"Certitudo Salutis" — A Certeza da Salvação
1. O que as Escrituras dizem sobre a certeza da salvação?
Primeiramente, que ela é plenamente possível. Ela pode ser vista diversas vezes na vida dos personagens bíblicos e dos primeiros cristãos. Às vésperas da morte, Paulo não tinha receio algum em afirmar que "a coroa da justiça" lhe estava reservada pelo Senhor, e que ele, com toda certeza, a receberia (2Timóteo 4.6-8). João expressou total segurança ao escrever aos crentes: "Sabemos que já passamos da morte para a vida" (1João 3.14). O que deu ao apóstolo tamanha certeza? Certamente, as palavras que ouviu do próprio Cristo: "aquele que ouve a Minha Palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna. Não entrará em condenação. Já passou da morte para a vida" (João 5.24). Observe como esta certeza é usada com relação ao passado, ao presente e ao futuro daquele que crê em Jesus:
(1) Passado: "já passou da morte para a vida".
(2) Presente: "tem a vida eterna".
(3) Futuro: "Não entrará em condenação".
Que segurança para o presente e para toda a eternidade!
De forma semelhante ao que aprendeu com seu Senhor, João apresentou em sua primeira epístola uma total segurança aos crentes em Cristo. Na verdade, este era inclusive o objetivo maior de sua carta: "Estas coisas vos escrevi para que saibas que tendes a vida eterna" (5.13). A segurança apresentada também abrangia o passado, o presente e o futuro. O passado, pois já passamos da morte para a vida (3.14). O presente, pois definitivamente "sabemos que O conhecemos" (2.3), "sabemos que Nele estamos" (2.5), "sabemos que Ele tem cuidado de nós" (3.14) e "sabemos que somos de Deus" (5.19). Finalmente, o futuro, pois também sabemos que "quando Ele vier, seremos como Ele é" (3.2).
A certeza estava baseada diretamente na garantia fornecida por Cristo. Ele prometeu salvação a todo aquele que, arrependido de seus pecados, crer Nele com todo seu coração (João 6.40,47; Marcos 1.15). Ninguém que fizer isso será rejeitado por Ele (João 6.37). As Escrituras são claras: "Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (Romanos 10.11). O vocábulo "invocar" possuía literalmente o sentido de "implorar misericórdia" — neste caso, devido à convicção de pecado. Os pecadores arrependidos podem descansar confiantemente na obra efetuada por Cristo na cruz. Podem ter total certeza da salvação, graças ao Seu sacrifício.
Ousadamente, a Escritura conclama o salvo a "tomar posse da vida eterna" (1 Timóteo 6.12) — isto é, da certeza, da convição e da segurança da vida em Cristo.
2. Objeções à certeza da salvação:
2.1. "A certeza da salvação conduz ao relaxamento espiritual". Nada poderia estar mais errado. Se existe algo que estimula o salvo é a segurança de que ele pertence a Cristo e de que com Ele estará por toda a eternidade! E que ingratidão absurda seria retribuir tamanho bem com uma vida espiritual relaxada ou negligente! Quanto amor, quanta graça, quanto sangue, quanta misericórdia seriam desprezados e pisoteados! Como dizia John Owen: "É assim que retribuirei o Pai por Seu amor, o Filho por Seu sangue, e o Espírito Santo por Sua graça?".
O salvo é motivado por esse amor e gratidão, e não pelo medo. Na verdade, o maior motivo apresentado por Paulo aos coríntios para que não pecassem é justamente o fato de terem sido salvos: "Vós haveis sido lavados, haveis sido santificados, haveis sido justificados [...] [e] fostes comprados por bom preço; glorifiquem, portanto, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito..." (1Coríntios 6.11,20).
2.2. "A certeza da salvação produz orgulho". Apenas a falsa certeza gera orgulho. Aquele que atribui sua salvação a seus próprios méritos e esforços nunca teve um real relacionamento salvífico com Cristo. Como se orgulhar por algo de que não sou nem um pouco merecedor? Me exaltarei pelo fato de Deus ter usado misericórdia comigo — um perdido pecador que merecia a mais severa manifestação de Sua ira?
Nenhuma obra nos torna aceitáveis perante Deus. Não existe nada que façamos que não esteja maculado com a mancha do pecado. Até mesmo nossas melhores obras diante da retidão divina são "trapos de imundícia" (Isaías 64.6). A salvação só pode ocorrer pela obra bendita de Cristo, o Cordeiro santo e imaculado que foi moído sacrificialmente pelos nossos pecados. O verdadeiro salvo, portanto, apenas gloria-se na cruz (Gálatas 6.14), e não vê mérito em si mesmo. Sua reação é a mesma de Lutero, quando disse: "Quando olho para mim não vejo como me salvar, mas quando olho para Cristo não vejo como me perder".
3. Conclusão
A certeza da salvação é a maior bênção do redimido. A bênção que lhe propicia ânimo nas provações e tentações; a bênção que lhe permite ter gozo em meio à tristeza; a bênção que lhe comunica como nenhuma outra a sensação do amor e da graça de Cristo, que excedem todo entendimento. A bênção que lhe permite ter a firme confiança de que pertence a Cristo, de que participa efetivamente dEle e de que estará com Ele por toda a eternidade.
Se você ainda não experimentou a salvação, não perca mais tempo. Esconda-se em Cristo. Reconheça seus pecados e se atire em Sua cruz rogando graça, favor e misericórdia. Invoque o nome dEle. Você será vestido de "vestes de salvação" e adornado com o manto da justiça de Cristo (Isaías 61.10). Será selado com o Espírito Santo, como garantia da redenção (Efésios 1.13). Seus pecados serão perdoados; sua culpa será retirada; sua salvação será garantida. Você poderá se unir ao coro dos remidos naquele Grande Dia. Eternamente salvo. Eternamento perdoado. Eternamente remido.
— Daniel Cardoso