos como Ele é" (3.2). 

A certeza estava baseada diretamente na garantia fornecida por Cristo. Ele prometeu salvação a todo aquele que, arrependido de seus pecados, crer Nele com todo seu coração (João 6.40,47; Marcos 1.15). Ninguém que fizer isso será rejeitado por Ele (João 6.37). As Escrituras são claras: "Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (Romanos 10.11). O vocábulo "invocar" possuía literalmente o sentido de "implorar misericórdia" — neste caso, devido à convicção de pecado. Os pecadores arrependidos podem descansar confiantemente na obra efetuada por Cristo na cruz. Podem ter total certeza da salvação,  graças ao Seu sacrifício. 

Ousadamente, a Escritura conclama o salvo a "tomar posse da vida eterna" (1 Timóteo 6.12) — isto é, da certeza, da convição e da segurança da vida em Cristo. 

2. Objeções à certeza da salvação: 

2.1.  "A certeza da salvação conduz ao relaxamento espiritual". Nada poderia estar mais errado. Se existe algo que estimula o salvo é a segurança de que ele pertence a Cristo e de que com Ele estará por toda a eternidade! E que ingratidão absurda seria retribuir tamanho bem com uma vida espiritual relaxada ou negligente! Quanto amor, quanta graça, quanto sangue, quanta misericórdia seriam desprezados e pisoteados! Como dizia John Owen: "É assim que retribuirei o Pai por Seu amor, o Filho por Seu sangue, e o Espírito Santo por Sua graça?".  

O salvo é motivado por esse amor e gratidão, e não pelo medo. Na verdade, o maior motivo apresentado por Paulo aos coríntios para que não pecassem é justamente o fato de terem sido salvos: "Vós haveis sido lavados, haveis sido santificados, haveis sido justificados [...]  [e]  fostes comprados por bom preço; glorifiquem, portanto, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito..." (1Coríntios 6.11,20). 


2.2.  "A certeza da salvação produz orgulho". Apenas a falsa certeza gera orgulho. Aquele que atribui sua salvação a seus próprios méritos e esforços nunca teve um real relacionamento salvífico com Cristo.  Como se orgulhar por algo de que não sou nem um pouco merecedor? Me exaltarei pelo fato de Deus ter usado misericórdia comigo — um perdido pecador que merecia a mais severa manifestação de Sua ira? 

Nenhuma obra nos torna aceitáveis perante Deus. Não existe nada que façamos que não esteja maculado com a mancha do pecado. Até mesmo nossas melhores obras diante da retidão divina são "trapos de imundícia" (Isaías 64.6). A salvação só pode ocorrer pela obra bendita de Cristo, o Cordeiro santo e imaculado que foi moído sacrificialmente pelos nossos pecados. O verdadeiro salvo, portanto, apenas gloria-se na cruz (Gálatas 6.14), e não vê mérito em si mesmo. Sua reação é a mesma de Lutero, quando disse: "Quando olho para mim não vejo como me salvar, mas quando olho para Cristo não vejo como me perder". 


3. Conclusão

A certeza da salvação é a maior bênção do redimido. A bênção que lhe propicia ânimo nas provações e tentações; a bênção que lhe permite ter gozo em meio à tristeza; a bênção que lhe comunica como nenhuma outra a sensação do amor e da graça de Cristo, que excedem todo entendimento. A bênção que lhe permite ter a firme confiança de que pertence a Cristo, de que participa efetivamente dEle e de que estará com Ele por toda a eternidade.

Se você ainda não experimentou a salvação, não perca mais tempo. Esconda-se em Cristo. Reconheça seus pecados e se atire em Sua cruz rogando graça, favor e misericórdia. Invoque o nome dEle. Você será vestido de "vestes de salvação" e adornado com o manto da justiça de Cristo (Isaías 61.10). Será selado com o Espírito Santo, como garantia da redenção (Efésios 1.13). Seus pecados serão perdoados; sua culpa será retirada; sua salvação será garantida. Você poderá se unir ao coro dos remidos naquele Grande Dia.  Eternamente salvo. Eternamento perdoado. Eternamente remido. 

 

— Daniel Cardoso 


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

AS EXIGÊNCIAS DE CRISTO AOS SEUS DISCÍPULOS

  

Não existe nada melhor do que ser um discípulo de Cristo. É a melhor e mais gloriosa escolha que alguém pode tomar. Contudo, Jesus nos deu algumas condições a serem observadas. Elas exigem total abnegação e renúncia; exigem uma entrega contínua, total e verdadeira a Cristo, sem nenhuma reserva. Sem elas, é impossível ser um verdadeiro discípulo.  Jesus fala sobre elas em Lucas 14.26,27,33:

Se alguém vier a mim e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após mim não pode ser meu discípulo  [...] assim, pois, qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo. 

Examinemos o que Cristo quis dizer. 


1)  "Aborrecer"

A primeira condição estabelecida por Cristo é "aborrecer pai, mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e a própria vida". Ora, primeiramente, o que Cristo quis dizer com essas palavras tão fortes? E por que o evangelista utiliza justamente o vocábulo "aborrecer", que no idioma grego transmitia literalmente a ideia de "odiar"?   Seria realmente uma ordem para odiarmos a nós mesmos e a nossa família? 

É evidente que não. Cristo jamais ordenaria algo semelhante. Além do mais, Ele mesmo colocou o amor a Deus e ao próximo como o mandamento mais elevado àqueles que quisessem realmente segui-Lo (Marcos 12.28-31; João 13.34,35; 15.12). Seria um enorme contrassenso amar ao próximo e ao mesmo tempo ter de odiar àqueles que, no fim das contas, são os mais próximos de nós — a nossa família. Na verdade, o que Cristo estava dizendo era bastante simples. O texto paralelo de Mateus 10.37 elucida a questão, trazendo as seguintes palavras: "Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim". 

Em suma, Cristo estava dizendo que não é possível ser seu discípulo e ao mesmo tempo colocar um outro relacionamento à sua frente. Aquele que quiser seguir a Jesus deve tê-lo como sua maior prioridade. Deve amá-Lo mais do que a si mesmo e do que a sua própria família. Nada deve nem sequer competir o lugar que é do Senhor em seu coração!

Para destacar isso, Cristo utiliza uma linguagem hiperbólica: "aborrecer". Devemos efetivamente ter o Senhor na mais alta prioridade, abrindo mão de tudo o que for preciso. Nosso amor pelo Mestre deve superar todas as coisas, do mesmo modo como o dEle superou, quando ofereceu sua própria vida como sacrifício em nosso favor. 


2) "Levar a cruz"

O que significa esta outra expressão enigmática? Jesus estaria se referindo a um adorno que alguém leva sobre o seu pescoço? Ou, ainda, às eventuais dificuldades da vida que podemos enfrentar? Essas podem ser as impressões iniciais de alguém em nosso tempo ao se deparar com esta declaração, mas certamente não da multidão que constituía o público original de Cristo. Para ela, a expressão "levar a cruz" não tinha mistério algum. Sem rodeios, ela significava literalmente morrer.  Isso mesmo, a cruz era símbolo de morte. Morte amarga e cruel!

Estaria Cristo, então, dizendo que precisamos morrer para servi-lO? Sim. Mas não fisicamente; precisamos morrer para nós mesmos. Nesse sentido, Paulo, um exemplo de fiel discípulo, afirmou que "morria todos os dias" (1 Coríntios 15.31). 

Em nossa caminhada cristã, precisamos continuamente mortificar todos os nossos desejos, vontades e paixões que são contrários a Cristo e ao Evangelho. Precisamos nos submeter integralmente a Ele! 

"Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 6.11). 


3)  "Renunciar tudo"

Com a primeira expressão, Cristo se referia à relacionamentos; com a segunda, Ele aludia à ambições; e com esta terceira, Ele refere-se à coisas. Em suma: nada e nem ninguém deve tomar o lugar de Cristo na vida do verdadeiro discípulo. Cristo exige de seus seguidores nada menos do que um firme e resoluto comprometimento em servi-Lo. 


Você está disposto a se entregar verdadeiramente a Jesus Cristo? Está disposto a servi-lO como um fiel discípulo? Então, vá agora mesmo até Ele. Receba-O como Salvador e como Senhor absoluto de sua vida. Cristo promete não rejeitar àqueles que sinceramente vêm até Ele, nem agora (João 6.37) e nem na eternidade (Mateus  10.32). Portanto, não perca tempo! Experimente hoje mesmo o gozo da salvação e a alegria de seguir a Cristo! 


—  Daniel Cardoso 

  

sábado, 19 de setembro de 2020

O ARREPENDIMENTO E A CONFISSÃO DE PECADOS DO CRISTÃO À LUZ DA BÍBLIA



I.  Introdução

De  fato,  é  maravilhoso  e  explêndido  o  operar  do  Espírito  Santo  na  vida  dos  salvos.  Ele  impele-nos  à  santidade,  e,  através de  Seu  fruto  (Gl  5.22),  nos  transmite  o  caráter  de  Cristo,  tornando-nos  cada  vez  mais  parecidos  com  Ele.  
Foi  o  Espírito  do  Senhor  quem  nos  fez  nascer  de  novo,  pelo  poder  da  Palavra  (cf.  Jo  3.5).  O  verdadeiro  cristão,  portanto,  que  dá  lugar  ao  Espírito  Santo,  tende  a  sempre  progredir  mais,  "de  glória  em  glória"  (2  Co  3.17),  andando  em  santificação.  Ademais,  não  por  acaso,  o  Espírito  do  Senhor  é  chamado  nas  Escrituras  de  "Espírito  de  Santidade"  (cf. Rm  1.4).   

Entretanto,  por  mais  que  tenhamos  sido  salvos  da  culpa  do  pecado  pela  justificação  e  do  seu  domínio  pela  santificação,  não  fomos,  ainda,  livres  da  presença  do  pecado.  Ele  não  domina-nos;  contudo,  ainda  está  presente  no  cotidiano  dos  crentes,  em  virtude  de  eles,  ainda,  estarem  neste  mundo  decaído  e  com  uma  natureza   pecaminosa —  com  a  qual  têm  de  pugnar  com  melindrosos  combates,  diuturnamente. 
Nesta  luta  constante  e  colossal,  infelizmente  há  vezes  em  que  a  carne  prevalece,  levando-nos  ao  pecado.  Quando  isso  acontece,  uma  tristeza  e  angústia  grandíssimas  apoderam-se  dos  crentes.  E  isso  acontece  porque  o  pecado  não  é  nem  um  pouco  normal  à  nova  natureza  que  Deus  nos  deu,  a  "natureza  divina"  (2 Pe  1.4). 

Contudo,  para  esta  angústia  e  agonia  a  Santa  Escritura  dá  uma  solução:  a  confissão  de  pecados,  somados  a  um  coração  genuinamente  arrependido  e  quebrantado  diante  de  Deus,  que  almeja  o  Seu  perdão  (1  Jo  1.8,9).  Quando  fazemos  isso,  temos  a  garantia  do  perdão  divino  mediante  Cristo,  o  Fiel  advogado  dos  crentes  (1  Jo  2.1,2).  
No  que  concerne  a  este  tema,  explana-lo-emos  pela  Santa  Escritura,  a  ver  o  conceito  bíblico  sobre  o  arrependimento  e  a  confissão  e  a  importância  dos  mesmos  na  busca  do  cristão  por  santidade.


II.  O  Que  é  "Arrependimento"  à  Luz  da  Bíblia?

"Arrependimento"  é  a  tradução  da  palavra  hebraica  nachum,  cujo  significado  denota  um  sentimento  de  profunda  tristeza,  angústia  e  contrição.  Há  ainda  outra  palavra  hebraica  —  shuwb  —  que  descreve  ainda  com  mais  precisão  o  que  é  arrepender-se:  "mudar  de  rumo".  Com  efeito,  o   réu  arrependido  muda  de  rumo,  de  direção  e  de  comportamento.  

As  Escrituras  ensinam  que  somos  todos  pecadores,  depravados  pelo  pecado  (Sl  14.2,3;  53.2,3;  Mq  7.2;  Rm  3.10-12),  e  que,  conseguintemente,  carecemos  do  perdão  divino.  Por  conta  disso,  Deus,  através  do  Evangelho,  "anuncia  agora  a  todos  os  homens  em  todo  o  lugar  que  se  arrependam"  (At  17.30),  e  creiam  no  Senhor  Jesus  Cristo  para  a  salvação  (Rm  10.9). 

Por  conseguinte,  "arrependimento",  em  termos  bíblicos,  significa  uma  contrição  que  leva  o  pecador  ao  concerto  com  o  Todo-Poderoso,  pedindo-Lhe  misericórdia  e  disposto  a  "mudar  de  rumo",  para  andar  de  acordo  com  a  vontade  do  Senhor.  

III.  A  Realidade  do  Pecado  e  a  Atitude do  Cristão  Frente  a  Isso

Mesmo  depois  de  salvos,  infelizmente,  os  crentes  ainda  notam  a  presença  do  pecado  em  suas  ações.  
A luta  árdua  dos  fiéis  ao  Senhor  contra  o  pecado,  que  "tenazmente  nos  assedia"  (Hb  12.1),  é  uma  realidade  inegável. Ele  é  o  nosso  inimigo,  de  quem  tanto  ansiamos  nos  livrar  —  o  que  de  fato  ocorrerá,  por  ocasião  da  Glorificação  (1  Co  15.50-57).  Contudo,  enquanto  estamos  na  lida  terrena,  o  remédio  tem  de  ser  o  constante  "andar  em  Espírito"  (Gl  5.16);  mas,  se  o  crente  falhar  nisso,  a  confissão  de  pecados  (1  Jo  2.1).    

Explanemos  mais  a  atitude  do  cristão  em  relação  ao  pecado,  à  luz  da  Bíblia:


Atitudes  Erradas


1)  Encobrir  o  pecado  —  "O  que  encobre  as  suas  transgressões  nunca  prosperará;  mas  o  que  as  confessa  e  deixa  alcançará  misericórdia"  (Pv  28.13).  Nunca  resista  ao  apelo  do  Espírito  Santo  para  o  arrependimento. Seja  sensível  a  Ele. Nunca  encubra  o  pecado  consigo  mesmo.  Arrependa-se  instantaneamente!

2)  Esquivar-se  da  culpa  ou  auto-justificar-se.  Sabemos  que  o  ser  humano  possui,  congenitamente,  o   costume  de  justificar  a  si  mesmo  e  esquivar-se  da  culpa  sempre  que  for  possível.  Ainda  no  jardim  paradisíaco,  Adão  culpava  Eva,  e  esta,  por  sua  vez,  à  serpente,  por  um  pecado  que  ambos  deliberadamente  cometeram.  O  cristão  deve  fugir  dessas  auto-justificações  tolas,  oriundas  da  soberba  humana.   Reconheça  que  a  culpa  do  pecado  é  sua,  e  totalmente  sua.  Humilhe-se  perante  Deus;   lamente-se  de  suas  misérias!  Neste  caso,  o  perdão  é  garantido  (Tg  4.8-10).  

Muitos  crentes,  contudo,  ainda  resolutos  na  tola  prática  da  auto-justificação,  citam  alguns  subterfúgios  para  fazerem  isso.  Vejamos,  contudo,  se  essas  "desculpinhas"  suportam-se  à  luz  da  Bíblia:

A)   Subterfúgio:  "a  carne  é  fraca".  

Resposta  Bíblica:  É  verdade  que  a  nossa  carne  é  fraca.  Jesus  afirmou  isso  (Mt  26.41b).  Não  obstante,  o  apóstolo  Pedro  assegura:  "O  poder  de  Deus  nos  tem  dado  tudo  o  que  precisamos  para  viver  uma  vida  que  agrada  a  Ele"  (2  Pe  1.3,  NTLH).  Isso  significa  que  Deus  confere  ao  crente  todos  os  meios  da  graça  necessários  para  que  ele  vença  o  pecado  e  a  tentação.  Somos  nós,  muitas  vezes,  que  não  nos  apropriamos  dessa  graça,  "andando  em  Espírito" e,  subsequentemente,  não  cumprindo  a  concupisciência  da  carne  (Gl  5.16).  Portanto,  não  há  desculpas!

B)  Subeterfúgio:  "a  culpa  não  é  minha;  é  da  minha  natureza  pecaminosa".  

Resposta  Bíblica:  "Abandonem  a  velha  natureza"  (Ef  4.22);  "E  os  que  são  de  Cristo  crucificaram  a  carne  com  as  suas  paixões  e  concupisciências"  (Gl  5.24).  Existe  uma  história  de  um  motorista  que,  apanhado  em  excesso de  velocidade,  arguiu  ao  juiz:  "Foi  a  minha  velha  natureza  que  estava  em  excesso  de  velocidade".  Ao  que  o  juiz  replicou:  "Multo  a  sua  velha  natureza  em  50  libras  por  excesso  de  velocidade,  e  multo  a  sua  nova  natureza  em  50  libras  por  ser  conivente  com  a  primeira".  Esta  ilustração,  conquanto  tenha  suas  imperfeições,  aponta-nos  para o  fato  de  que  culpar  a  velha  natureza  não  é  uma  boa  solução,  mas  sim  o  total  arrependimento  do  pecado  e  a  plena  consciência  da  culpa,  que  levará  à  humilhação  perante  Deus.  

Por fim,  devemos  compreender  que  Deus  não  aceita  nossas  vãs  e  inúteis  auto-justificações.  Ele  quer  um  coração  quebrantado,  cônscio  de  que  pecou  e  ofendeu  a  Ele,  um  Ser  tão  infinito  em  honra,  glória  e  santidade;  um  coração  contrito,  humilhado,  e disposto  à  mudar.  

3)   Minimizar  ou  relativizar  o  pecado.  Muitos  cristãos,  dependendo  de  seus  erros,  tendem  a  relativizar  e  minimizar  o  pecado.  Em  via  de  regra,  isso  ocorre  quando  para  a  mente  humana  o  erro  cometido  é  trivial  demais  para  ser  tratado  com  demasiada  seriedade.  Então, dando-lhe  o  cognome  de  "pecadinho",  muitos  crentes  relativizam  os  seus  pecados.

Infelizmente,  tratamos  o  pecado  com  muito  descaso,  vendo  apenas  o  ato  em  si  e  esquecendo  contra  quem  ele  é  cometido.  Nenhum  pecado  contra  Deus  pode  ser  considerado  pequeno:  ele  é  uma  ofensa  contra  o  Criador  dos  céus  e  da  terra.  
Como  pode  ser  minimizado  um  ato  contra  o  Ser  Supremo,  infinito  em  glória  e  santidade?  Como  podemos  relativizar  uma  ofensa  contra  Deus?  

"Ofensa"  é  o  substantivo  que  o  apóstolo  Paulo  usa  por  7  vezes  em  Romanos  5  para  se  referir  ao  pecado  (cf.  vv.  15-18,  20).   Isso  mesmo:  não  importa  o  quão  trivial nos  pareça  o  ato  que  praticamos,  o  que  fizemos  foi  literalmente  ofender  gravemente  ao  Todo  Poderoso.    

Em  sua  essência, o pecado é  uma  traição  intencional,  uma  rebelião  clara  e  desafiadora  contra  o  Criador  do  Universo. John  Bunyan  define-o  do  seguinte  modo:

"O  pecado  é  um  desafio  à  Justiça  de  Deus,  um  abuso  à  Sua  misericórdia,  uma  zombaria  à  Sua  paciência,  um  ligeiro  ao  Seu  poder  e  um  desprezo  ao  Seu  amor."

 A  gravidade  do  pecado  é  maior  do  que  possamos  imaginar.  Ele  é  tão  grave  que,  não  por  acaso,  custou  a  vida  do  Filho  de  Deus.  O  pecado  foi  a  causa  de  Deus  Pai  ter  moído  Seu  Filho  na  cruz,  para  propiciar-nos  remissão,  numa  rica  demonstração  de  amor. Foi  a  causa  da  morte  do  Autor  da  Vida.  Sobre  isso,  um  escritor  de  um certo  hino  disse,  com  muita  propriedade:  "Foi  o  enorme  fardo  dos  nossos  pecados  que  Te  deitou  no  túmulo,  ó  Senhor  da  vida!".  

Sim!  O  peso  de nossos  pecados  deitou  nosso  Senhor  no  túmulo.  Foram eles  a  causa  de  todo  o  seu  sofrimento,  que  não  foi  só  físico,  mas,  principalmente,  espiritual.  
Infelizmente,  muitos  cristãos  ainda  possuem  em  suas  mentes  a  ideia  católico-romana  acerca  da  expiação  de  Cristo,  acreditando  que  Ele  pagou  o  preço  por  nós  ao  ser  torturado  pelos  soldados romanos,  ou  ao  sofrer  as  outras  dores  físicas   inenarráveis  que  experimentou. Mas  não  é  isso  que  as  Escrituras  ensinam.  A  nossa  expiação  ocorreu  quando  os  pecados   de  toda  a  humanidade  recaíram  sobre  Cristo,  que  foi  oprimido  em  Sua  alma,  sendo  moído  pelo  Pai  por  causa  deles:  "Todavia,  agradou  ao  Senhor  moê-Lo,  fazendo-O  enfermar,  quando  Ele  der  a  Sua  alma  por  expiação  do  pecado"   (Is  53.10).  Note:  a  nossa  expiação  ocorreu  não  quando  os  ímpios  soldados  romanos  castigaram  Jesus  e  o  oprimiram   desumanamente,  mas  sim  quando  o  Pai  o  castigou.   Contudo, os  dois  castigos  ocorreram  de  modo  simultâneo.  Em  suma:  em  seu  físico,  Cristo  padecia  as  cruéis  torturas  de  seus  algozes;  e,  ao  mesmo  tempo,  em  Sua  alma  o  Pai  estava  moendo-Lhe  e  oprimindo-Lhe,  fazendo  com  que  sobre  Ele  viesse  o  peso  e  o  castigo  do  pecado  de  toda  a  humanidade.    

Cristo  não  estava  suportando  apenas  o  peso  físico  da  cruz,  mas  também  em  Sua  alma  o  peso  inimaginável  dos  pecados  da  cruel  e  depravada  humanidade.  Isso  foi  necessário   para  que  nossa  redenção  ocorresse.   

Percebemos,  deste  modo,  que  o  pecado  é  de  sobremaneira  gravíssimo  aos  olhos  de  Deus,  mais  do  que  possamos  imaginar  ou  cogitar.  A  nossa  única  esperança,  como  miseráveis  pecadores,  é  o  sacrifício  vicário  e  expiatório  que  nosso  Senhor  fez  por  nós,  com  o  qual  Ele  pagou  o  preço  por  nossos  pecados:  Mas  graças  a  Deus  por  Jesus  Cristo,  nosso  Senhor...  (Rm  7.25).  

Creia  na  suficiência  do  sacrifício  de  Cristo  na  cruz.  Creia  que  Ele  morreu  pelo  seu  pecado,  seja  ele  qual  for,  e  que  isso  lhe  garante  o  seu  perdão  diante  de  Deus,  contanto  que  se  arrependas  verdadeiramente,  reconhecendo  a  gravidade  do  pecado  e  confiante  no  poder  do  sangue  de  Cristo,  que  decerto  nos  purificará:  "Mas,  se  andarmos  na  luz,  como  Ele  na  luz  está,  temos  comunhão  uns  com  os  outros,  e  o  sangue  de  Jesus  Cristo,  Seu  Filho,  nos  purifica  de  todo  o  pecado"  (1  Jo  1.7). 

Atitudes  Corretas

1)  Confessar o pecado: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1Jo 1.9).

2) Abandonar o pecado: tão importante quanto confessar o pecado é abandoná-lo. Disse o sábio Salomão: "Aquele que confessa e deixa alcançará misericórdia" (Pv 28.13). Observe que a confissão e o abandono do mau são colocados no mesmo patamar àquele que deseja alcançar o perdão divino. 

3)  Buscar o fortalecimento em Deus: "No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder" (Ef 6.10). Precisamos saber que mesmo depois da arrependimento, da confissão e do abandono do pecado, a luta não se finaliza. Por isso, precisamos buscar um constante fortalecimento em Deus. Com o nosso espírito forte e o nosso ser em comunhão renovada com o Senhor,  a vitória é certa!  


IV. Algumas Dúvidas Recorrentes 


1)  Como Distinguir o Arrependimento do Remórcio? 

Uma dúvida muito frequente tem sido a de como diferenciar o verdadeiro arrependimento de  um  mero remórcio. Para o correto discernimento dessa questão, é essencial averiguarmos as evidências do arrependimento genuíno. 

Em primeiro lugar, o arrependimento genuíno caracteriza-se em sua essência pela tristeza pelo pecado, e não exatamente pela consequência do mesmo. O arrependimento de Davi registrado em Salmo 51 em nenhum momento evoca a questão da morte prematura de seu filho ou das outras consequências de seu erro.  Pelo contrário, a tristeza de Davi baseia-se essencialmente no fato de ter ofendido a Deus: "Contra Ti, contra Ti somente pequei; e fiz o que a Teus olhos é mau" (Sl 51.4). 

Em segundo lugar, um coração verdadeiramente arrependido busca não somente a segurança do perdão. Ele busca uma mudança total e radical de postura; ele almeja não somente ser perdoado, mas também purificado. Não é por acaso que o apóstolo João incluiu as duas coisas ao falar sobre a confissão (1Jo 1.9). Noutras palavras, o verdadeiro penitente não recorrerá a Deus apenas para ter a consciência aliviada ou para outros fins, quaisquer que sejam. Mas primariamente por ter a consciência de que entristeceu um Deus tão rico em amor e bondade; um Deus tão santo, tão benigno! Essa é a base primária da verdadeira contrição. 

Portanto, podemos diferenciar o arrependimento do remórcio pela motivação do indíviduo.  Quando há verdadeiro arrependimento, a motivação não é egoísta. Ela é, pelo contrário, motivada pela consciência de ter ofendido ao Senhor;  e disso subsequencia-se um sincero desejo de mudança total e completa. 

2) Como Diferenciar a "Tristeza Segundo Deus" da "Tristeza Segundo o Mundo"?

O apóstolo Paulo faz essa distinção em 2 Coríntios 7.10. E neste caso a resposta está claramente sintetizada dentro do próprio versículo: "Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza segundo o mundo opera a morte". No contexto, Paulo se regozijara em saber que a Igreja em Corinto havia se contristado por seus pecados com a "tristeza segundo Deus". Isso porque esta tristeza, que é operada em nós pelo Espírito Santo, conduz ao verdadeiro arrependimento — o que resulta em salvação. Por outro lado, há uma outra tristeza que conduz à morte.  Neste caso, não é apresentada uma luz no fim do túnel. A pessoa é imersa na culpa de seus pecados e acaba por não mais ver solução para ela mesma e para a sua situação. Isso opera a morte. Mas o Espírito Santo, por mais que mostre a gravidade de nossos erros, sempre apontará a luz no fim do túnel. Ele sempre apontará a saída, a solução, o remédio. Ele sempre atrairá o pecador a Cristo, em contrição, para ser restaurado e perdoado por Ele.

3) O Perdão de Deus é Indefinido? 

Sim. Jesus nos ensinou a perdoar "setenta vezes sete" — uma figura de linguagem para dizer "indefinidamente" (Mt 18.22). Ora, se Cristo nos ensinou a perdoar assim, não é lógico que o Seu perdão é também indefinido? 

Não há dúvidas de que o Senhor sempre terá prazer em perdoar e restaurar o arrependido! O conhecimento dessa verdade, contudo, não nos deve tornar cristãos negligentes quanto ao pecado. Pelo contrário: o conhecimento dessa maravilhosa graça deve ser o nosso maior estímulo à santidade! 

4) É Possível Ser Perdoado Sem Sentir o Perdão? 

É maravilhoso quando Deus comunica o Seu perdão e graça aos nossos sentimentos. Contudo, não podemos ser cristãos acostumados  com isso. É evidente que Deus nem sempre agirá dessa forma. Não foi à toa que Ele falou em Sua Palavra que andamos "por fé" e não pelo que sentimos ou vemos (2Co 5.7). Deus quer que saibamos que fomos perdoados. Isso independe dos sentimentos. Seu coração pode muito bem acusá-lo de algo que já foi perdoado, e a orientação das Escrituras nesse caso é apenas confiar na promessa divina, pois "maior é Deus do que o nosso coração" (1Jo 3.20). Fato é que Deus promete perdoar a todos os contritos de coração, que vem a Ele com desejo sincero de mudar.  Sua promessa vale muito mais que nossos sentimentos e nosso enganoso coração, que estão profundamente afetados pelo pecado.   


     
 
   

  



         

        

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Por Quem Jesus Morreu?

 

        Jesus  morreu  por  toda  a  humanidade,  e  a  abrangência  de  Sua  expiação  foi  universal.  Ele  pagou  o  preço  a  Deus  pelos  nossos  pecados  (Ef  5.2), de  sorte  que  todos  aqueles  que  que  confiam  nEle  para  a  salvação  são  perdoados  e  justificados  (Rm  5.6-11).

        No  entanto,  esta  doutrina  que  é  tão  bem  documentada  nas  Escrituras  vem  sendo  negada  contundentemente.  O  Calvinismo  advoga  a  "Expiação  Limitada",  dizendo  que  Cristo  morreu  somente  por  um  grupo  de  eleitos,  e  não  pela  humanidade  em  geral.  Mas,  será  mesmo  que  é  isso  que  as  Escrituras  ensinam?  O  que  elas  dizem?  Deixemos  a  Bíblia  falar  por  si  mesma.

          Jesus  Afirmou  a  Universalidade  de  Sua  Expiação

     Em  primeiro  lugar,  o  próprio  Jesus  afirmou  que  a  abrangência  de  Sua  expiação  era  universal.  O  Filho  de  Deus  declarou  explicitamente  que  o  Seu  sacrifício  e  obra  redentora  foram  efetuados  em  favor  do  mundo  todo,  e  não  apenas  por  um  "grupo  especial".  Se  não,  vejamos.

     No  diálogo  com  Nicodemos,  Jesus  afirmou  clara  e  abertamente  que  o  Pai  o  havia  enviado  por  amor  ao  mundo  todo,  e  não  apenas  por  um  coletivo:  "Porque  Deus  amou  o  mundo  de  tal  maneira  que  deu  o  Seu  Filho  unigênito,  para  que  todo  aquele  que  nEle  crê  não  pereça,  mas  tenha  a  vida  eterna.  Porque  Deus  mandou  o  Seu  Filho  ao  mundo,  não  para  que  condenasse  o  mundo,  mas  para  que  o  mundo  fosse  salvo  por  Ele"  (Jo  3.16,17).  Ainda  no  diálogo,  Jesus  fala  de  Si  mesmo  como  a  "Luz  que  veio  ao  mundo"  (Jo  3.19). 

        Jesus,  ainda,  afirmou a  universalidade  de  Sua  expiação  nos  seguintes  termos:  "O  pão  de  Deus  é  aquele  que  desce  do  céu  e  dá  vida  ao  mundo"  (Jo  6.33);  "Eu  darei  a  minha  carne  pela  vida  do  mundo"  (Jo  6.51);  "Eu  vim,  não  para  julgar  o  mundo,  mas  para  salvar  o  mundo"  (Jo  12.47).

        Portanto,  indubitavelmente,  Jesus  declarou  a  universalidade  de  Sua  expiação.  

       Os  Anjos  e  os  Contemporâneos  de  Cristo  o  Declararam  como  Salvador  de  Toda  a  Humanidade

     Os  discípulos  contemporâneos  de  Cristo  viam-nO,  não  por  acaso,  como  sendo  o  Salvador  do  mundo. Disseram os  samaritanos  à  mulher  samaritana:  "Já  não  é  pelo  teu  dito  que  nós  cremos  [em  Jesus];  porque  nós  mesmos  o  temos  ouvido,  e  sabemos  que  este  é  verdadeiramente  o  Cristo,  o  Salvador  do  mundo"  (Jo  4.42).  João  Batista  aponta:  "Eis  o  Cordeiro  de  Deus,  que  tira o  pecado  do  mundo!"  (Jo  1.29).  

    Até  mesmo  o  anjo  de  Deus,  ao  anunciar  a  boa-nova  do  nascimento  do  Messias  aos  pastores  de  Belém, regozijou-se  dizendo:  "Não  temais,  porque  eis  que  vos  trago  novas  de  grande  alegria,  que  serão  para  todo  o  povo"  (Lc  2.10).  Quão  maravilhosas  eram  essas  novas!  "Hoje  nasceu  o  Salvador" (Lc  2.11).  Mas,  vale  lembrar  que  essas  novas  só  seriam  de  alegria  para  todo  o  povo,  se  o  Salvador  tivesse  vindo  para  morrer  por  todos  eles.  Do  contrário,  não  seriam  notícias  de  grande  alegria  para  "todos",  mas  tão-somente  para  "alguns".   

    Portanto,  tanto  os  anjos  de  Deus  quanto  os  coetâneos  de  Cristo  o  declararam  como  sendo  o  Salvador  universal.

      As  Escrituras   Dizem  que  Deus  Ama  a  Todos  os  Homens  com  Amor  Salvífico

    Sendo  fato  que  "é  o  desejo  de  Deus  que  todos  os  homens  se  salvem"  (1 Tm  2.4),  e  que  "Ele  anuncia  a  todos  os  homens  em  todo  o  lugar  que  se  arrependam"  (At  17.30),  por  que  Ele  entregaria  o  Seu  Filho  a  apenas  alguns?         

    Inelutavelmente,  Deus  ama  a  todos  com  amor  salvífico.  Do  contrário,  Ele  não  teria  dito  que  "não  se  agrada  da  morte  do  ímpio,  mas  sim  que  ele  se  arrependa"  (Ez  33.11).  Assim  sendo,  é  totalmente  incongruente  que  Deus  deseje  que  todos  os  homens  se  salvem e que ao  mesmo  tempo  não  lhes  dê  a  possibilidade  de  salvação,  ao  negar  o  Seu  único  Filho  a  muitos.

    As  Escrituras  dizem  que  Jesus  Morreu  Por  Todos

   Finalmente,  as  próprias  Escrituras  inequivocamente  demonstram,  por  meio de  textos  claríssimos,  a  universalidade  do  sacrifício  de  Cristo.    

Se  não,  vejamos:  "Todos  nós  andamos  desgarrados  como  ovelhas;  cada  um  se  desviava  pelo  seu  caminho,  mas  o  Senhor  fez  cair  sobre  Ele  a  iniquidade  de  nós  todos" (Is  53.6);  "Pois  assim  como  por  uma  só  ofensa  veio  o  juízo  sobre  todos  os  homens  para  condenação,  assim  também  por  um  só  ato  de  justiça  veio  a graça  sobre  todos  os  homens  para  justificação  de  vida"  (Rm  5.18);  "Porque  há  um  só  Deus  e  um  só  Mediador  entre  Deus  e  os  homens:  Jesus  Cristo,  homem,  o  qual  se  deu  a  Si  mesmo  por  todos,  para  servir  de  testemunho  a  seu  tempo"  (1  Tm  2.5,6);  "Porque  para  isto  trabalhamos  e  lutamos,  esperando  no  Deus  Vivo,  que  é  o  Salvador  de  todos  os  homens,  principalmente  dos  fiéis" (1 Tm  4.10);  "Porque  a  graça  de  Deus  se  há  manifestado,  trazendo  salvação a  todos  os  homens"  (Tt  2.11);  "vemos,  porém,  coroado  de  glória  e  de  honra  a  este  Jesus,  que  fora  feito  um  pouco  menor  do  que  os  anjos,  por  causa  da  paixão  da  morte,  para  que,  pela  graça  de  Deus,  provasse  a  morte  por  todos"  (Hb  2.9);  "Ele  é  a  propiciação  pelos  nossos  pecados, e   não  somente  pelos  nossos,  mas  também  pelos  de  todo  o  mundo"  (1  Jo  2.2);  "Nós  vimos  e  testificamos  que  o  Pai  enviou  o  Seu  Filho  para  ser  o  Salvador  do  mundo"  (1 Jo  4.14).      


            

          


     

terça-feira, 9 de junho de 2020

LIVRO DE JÓ: AS INQUIETAÇÕES DE UM HOMEM FIEL



I.   Introdução  

Qual  o  cristão  no  Ocidente  que  nunca  ouviu  falar  de  Jó,  o  servo  que  mantevesse  fiel  mesmo  diante  das  mais  melindrosas  provações? 

De  fato,  podemos  constatar  que  a  biografia  bíblica  de  Jó  relata  uma  história  épica,  que  fortalece-nos  a  fé.  Ela  nos  conta  a  história  de um  homem  muito  bem-sucedido  e temente  a  Deus,  que  foi  provado  num  ponto  extremo —  e  muito  extremo.  A  linguagem  hiperbólica  usada  por  Jó  —  quando  ele  disse  que  se  o  seu  sofrimento  fosse  pesado  numa  balança  o  peso  excederia  o  da  areia  dos  mares  (Jó  6.2,3)  —  evidencia   o  quão  penosa  era  a  sua  dor. Uma  dor  tão  terrível  que,  não  à  toa,  levou-o  a  perguntar:  É,  porventura,  a  minha  força  a  força  da  pedra?  Ou  é  de  cobre  a  minha  carne?  (Jó  6.12).

Contudo,  a  despeito  das  inquietações  que  tanto  permeavam  a  sua  mente,  Jó  nunca  perdeu  a  sua  fidelidade  a  Deus.  E  é  justamente   esta  qualidade  que  abrilhanta-o  dentre  os  demais  e  torna  da  sua  história  um  relato  épico.  Mesmo  em  meio  às  mais  terríveis  dificuldades  e  vicissitudes  da  vida,  Jó  nunca  perdia  a  fidelidade  ao  seu  Senhor.

Por  conseguinte,   podemos aprender  muito  com  a  história  desse  servo  fiel,  que,  a  despeito  de  suas  inquietações  constantes,  nunca  perdia  a  fidelidade  a  Deus.

II.  A  Ocasião  do  Livro

Embora   hajam   grandes  controvérsias  entre  os  estudiosos bíblicos no  que tange  à  datação  e  ocasião  do  livro  e  dos  eventos  nele  narrados,   a  maior  parte  das  evidências,  indubitavelmente,   apontam  que  os  eventos  aconteceram  por  volta  do  período  patriarcal,   e  mais  precisamente  em  contemporâneidade  com  Jacó  e  seus  filhos.   Escrutinemos  os  indícios:

 •   Os  procedimentos,  os  costumes  e  o  estilo  de  vida  geral  apresentados  no  livro  remetem  diretamente  ao  período  patriarcal  (cerca  1800  a.C.);

 •   Não  há  nenhuma  referência  à  lei  mosaica,  nem  ao  tabernáculo,  ou  a  algum  elemento  histórico  de  Israel,  etc.;  além  do  quê,  nem  mesmo  o  nome  que  Deus  passou  a  se  revelar  a  partir  de  Moisés  (Êx  6.3)  —  o  conhecido  tetragrama  (YHWH)  —  é  mencionado,  mas  somente  o  nome  antigo  pelo  qual  os  patriarcas  conheciam a Deus: El-Shadai,  isto  é,  o  Todo-Poderoso  (cf.  Jó  5.17; 6.14; 8.5;  11.7;  13.3;  15.25;  21.15,20;  22.3,17,23,25,26;  23.16;  24.1;  27.2,11,13;  29.5;  31.35;  33.4;  34.10,12;  35.13;  37.23;  40.2);

•   Tanto  no  começo  quanto  no  final  do  livro  menciona-se  que  era  o  próprio  Jó  quem  oferecia  sacrifícios  a  Deus, o  que  denota  a  ausência  da  classe  sacerdotal  —  o  que,  conseguintemente,  implica  em  Jó  ter  vivido  numa  era  anteior  à  de  Moisés   (cf.  Jó  1.5;  42.7-10);

•   A  longevidade  de  Jó  demanda  que  ele  tenha  vivido  no  período  patriarcal —  haja  vista  ser  esse  um  privilégio  alcançado  somente  nos  dias  dos  patriarcas  (Jó  42.16,17);

•  Depreende-se, ao  lume  dos  indícios,  que  um  dos  "amigos"  de  Jó  apresentados  no  livro  —  a  saber,  Elifaz  (Jó  2.11) —  era  o  mesmo  que  foi  mencionado  em  Gênesis  como  filho  de  Esaú   e como  vivendo  no  período  patriarcal  (Gn  36.3,10).

Portanto,  é  razoável  situar  Jó  ao  período  dos  filhos  do  patriarca  Jacó.  Existem  tradições,  inclusive,  que  o  identificam  como  descendente  de  Naor,  o  irmão  de  Abraão.  

Seja  como  for,  o  fato  é  que  a  narrativa  bíblica  concernente  a  Jó  é  real,  e  não  parabólica  (cf.  Ez  14.14;  Tg  5.11),  e  que  seu  conteúdo  foi  reprisado  numa  carta  paulina,  evidenciando  claramente  a  sua  inspiração  (1  Co  1.19  comp.  Jó  5.12).  Sendo  assim,  há  grandes  coisas  que  podemos  aprender  com  esse  relato  bíblico  verídico.


III.   A  Colossal  Provação  de  Jó

As  Escrituras  mostram-nos  que  Jó  foi  provado  de  forma  muitíssimo  ciclópica.  

A  sua  provação  divide-se  em  duas  fases,  respectivamente:

A  primeira  fase  da  provação  de  Jó  foi  a  que  atingiu  tudo  o  que  estava  ao  seu  redor.  Contudo,  a  principal  área  provada  foram  as  suas  emoções.
Com  relação  às  suas  finanças,  ele  perdeu  em  um  único  dia  todos  os  seus  mil  bois,  as  suas  quinhentas  jumentas,  as  suas  sete  mil  ovelhas  e  os  seus   três  mil  camelos.  Entretanto,  lamentavelmente,  junto  à  perda  de  seus  rebanhos  somou-se  a  morte  de  todos  os  seus  servos,  com  exceção  dos  que  lhe  trouxeram  essa  triste  notícia  (cf.  Jó  1.13-17).
No  entanto,  o  que  mais  mexeu  no  âmago  de  suas  emoções  foi  que,  ainda  no  mesmo  dia,  os  seus  sete  filhos  e  três  filhas  faleceram  (Jó  1.18,19).  Mas,  incrivelmente,  foi  neste  momento  deveras  tão  dorolido  que  Jó  prostrou-se  em  terra  e  adorou  ao  Senhor  (Jó  1.20,21).

Já  na  segunda  fase   da  provação  de  Jó,  ele  mesmo  foi  o atingido,  porquanto  chagas  malignas  lhe  foram  lançadas  por  Satanás,  da  planta  do  pé  até  o  alto  da  cabeça (Jó  2.7). 
 Mais  tarde,  já  em  companhia  de  seus  três  "amigos",   Jó  descreve  um  pouco  de  sua  mui  violenta  dor  e  enfermidade:  O  meu  corpo  está  coberto  de  bichos  e  de  cascas  de  feridas;  a  minha  pele  racha,  e   dela  escorre  pus   (Jó  7.5,  NTLH).  Dolorido,  Jó  tomou  um  pedaço  de  telha  para  raspar  suas  feridas,  e  assentou-se  no  meio  da  cinza  (Jó  2.8).

A  esposa  de  Jó,  vendo  que  ele  continuava  firme  em  sua  fidelidade  a  Deus,  reprimendou  seu  marido  e  o  abandonou  (Jó  2.9).  Mas  Jó  manteve  sua  conduta  irreprensível  perante  o  seu  Senhor:  Em  tudo  isto  não  pecou  Jó  com  os  seus  lábios  (Jó  2.10).  

Contudo,  aprouvera  a  Deus  que  permitisse  ainda  mais  uma  provação  para  Jó:  a  zombaria  de  seus  "amigos".  Ao  invés  de  ajudarem-lhe  com  consolo,  eles  somente  o  culpavam  por  tudo.  

Mas  após  Jó com  suas  fraquezas  ter  vencido  às  provações,  Deus  apareceu  a  ele  e  mudou  o  seu  estado  peremptoriamente.   

 IV.  As  Inquietações  de Jó,  as  Falácias  de  Seus  Amigos  e a   Resposta  do  Senhor

Em  meio  às  desmedidas  dores  de  Jó,  seus  amigos  apareceram  com o  intuito  de  consolá-lo.  Entretanto,   só  de  terem  visto  ainda  em  terra  longínqua   a  sua  aparência  toda  desfigurada,  não suportaram  e  puseram-se  a  chorar,  prostrados  e  com  os  mantos  rasgados.  Seguidamente,  quando  finalmente  aproximaram-se  dele,  assentaram-se  por  sete  dias  e  sete  noites  inteiras, calados,  e  absortos  em  sua  dor  intensa  (cf.  Jó  2.12, 13).

Após  todo  esse  tempo  de  divagação  sobre  a  aflição  de  Jó,  os  diálogos começam.   Jó  inicia-os  com  uma  explosão,  derramando  uma  torrente  de  dor  e  amargura  e  amaldiçoando  a  sua  concepção  e  o  seu  nascimento  (Jó  3).  Depois  disso,  há  um  diálogo  de  três  fases entre  Jó  e  seus  três  amigos,  que  começava  por  ordem  de  idade:  primeiro  Elifaz,  o  temanita;  seguidamente,  Bildade,  o suíta;  e,  depois,  Zofar,  o  naamatita. 

A  Primeira  Fase 

 O  Discurso  de  Elifaz:  Em  seu  discurso,  Elifaz baseou  a  sua posição num  conceito  teológico  muito  crido  no  mundo  antigo:  o  cognominado  princípio  da  retribuição   —  a  ideia  de  que  tudo  que  ocorre  é  fruto  de nossas   ações.  Ele  utilizou  este  conceito  para  arguir  que Jó era  o  culpado  por  tudo  aquilo que  lhe  sobreveio. Na  cosmovisão  de  Elifaz  aquele  sofrimento  de  Jó  era  nada  mais  do  que  um  castigo  de  Deus  para  ele  (Jó  5.17);  destarte,  Jó  devia  arrepender-se  de  seus  pecados  (Jó  5.8).   
Na  conclusão  de  seu  discurso,  Elifaz  utiliza  a  sua  idade  e  experiência  de  vida  para  consubstanciar a  sua  assertiva  (cf.  Jó  5.27). 

A  Resposta  de  Jó: Jó  responde  primeiramente  voltando  a  chamar  a  atenção  de  seus  amigos  para  a  sua  dor e  sofrimento.  Ele  começa  afirmando  hiperbólicamente  que  o  peso  de  suas  aflições,  se  colocadas  numa  balança,  excederiam  o  peso  da  areia  do  mar  (Jó  6.2,3).  Contristado,  Jó  chega  a  até  mesmo  desejar  avidamente  a  morte,  em  virtude  de  não  estar  mais  suportando  tamanhas  tribulações   (Jó  6.8-13).
Depois  deste  lastimoso  desabafo,  Jó  exprime  o  seu  desapontamento  com  a  resposta  de   Elifaz  (Jó  6.14,15),  e  exige  que  ele  lhe  mostre  os  seus  erros,  já  que  o  acusou  (Jó  6.24).
Por  fim,  Jó  roga  clemência  ao  Todo-Poderoso  (Jó  7.1-21).

O  Discurso  de  Bildade:  Bildade  baseia-se  em  três  premissas:

1.  Os  caminhos  de  Deus  são  justos  (Jó  8.3);
2.  Deus  castiga  o  ímpio  e  abençoa  o  justo  (Jó  8.20-22);
3.  Logo,  Deus  é  justo  em  punir  Jó,  pois  seus  filhos  eram  ímpios  (Jó  8.4).

Contudo,  Bildade  deseja  a  restauração  de  Jó.  Para  isso,  então,  lhe  exorta  ao  arrependimento  (Jó  8.5,6).

A  Resposta  de  Jó:  Jó  responde  deixando  explícito  em  sua  retórica  que  ele  também  acredita  que  Deus  é Justo  (Jó  9.2).  

Ele  contrasta  a  grandeza  de  Deus  com  a  sua  pequeneza.  Contudo, ao  fazer  isso  infelizmente  Jó  começou  a  apresentar  noções   de  uma  visão   tirânica  sobre  Deus.  
O  quadro  desesperador  que  Jó  tinha  de  Deus  naquele  momento  era  o  de  um  tirano  que  destruía  arbitrariamente  a  quem  quisesse,  sem  importar  se  tratava-se  de  um  inocente  ou  de  um  culpado;  um  Deus  que  possui  prazer  em  afligir  os  seres  humanos  que  criou  (cf.  Jó  9.22-28;  10.3). 

O  Discurso  de  Zofar:  De  todos  os  amigos  de  Jó,  Zofar  era  o  mais  agressivo  em  seu  temperamento  e,  por  extensão,  em  suas  palavras.   Isso  fica  transparecido  em  todos  os  seus  discursos  —  e  neste  em  especial.   Para  Zofar,  Jó  é  um  mentiroso  e  um  arrogante;  alguém  que  não  queria  reconhecer  seus  erros  (Jó  11.3,4);  sendo  assim,  Jó  estaria  recebendo  menos  do  que  merecia  pela  sua  iniquidade  (Jó  11.5,6).

Como  um  campeão  em  defender  a  tradição  e  um  zelador  à  risca  da  ortodoxia  teológica  da  época,  Zofar  não  aceita  que  Jó  seja  um  inocente.  Para  ele,  Jó  deveria  estar  escondendo  alguma  coisa  que  fez.  Por  isso,  Zofar  adverte-o  para  o  fato  de  que  Deus  vê  tudo  (Jó  11.11).   Na  cosmovisão  deste  intransigente  "amigo"  de  Jó,  a  única  solução  seria  Jó  arrepender-se  de  seus  pecados  (Jó  11.13-19).  Do  contrário,  ele  certamente  morreria  (Jó  11.20).

A  Resposta  de  Jó:  Jó  responde  o  discurso  colérico  de  Zofar  com  uma  ironia:  Sem  dúvidas  vocês  são  o  povo,  e  a  sabedoria  morrerá  com  vocês!  (Jó  12.1,  NVI).  Jó  rebate  esta  jactância  de  seus  amigos, em  pressuporem  que  eles  são  os  "detentores  da  sabedoria",  enquanto  Jó  não  sabia  nada.  Jó  responde:  Não  vos  sou  inferior...  (Jó  12.3;  13.2).

Após  um  sucinto  discurso  tratando da  grandeza  e  soberania  do  Todo Poderoso  (Jó  12.7-25),  Jó  expressa  o  seu  anseio  por  um  encontro  pessoal  com  esse  Deus,  para  dialogar  com  Ele  sobre  as  suas  aflições  (Jó  13.2).  Esta  esperança  é  o  consolo  de  Jó.  Já  os  seus  amigos,  diz  ele,  "são  médicos  que  não  valem  nada",  haja  vista  as  palavras  com  que  se  dirigiam  a  Jó,  que serviam  mais  para  acusá-lo  do  que  para  consolá-lo  (Jó  13.4).  Eles  tentavam  transparecer  sabedoria  de  forma  debalde,  pois  a  atitude  mais  sábia  que  poderiam  tomar  era  o  silêncio  (Jó  13.5).

Contudo,  já  que  seus  amigos  lhe  acusavam  tanto  de  haver  cometido  pecado, mas  não  apontavam  qual  era,  Jó  recorre  a  Deus,  inquirindo  a  Ele  sobre  qual  seria  a  sua  transgressão e  o  motivo  de  seu  sofrimento  (Jó  13.23-28).

Mas,  infelizmente,  Jó  permanecia  resoluto  na  sua  visão  tirânica  sobre  Deus  (cf.  Jó  14.19-22).


A  Segunda  Fase

O  Discurso  de  Elifaz:  Em  seu  segundo  discurso,  Elifaz  se  mostra  mais  impaciente  com  Jó.   Ele  o  adverte  duramente  (Jó  15.2-6),  e  o  trata  como  um  ímpio  e  um   arrogante.  Nessa  reprimenda,  Elifaz  admoesta  Jó  de  que  a  dureza  de   coração  traz  graves  consequências.  Ele  aconselha  Jó  a  parar  de  justificar  a  si  mesmo  (Jó  15.31),  pois  assim  Jó  estaria  enganando-se,  e  o  seu  fim  seriam  as  maldições  que  cabem  aos  perversos  (cf.  Jó  15.17-35).

Novamente,  Elifaz  utiliza  a  sua  idade  avançada  e  a  sua  experiência  de  vida  para  endossar  a  sua  tese  (cf.  Jó  15.10).

A  Resposta  de  Jó:   Jó  inicia  sua  resposta  a  Elifaz  acusando  seus  amigos  de  falta  de  compaixão  e  misericórdia.  Ele  convida-os à possuirem  um  pouco  de  empatia,  imaginando-se  no  lugar  dele.  Jó  diz:  Bem  que  eu  poderia  falar  como  vocês,  se  estivessem  em  meu  lugar;  eu  poderia  condená-los  com  belos  discursos,  e  menear  a  cabeça  contra  vocês.  Mas  a  minha  boca  procuraria  encorajá-los;  a  consolação  dos  meus  lábios  lhes  daria  alívio  (Jó  16.4,5  -  NVI).  Jó,  como  amigo,  jamais  condenaria  e  zombaria  de  seus  amigos,  sobretudo  num  momento  tão  dorolido  como  aquele.  Contudo,  seus  "amigos"  não  tinham  essa  noção  empática.  Eles  eram,  na  verdade,  grandemente  apáticos.   
Sabendo  disso,  Jó  perde  toda  esperança  de  receber  alívio  por  parte  de  seus  companheiros.  Ele  sabe  que  eles  não  estão  dispostos  nem  à  ouvi-lo  nem  à  confortá-lo,  mas  tão-somente  à  condená-lo. Então,  Jó  dirige  agora  os  seus  diálogos  a  Deus,  o  Todo-Poderoso;  apelando-Lhe  para  averiguar  a  sua  inocência.  

Jó  aspirava  por  um  árbitro  entre  Deus  e  a  humanidade  (Jó  16.21;  17.3).  Felizmente,  esta  solicitação  foi  atendida  cerca  de  2.000  anos  mais  tarde,  na  pessoa  bendita  de  Cristo,  o  único  e  suficiente  Mediador  entre  Deus  e  os  homens  (cf.  1  Tm  2.5).  

O  Discurso  de  Bildade:  Bildade  inicia  seu  segundo  discurso  considerando  tolas  as  palavras  de  Jó  e  até  mesmo  zombando-o  (cf.  Jó  18.1-4).  Bildade  prenuncia  que  Jó  é  um  pecador  endurecido,  um  perverso;  assim  sendo,  o  seu  fim  é  a  destruição,  não  havendo  arrependimento  (Jó  18.5-21).

A  Resposta  de  Jó:  Mais  uma  vez,  Jó  apela  aos  seus  amigos  para  serem  mais  empáticos  com  ele.  A  bem  da  verdade, Jó  impressiona-se  de  que  eles  não  tenham  tido  vergonha  do  modo  como  estavam  o  tratando  (cf.  Jó  19.3b).   Jó  reprisa  o  fato de  que,  ainda  que  ele  estivesse  errado,  não  deveria  ser  tratado  daquela  maneira  (Jó  19.2,4;  cf.  6.14).  

Jó  ainda  possuia  noções  tirânicas  sobre  Deus  (cf.  Jó  19.5-22).  Contudo,  ele possuia  a  esperança  de  que,  no  final,  ele  seria  inocentado  perante  o  Senhor:  Porque  eu  sei  que  o  meu  Redentor  vive,  e  que  por  fim  se  levantará  sobre  a  Terra  (Jó  19.25).
Por  fim,  Jó  dá   uma  clara  admoestação  aos  seus  amigos  (Jó  19.28,29).  Desta  vez,  ele  não  somente  lastima  o  modo  como  eles  lhe  tratavam,  mas  os  adverte de  que  Deus  é  Juiz  Justo  e  castiga.

O  Discurso  de  Zofar:   Zofar  não  deixou  de  ser  aquele  homem  colérico  em  exuberância.  Pelo  contrário:  suas  palavras  ainda  demonstram  uma  grande  fúria  contra  Jó.

Zofar  ficou  perturbado  com  os  discursos  de  Jó,  e  assegurou  refutá-los  (Jó  20.1-3). Ele  "fez"  isso  descrevendo  as  calamidades  que  os  ímpios  sofrem.  Ele  anuncia  sobre  o  fim  trágico  dos  perversos  e  dos  hipócritas,  e  inclui  Jó  nessa  categoria  de  pessoas  (Jó  20.4-29).  
Este  foi  o  último  discurso  de  Zofar,  que,  devido  à  sua  ira  extremada,  deixou  de  respondê-lo.

A  Resposta  de  Jó:  Após  fazer  novamente  um  apelo  para  que  seus  amigos  o  ouçam  (cf.  Jó  21.1-6),  Jó  muda  o  foco  do  seu  discurso:  ele  para  de  focar  em  suas  aflições,  e  direciona  o  foco  para  o  famigerado  conceito  muito  vigente  na  teologia  da  época:  o  conhecido  princípio  da  retribuição.  Jó  pretende  refutar  esta  ideia  legalista  de  Zofar  de  que  os  sofrimentos  são  unicamente  destinados  aos  ímpios;  e,  por  sua  vez,  o  bem  aos  justos.  Jó  demonstra  claramente  que  os  ímpios  muitas  vezes  são  bem-sucedidos,  e  nenhum  mal  lhes  acontece  —  contrariando  Zofar  (Jó  21.7-33).  

Infelizmente,  ainda  existem  nos  dias  atuais  falsos  profetas  que  propalam  esses  ensinos  heréticos  de  Zofar,  apregoando  que  aos  justos  não  pode  acontecer  nada  ruim,  uma  vez  que  isso  é  destinados  somente  aos  ímpios.  O  crente  deve  ser  rico,  bem  de  saúde,  completamente  próspero,  etc.;  caso  contrário,  há  algo  de  errado  com  ele.  Esse  evangelho  maldito,  conhecido  popularmente  como   Teologia  da  Prosperidade,   foi  desde  aquela  época  reprovado  por  Deus  (cf.  Jó  42.7-9).


Terceira  Fase

O  Discurso  de  Elifaz:  Em  seu  último  discurso,  Elifaz   simplesmente  ignora  os  argumentos  apresentados.  Em  vez  disso,  ele  acusa  Jó  de  alguns  pecados  específicos  (Jó  22.1-11)  —  que  mais  tarde  foram negados por Jó (cf.  Jó  31).  
Elifaz  deixa  bem  clara  a  sua  visão,  não  muito  diferente  da  de  seus  outros  amigos:  a  única  esperança  para  Jó  é  o  arrependimento  (Jó  22.21-30).

A  Resposta  de  Jó:  Assim  como  Elifaz  ignorou  seus  argumentos,  Jó  agora  ignora  os  seus  amigos.  Ele  volta  a  apelar  para  Deus.  

Em  seu  discurso,  percebe-se  claramente  o  anseio  de  Jó  por  um  encontro  pessoal  com  Deus  (Jó  23.1-17).  A  sua  solicitação  foi  atendida  pelo  Senhor  (cf.  Jó  38-41).  Assim,  podemos  afirmar  com  certeza  que  as  duas  solicitações  que  Jó  fez  em  vida  foram  atendidas:  a  primeira  —  a  por  um  encontro  pessoal  com  Deus,  desejo  que  era  muito  manifestado  em  seus  discursos  (cf. Jó  13.22;  23.1-17;  31.25);  e  a  segunda  —  a  por  um  ábitro  entre  Deus  e  a  humanidade  (Jó  9.33;  16.21;  17.3;  19.25;  cf.  1  Tm  2.5).  Deus  atende  às  orações!

Já  prosseguindo  no  monólogo,  Jó  continua  a  desmantelar  a  errônea  doutrina  da  retribuição  (Jó  24.1-17).  Por  mais  que  seu  amigo  Elifaz  tenha  ignorado  seus  argumentos,  ele  deseja  que  seus  amigos  cogitem  sobre  as  falácias  de  suas  teologias.

O  Discurso  de  Bildade:  Em  seu  último  discurso,  Bildade  baseia-se  sucintamente  em  duas  proposições:

1.  Ninguém  pode  discutir  com  Deus  (Jó  25.2,3, 5,6); e 
2.  Ninguém  pode  afirmar  que  é  puro  diante  de  Deus  (Jó  25.4).

Estas  duas  proposições,  somadas  em  conjunto,  conduzem  à  seguinte  conclusão:  nem  de  longe,  Deus  ouviria  Jó.
Mas,  felizmente,  esta  conclusão  estava  errada.

A  Resposta  de  Jó:  Jó  fica  irritado  com  seus  amigos,  especialmente  com  Bildade  (Jó  26.1-4).  Ele  exalta  o  poder  de  Deus  (Jó  26.5-14),  mas  ainda  é  resoluto  na  confissão  de  sua   inocência  (Jó  27.1-6).  Embora  não  creia  na  doutrina  da  retribuição,  Jó  ainda  exprime  a  convicção  de  que,  no  final,  os  ímpios  hão  de  ser  punidos,  pois  Deus  é  Justo  e  misericordioso  (Jó  27.7-23).   

Jó  sabia  que  Deus  tinha  uma  reposta  a  tudo  aquilo;  ademais,  Ele  é  infinito  em  sabedoria;  Ele  é  o  detentor  perpétuo  dela  (Jó  28).  Somente  Ele  pode  resolver  as  questões  irrespondíveis  da  vida.

Contudo,  de  uma  coisa  Jó  tinha  certeza:  o  seu  sofrimento  não  se  devia  a  algum  pecado,  mas  continha  alguma  razão  mais  profunda  que  somente  Deus  conhecia  (Jó  29.1—31.40).

O  Discurso  de  Eliú

Findado  o  discurso  de  Jó,  os  seus  três  amigos  cessaram  de  respondê-lo  (cf.  Jó  32.1).  Então  Eliú,  um  jovem  que  estva  acompanhado  junto  dos  três  amigos  de  Jó para  escutá-los,  ficou  enfurecido.  A  sua  ira  devia-se  ao  fato  de  os  três  amigos  de  Jó  —  homens  idosos  —  não  terem  descobrido  a  razão  do  sofrimento  de  Jó;  todavia,  mesmo  assim  condenavam-no  (Jó  32.1—33.1-7).

Eliú  segue  a  cosmovisão  de  Bildade  quando  diz  que  não  podemos  pedir  explicações  a  Deus  por  aquilo  que  acontece  (Jó  33.12,13).  O  resultado  dessa  tese  seria  invariavelmente  o  mesmo:  Deus  não  ouviria  o  clamor  de  Jó.

Eliú  demonstrou-se  completamente  imparcial  em  seu  discurso.  Ele  foi  contra  a  atitude  dos  amigos  de  Jó,  e  os  reprimendou  (Jó  32.6-10),  mas  também  foi  contra  o  próprio  Jó,  e  o  repreendeu  severamente  (cf. Jó  34.5-9,  31-37).  

Para  Eliú,  aqueles  sofrimentos  faziam  parte  de  uma  disciplina  educacional  de  Deus  para  Jó.  Em  sua  percepção,  aquilo  era  sim  o  resultado  do  pecado  de  Jó  —  que  não  queria  reconhecer   isso  por  sua  arrogância  (Jó  35.14-16).  

Por  fim,  Eliú  descreve,  grosso  modo,  o  grande  poder  de  Deus,  com  o  objetivo  de  instigar  Jó  a  temê-lo  (Jó  36.1—37.24).

A  Resposta  do  Senhor

Quando  finalmente  todos  terminaram  de  arguir,  Deus  vem  em  um  redemoinho  e  responde  a  Jó  (Jó  38.1).  É  importante  salientarmos,  contudo,  que  a  resposta  de  Deus  não  pretendia  ser  uma  explicação  para  os  sofrimentos  de  Jó,  mas  sim  contrastar  a  Onipotência  de  Deus  com  a  impotência  de  Jó.  E  Deus  faz  isso  descrevendo  a  grandeza  da  Terra   (38.2-18),  a  complexidade  dos  céus  (38.19-38),  e  as  criaturas  que  Ele  criou  (38.39—39.30).  Tudo  isso  tornou  Jó  mais  humilde  (Jó  40.3-5),  e  fê-lo  reconhecer  que  Deus,  como  Senhor  e  Soberano,  está  numa  posição  infinitamente  maior  do  que Jó.  Como  disse  o  apóstolo  Paulo,  os  juízos  de  Deus  são  insondáveis;  e,  os  seus  caminhos,  inexcrutáveis  (Rm  11.33).

Agora  Jó  é  confrontado  pela  santidade  e  grandeza  do  Todo-Poderoso.  Os  resultados  são  notáveis:  Jó  perde  de  uma  vez  por  todas  as  noções  erradas  que  ele  tinha  sobre  Deus  (como  a  tirania  e  prepotência  divina,  por  exemplo).  Agora,  diz  ele,  Te  vêem  os  meus  olhos  (Jó  42.5).  Com  essa  experiência,  tudo  mudou!

Seguidamente,  Deus  repreende  os  três  amigos  de  Jó,  por  terem  falado ideias  errôneas  sobre  Ele  (Jó  42.7-9).  Mas  nada  diz  referente  a  Eliú.  Deus  não  confirma,  não  reconhece,  não  repreende,  nem  responde  a  Eliú.  

Enquanto  Jó  orava  pelos  seus  amigos,  Deus  mudou  o  seu  cativeiro  peremptoriamente  (Jó  42.10).  Deus  restituiu  tudo  em  dobro  a  Jó,  e  fê-lo  viver  por  mais  longos  dias  (Jó  42.12-17).


V.  Conclusão


Satanás  estava  errado.  Jó,  de  fato,  amava  a  Deus  incondicionalmente,  e  era  fiel  a  Ele,  mesmo  com  suas  inquietações  intensas  e  constantes.

Com  esta  história  épica  podemos  aprender  que:

•  Deus  é  Soberano,  e,  por  vezes,  não  conseguimos  entender  os  seus  caminhos.  Mas,  ainda  assim,  devemos  nos  sujeitar  a  Ele  e  repousar  em  Seu  infinito  amor  e  cuidado  para  conosco;

•  Devemos  ser  fiéis  a  Deus  a  qualquer  custo,  e  aconteça  o  que  acontecer;

•   Deus  galardoou  a  Jó;  e,  do  mesmo  modo,  galardoará  aos  fiéis,  porque,  quanto  mais  tribulações  passarmos,  maior  será  o  peso  de  glória  que  em  nós  será  revelado  na  eternidade  (2  Co  4.17).  Jamais  esqueça:  vale  a  pena  ser  fiel!

O  reconhecimento  de  Deus  a  Jó  não  se  limitou apenas a uma  geração  (cf.  Ez  14.14).    Deus  reconhece  o  fiel,  e  mantém  seu  compromisso  com  ele  para  sempre!


Por:  Daniel  Cardoso.


      

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