I. Introdução
Qual o cristão no Ocidente que nunca ouviu falar de Jó, o servo que mantevesse fiel mesmo diante das mais melindrosas provações?
De fato, podemos constatar que a biografia bíblica de Jó relata uma história épica, que fortalece-nos a fé. Ela nos conta a história de um homem muito bem-sucedido e temente a Deus, que foi provado num ponto extremo — e muito extremo. A linguagem hiperbólica usada por Jó — quando ele disse que se o seu sofrimento fosse pesado numa balança o peso excederia o da areia dos mares (Jó 6.2,3) — evidencia o quão penosa era a sua dor. Uma dor tão terrível que, não à toa, levou-o a perguntar: É, porventura, a minha força a força da pedra? Ou é de cobre a minha carne? (Jó 6.12).
Contudo, a despeito das inquietações que tanto permeavam a sua mente, Jó nunca perdeu a sua fidelidade a Deus. E é justamente esta qualidade que abrilhanta-o dentre os demais e torna da sua história um relato épico. Mesmo em meio às mais terríveis dificuldades e vicissitudes da vida, Jó nunca perdia a fidelidade ao seu Senhor.
Contudo, a despeito das inquietações que tanto permeavam a sua mente, Jó nunca perdeu a sua fidelidade a Deus. E é justamente esta qualidade que abrilhanta-o dentre os demais e torna da sua história um relato épico. Mesmo em meio às mais terríveis dificuldades e vicissitudes da vida, Jó nunca perdia a fidelidade ao seu Senhor.
Por conseguinte, podemos aprender muito com a história desse servo fiel, que, a despeito de suas inquietações constantes, nunca perdia a fidelidade a Deus.
II. A Ocasião do Livro
Embora hajam grandes controvérsias entre os estudiosos bíblicos no que tange à datação e ocasião do livro e dos eventos nele narrados, a maior parte das evidências, indubitavelmente, apontam que os eventos aconteceram por volta do período patriarcal, e mais precisamente em contemporâneidade com Jacó e seus filhos. Escrutinemos os indícios:
• Os procedimentos, os costumes e o estilo de vida geral apresentados no livro remetem diretamente ao período patriarcal (cerca 1800 a.C.);
• Não há nenhuma referência à lei mosaica, nem ao tabernáculo, ou a algum elemento histórico de Israel, etc.; além do quê, nem mesmo o nome que Deus passou a se revelar a partir de Moisés (Êx 6.3) — o conhecido tetragrama (YHWH) — é mencionado, mas somente o nome antigo pelo qual os patriarcas conheciam a Deus: El-Shadai, isto é, o Todo-Poderoso (cf. Jó 5.17; 6.14; 8.5; 11.7; 13.3; 15.25; 21.15,20; 22.3,17,23,25,26; 23.16; 24.1; 27.2,11,13; 29.5; 31.35; 33.4; 34.10,12; 35.13; 37.23; 40.2);
• Tanto no começo quanto no final do livro menciona-se que era o próprio Jó quem oferecia sacrifícios a Deus, o que denota a ausência da classe sacerdotal — o que, conseguintemente, implica em Jó ter vivido numa era anteior à de Moisés (cf. Jó 1.5; 42.7-10);
• A longevidade de Jó demanda que ele tenha vivido no período patriarcal — haja vista ser esse um privilégio alcançado somente nos dias dos patriarcas (Jó 42.16,17);
• Depreende-se, ao lume dos indícios, que um dos "amigos" de Jó apresentados no livro — a saber, Elifaz (Jó 2.11) — era o mesmo que foi mencionado em Gênesis como filho de Esaú e como vivendo no período patriarcal (Gn 36.3,10).
Portanto, é razoável situar Jó ao período dos filhos do patriarca Jacó. Existem tradições, inclusive, que o identificam como descendente de Naor, o irmão de Abraão.
Seja como for, o fato é que a narrativa bíblica concernente a Jó é real, e não parabólica (cf. Ez 14.14; Tg 5.11), e que seu conteúdo foi reprisado numa carta paulina, evidenciando claramente a sua inspiração (1 Co 1.19 comp. Jó 5.12). Sendo assim, há grandes coisas que podemos aprender com esse relato bíblico verídico.
Na conclusão de seu discurso, Elifaz utiliza a sua idade e experiência de vida para consubstanciar a sua assertiva (cf. Jó 5.27).
A Resposta de Jó: Jó responde primeiramente voltando a chamar a atenção de seus amigos para a sua dor e sofrimento. Ele começa afirmando hiperbólicamente que o peso de suas aflições, se colocadas numa balança, excederiam o peso da areia do mar (Jó 6.2,3). Contristado, Jó chega a até mesmo desejar avidamente a morte, em virtude de não estar mais suportando tamanhas tribulações (Jó 6.8-13).
Depois deste lastimoso desabafo, Jó exprime o seu desapontamento com a resposta de Elifaz (Jó 6.14,15), e exige que ele lhe mostre os seus erros, já que o acusou (Jó 6.24).
Por fim, Jó roga clemência ao Todo-Poderoso (Jó 7.1-21).
O Discurso de Bildade: Bildade baseia-se em três premissas:
1. Os caminhos de Deus são justos (Jó 8.3);
2. Deus castiga o ímpio e abençoa o justo (Jó 8.20-22);
3. Logo, Deus é justo em punir Jó, pois seus filhos eram ímpios (Jó 8.4).
Contudo, Bildade deseja a restauração de Jó. Para isso, então, lhe exorta ao arrependimento (Jó 8.5,6).
A Resposta de Jó: Jó responde deixando explícito em sua retórica que ele também acredita que Deus é Justo (Jó 9.2).
Ele contrasta a grandeza de Deus com a sua pequeneza. Contudo, ao fazer isso infelizmente Jó começou a apresentar noções de uma visão tirânica sobre Deus.
O quadro desesperador que Jó tinha de Deus naquele momento era o de um tirano que destruía arbitrariamente a quem quisesse, sem importar se tratava-se de um inocente ou de um culpado; um Deus que possui prazer em afligir os seres humanos que criou (cf. Jó 9.22-28; 10.3).
O Discurso de Zofar: De todos os amigos de Jó, Zofar era o mais agressivo em seu temperamento e, por extensão, em suas palavras. Isso fica transparecido em todos os seus discursos — e neste em especial. Para Zofar, Jó é um mentiroso e um arrogante; alguém que não queria reconhecer seus erros (Jó 11.3,4); sendo assim, Jó estaria recebendo menos do que merecia pela sua iniquidade (Jó 11.5,6).
Como um campeão em defender a tradição e um zelador à risca da ortodoxia teológica da época, Zofar não aceita que Jó seja um inocente. Para ele, Jó deveria estar escondendo alguma coisa que fez. Por isso, Zofar adverte-o para o fato de que Deus vê tudo (Jó 11.11). Na cosmovisão deste intransigente "amigo" de Jó, a única solução seria Jó arrepender-se de seus pecados (Jó 11.13-19). Do contrário, ele certamente morreria (Jó 11.20).
A Resposta de Jó: Jó responde o discurso colérico de Zofar com uma ironia: Sem dúvidas vocês são o povo, e a sabedoria morrerá com vocês! (Jó 12.1, NVI). Jó rebate esta jactância de seus amigos, em pressuporem que eles são os "detentores da sabedoria", enquanto Jó não sabia nada. Jó responde: Não vos sou inferior... (Jó 12.3; 13.2).
Após um sucinto discurso tratando da grandeza e soberania do Todo Poderoso (Jó 12.7-25), Jó expressa o seu anseio por um encontro pessoal com esse Deus, para dialogar com Ele sobre as suas aflições (Jó 13.2). Esta esperança é o consolo de Jó. Já os seus amigos, diz ele, "são médicos que não valem nada", haja vista as palavras com que se dirigiam a Jó, que serviam mais para acusá-lo do que para consolá-lo (Jó 13.4). Eles tentavam transparecer sabedoria de forma debalde, pois a atitude mais sábia que poderiam tomar era o silêncio (Jó 13.5).
Contudo, já que seus amigos lhe acusavam tanto de haver cometido pecado, mas não apontavam qual era, Jó recorre a Deus, inquirindo a Ele sobre qual seria a sua transgressão e o motivo de seu sofrimento (Jó 13.23-28).
Mas, infelizmente, Jó permanecia resoluto na sua visão tirânica sobre Deus (cf. Jó 14.19-22).
Novamente, Elifaz utiliza a sua idade avançada e a sua experiência de vida para endossar a sua tese (cf. Jó 15.10).
A Resposta de Jó: Jó inicia sua resposta a Elifaz acusando seus amigos de falta de compaixão e misericórdia. Ele convida-os à possuirem um pouco de empatia, imaginando-se no lugar dele. Jó diz: Bem que eu poderia falar como vocês, se estivessem em meu lugar; eu poderia condená-los com belos discursos, e menear a cabeça contra vocês. Mas a minha boca procuraria encorajá-los; a consolação dos meus lábios lhes daria alívio (Jó 16.4,5 - NVI). Jó, como amigo, jamais condenaria e zombaria de seus amigos, sobretudo num momento tão dorolido como aquele. Contudo, seus "amigos" não tinham essa noção empática. Eles eram, na verdade, grandemente apáticos.
Sabendo disso, Jó perde toda esperança de receber alívio por parte de seus companheiros. Ele sabe que eles não estão dispostos nem à ouvi-lo nem à confortá-lo, mas tão-somente à condená-lo. Então, Jó dirige agora os seus diálogos a Deus, o Todo-Poderoso; apelando-Lhe para averiguar a sua inocência.
Jó aspirava por um árbitro entre Deus e a humanidade (Jó 16.21; 17.3). Felizmente, esta solicitação foi atendida cerca de 2.000 anos mais tarde, na pessoa bendita de Cristo, o único e suficiente Mediador entre Deus e os homens (cf. 1 Tm 2.5).
O Discurso de Bildade: Bildade inicia seu segundo discurso considerando tolas as palavras de Jó e até mesmo zombando-o (cf. Jó 18.1-4). Bildade prenuncia que Jó é um pecador endurecido, um perverso; assim sendo, o seu fim é a destruição, não havendo arrependimento (Jó 18.5-21).
A Resposta de Jó: Mais uma vez, Jó apela aos seus amigos para serem mais empáticos com ele. A bem da verdade, Jó impressiona-se de que eles não tenham tido vergonha do modo como estavam o tratando (cf. Jó 19.3b). Jó reprisa o fato de que, ainda que ele estivesse errado, não deveria ser tratado daquela maneira (Jó 19.2,4; cf. 6.14).
Jó ainda possuia noções tirânicas sobre Deus (cf. Jó 19.5-22). Contudo, ele possuia a esperança de que, no final, ele seria inocentado perante o Senhor: Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a Terra (Jó 19.25).
Por fim, Jó dá uma clara admoestação aos seus amigos (Jó 19.28,29). Desta vez, ele não somente lastima o modo como eles lhe tratavam, mas os adverte de que Deus é Juiz Justo e castiga.
O Discurso de Zofar: Zofar não deixou de ser aquele homem colérico em exuberância. Pelo contrário: suas palavras ainda demonstram uma grande fúria contra Jó.
Zofar ficou perturbado com os discursos de Jó, e assegurou refutá-los (Jó 20.1-3). Ele "fez" isso descrevendo as calamidades que os ímpios sofrem. Ele anuncia sobre o fim trágico dos perversos e dos hipócritas, e inclui Jó nessa categoria de pessoas (Jó 20.4-29).
Este foi o último discurso de Zofar, que, devido à sua ira extremada, deixou de respondê-lo.
A Resposta de Jó: Após fazer novamente um apelo para que seus amigos o ouçam (cf. Jó 21.1-6), Jó muda o foco do seu discurso: ele para de focar em suas aflições, e direciona o foco para o famigerado conceito muito vigente na teologia da época: o conhecido princípio da retribuição. Jó pretende refutar esta ideia legalista de Zofar de que os sofrimentos são unicamente destinados aos ímpios; e, por sua vez, o bem aos justos. Jó demonstra claramente que os ímpios muitas vezes são bem-sucedidos, e nenhum mal lhes acontece — contrariando Zofar (Jó 21.7-33).
Infelizmente, ainda existem nos dias atuais falsos profetas que propalam esses ensinos heréticos de Zofar, apregoando que aos justos não pode acontecer nada ruim, uma vez que isso é destinados somente aos ímpios. O crente deve ser rico, bem de saúde, completamente próspero, etc.; caso contrário, há algo de errado com ele. Esse evangelho maldito, conhecido popularmente como Teologia da Prosperidade, foi desde aquela época reprovado por Deus (cf. Jó 42.7-9).
Elifaz deixa bem clara a sua visão, não muito diferente da de seus outros amigos: a única esperança para Jó é o arrependimento (Jó 22.21-30).
A Resposta de Jó: Assim como Elifaz ignorou seus argumentos, Jó agora ignora os seus amigos. Ele volta a apelar para Deus.
Em seu discurso, percebe-se claramente o anseio de Jó por um encontro pessoal com Deus (Jó 23.1-17). A sua solicitação foi atendida pelo Senhor (cf. Jó 38-41). Assim, podemos afirmar com certeza que as duas solicitações que Jó fez em vida foram atendidas: a primeira — a por um encontro pessoal com Deus, desejo que era muito manifestado em seus discursos (cf. Jó 13.22; 23.1-17; 31.25); e a segunda — a por um ábitro entre Deus e a humanidade (Jó 9.33; 16.21; 17.3; 19.25; cf. 1 Tm 2.5). Deus atende às orações!
Já prosseguindo no monólogo, Jó continua a desmantelar a errônea doutrina da retribuição (Jó 24.1-17). Por mais que seu amigo Elifaz tenha ignorado seus argumentos, ele deseja que seus amigos cogitem sobre as falácias de suas teologias.
O Discurso de Bildade: Em seu último discurso, Bildade baseia-se sucintamente em duas proposições:
1. Ninguém pode discutir com Deus (Jó 25.2,3, 5,6); e
2. Ninguém pode afirmar que é puro diante de Deus (Jó 25.4).
Estas duas proposições, somadas em conjunto, conduzem à seguinte conclusão: nem de longe, Deus ouviria Jó.
Mas, felizmente, esta conclusão estava errada.
A Resposta de Jó: Jó fica irritado com seus amigos, especialmente com Bildade (Jó 26.1-4). Ele exalta o poder de Deus (Jó 26.5-14), mas ainda é resoluto na confissão de sua inocência (Jó 27.1-6). Embora não creia na doutrina da retribuição, Jó ainda exprime a convicção de que, no final, os ímpios hão de ser punidos, pois Deus é Justo e misericordioso (Jó 27.7-23).
Jó sabia que Deus tinha uma reposta a tudo aquilo; ademais, Ele é infinito em sabedoria; Ele é o detentor perpétuo dela (Jó 28). Somente Ele pode resolver as questões irrespondíveis da vida.
Contudo, de uma coisa Jó tinha certeza: o seu sofrimento não se devia a algum pecado, mas continha alguma razão mais profunda que somente Deus conhecia (Jó 29.1—31.40).
O Discurso de Eliú
Findado o discurso de Jó, os seus três amigos cessaram de respondê-lo (cf. Jó 32.1). Então Eliú, um jovem que estva acompanhado junto dos três amigos de Jó para escutá-los, ficou enfurecido. A sua ira devia-se ao fato de os três amigos de Jó — homens idosos — não terem descobrido a razão do sofrimento de Jó; todavia, mesmo assim condenavam-no (Jó 32.1—33.1-7).
Eliú segue a cosmovisão de Bildade quando diz que não podemos pedir explicações a Deus por aquilo que acontece (Jó 33.12,13). O resultado dessa tese seria invariavelmente o mesmo: Deus não ouviria o clamor de Jó.
Eliú demonstrou-se completamente imparcial em seu discurso. Ele foi contra a atitude dos amigos de Jó, e os reprimendou (Jó 32.6-10), mas também foi contra o próprio Jó, e o repreendeu severamente (cf. Jó 34.5-9, 31-37).
Para Eliú, aqueles sofrimentos faziam parte de uma disciplina educacional de Deus para Jó. Em sua percepção, aquilo era sim o resultado do pecado de Jó — que não queria reconhecer isso por sua arrogância (Jó 35.14-16).
Por fim, Eliú descreve, grosso modo, o grande poder de Deus, com o objetivo de instigar Jó a temê-lo (Jó 36.1—37.24).
A Resposta do Senhor
Quando finalmente todos terminaram de arguir, Deus vem em um redemoinho e responde a Jó (Jó 38.1). É importante salientarmos, contudo, que a resposta de Deus não pretendia ser uma explicação para os sofrimentos de Jó, mas sim contrastar a Onipotência de Deus com a impotência de Jó. E Deus faz isso descrevendo a grandeza da Terra (38.2-18), a complexidade dos céus (38.19-38), e as criaturas que Ele criou (38.39—39.30). Tudo isso tornou Jó mais humilde (Jó 40.3-5), e fê-lo reconhecer que Deus, como Senhor e Soberano, está numa posição infinitamente maior do que Jó. Como disse o apóstolo Paulo, os juízos de Deus são insondáveis; e, os seus caminhos, inexcrutáveis (Rm 11.33).
Agora Jó é confrontado pela santidade e grandeza do Todo-Poderoso. Os resultados são notáveis: Jó perde de uma vez por todas as noções erradas que ele tinha sobre Deus (como a tirania e prepotência divina, por exemplo). Agora, diz ele, Te vêem os meus olhos (Jó 42.5). Com essa experiência, tudo mudou!
Seguidamente, Deus repreende os três amigos de Jó, por terem falado ideias errôneas sobre Ele (Jó 42.7-9). Mas nada diz referente a Eliú. Deus não confirma, não reconhece, não repreende, nem responde a Eliú.
Enquanto Jó orava pelos seus amigos, Deus mudou o seu cativeiro peremptoriamente (Jó 42.10). Deus restituiu tudo em dobro a Jó, e fê-lo viver por mais longos dias (Jó 42.12-17).
Satanás estava errado. Jó, de fato, amava a Deus incondicionalmente, e era fiel a Ele, mesmo com suas inquietações intensas e constantes.
Por: Daniel Cardoso.
• Os procedimentos, os costumes e o estilo de vida geral apresentados no livro remetem diretamente ao período patriarcal (cerca 1800 a.C.);
• Não há nenhuma referência à lei mosaica, nem ao tabernáculo, ou a algum elemento histórico de Israel, etc.; além do quê, nem mesmo o nome que Deus passou a se revelar a partir de Moisés (Êx 6.3) — o conhecido tetragrama (YHWH) — é mencionado, mas somente o nome antigo pelo qual os patriarcas conheciam a Deus: El-Shadai, isto é, o Todo-Poderoso (cf. Jó 5.17; 6.14; 8.5; 11.7; 13.3; 15.25; 21.15,20; 22.3,17,23,25,26; 23.16; 24.1; 27.2,11,13; 29.5; 31.35; 33.4; 34.10,12; 35.13; 37.23; 40.2);
• Tanto no começo quanto no final do livro menciona-se que era o próprio Jó quem oferecia sacrifícios a Deus, o que denota a ausência da classe sacerdotal — o que, conseguintemente, implica em Jó ter vivido numa era anteior à de Moisés (cf. Jó 1.5; 42.7-10);
• A longevidade de Jó demanda que ele tenha vivido no período patriarcal — haja vista ser esse um privilégio alcançado somente nos dias dos patriarcas (Jó 42.16,17);
• Depreende-se, ao lume dos indícios, que um dos "amigos" de Jó apresentados no livro — a saber, Elifaz (Jó 2.11) — era o mesmo que foi mencionado em Gênesis como filho de Esaú e como vivendo no período patriarcal (Gn 36.3,10).
Portanto, é razoável situar Jó ao período dos filhos do patriarca Jacó. Existem tradições, inclusive, que o identificam como descendente de Naor, o irmão de Abraão.
Seja como for, o fato é que a narrativa bíblica concernente a Jó é real, e não parabólica (cf. Ez 14.14; Tg 5.11), e que seu conteúdo foi reprisado numa carta paulina, evidenciando claramente a sua inspiração (1 Co 1.19 comp. Jó 5.12). Sendo assim, há grandes coisas que podemos aprender com esse relato bíblico verídico.
III. A Colossal Provação de Jó
As Escrituras mostram-nos que Jó foi provado de forma muitíssimo ciclópica.
A sua provação divide-se em duas fases, respectivamente:
A primeira fase da provação de Jó foi a que atingiu tudo o que estava ao seu redor. Contudo, a principal área provada foram as suas emoções.
Com relação às suas finanças, ele perdeu em um único dia todos os seus mil bois, as suas quinhentas jumentas, as suas sete mil ovelhas e os seus três mil camelos. Entretanto, lamentavelmente, junto à perda de seus rebanhos somou-se a morte de todos os seus servos, com exceção dos que lhe trouxeram essa triste notícia (cf. Jó 1.13-17).
No entanto, o que mais mexeu no âmago de suas emoções foi que, ainda no mesmo dia, os seus sete filhos e três filhas faleceram (Jó 1.18,19). Mas, incrivelmente, foi neste momento deveras tão dorolido que Jó prostrou-se em terra e adorou ao Senhor (Jó 1.20,21).
Já na segunda fase da provação de Jó, ele mesmo foi o atingido, porquanto chagas malignas lhe foram lançadas por Satanás, da planta do pé até o alto da cabeça (Jó 2.7).
Mais tarde, já em companhia de seus três "amigos", Jó descreve um pouco de sua mui violenta dor e enfermidade: O meu corpo está coberto de bichos e de cascas de feridas; a minha pele racha, e dela escorre pus (Jó 7.5, NTLH). Dolorido, Jó tomou um pedaço de telha para raspar suas feridas, e assentou-se no meio da cinza (Jó 2.8).
A esposa de Jó, vendo que ele continuava firme em sua fidelidade a Deus, reprimendou seu marido e o abandonou (Jó 2.9). Mas Jó manteve sua conduta irreprensível perante o seu Senhor: Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios (Jó 2.10).
Contudo, aprouvera a Deus que permitisse ainda mais uma provação para Jó: a zombaria de seus "amigos". Ao invés de ajudarem-lhe com consolo, eles somente o culpavam por tudo.
Mas após Jó com suas fraquezas ter vencido às provações, Deus apareceu a ele e mudou o seu estado peremptoriamente.
IV. As Inquietações de Jó, as Falácias de Seus Amigos e a Resposta do Senhor
Em meio às desmedidas dores de Jó, seus amigos apareceram com o intuito de consolá-lo. Entretanto, só de terem visto ainda em terra longínqua a sua aparência toda desfigurada, não suportaram e puseram-se a chorar, prostrados e com os mantos rasgados. Seguidamente, quando finalmente aproximaram-se dele, assentaram-se por sete dias e sete noites inteiras, calados, e absortos em sua dor intensa (cf. Jó 2.12, 13).
Após todo esse tempo de divagação sobre a aflição de Jó, os diálogos começam. Jó inicia-os com uma explosão, derramando uma torrente de dor e amargura e amaldiçoando a sua concepção e o seu nascimento (Jó 3). Depois disso, há um diálogo de três fases entre Jó e seus três amigos, que começava por ordem de idade: primeiro Elifaz, o temanita; seguidamente, Bildade, o suíta; e, depois, Zofar, o naamatita.
A Primeira Fase
O Discurso de Elifaz: Em seu discurso, Elifaz baseou a sua posição num conceito teológico muito crido no mundo antigo: o cognominado princípio da retribuição — a ideia de que tudo que ocorre é fruto de nossas ações. Ele utilizou este conceito para arguir que Jó era o culpado por tudo aquilo que lhe sobreveio. Na cosmovisão de Elifaz aquele sofrimento de Jó era nada mais do que um castigo de Deus para ele (Jó 5.17); destarte, Jó devia arrepender-se de seus pecados (Jó 5.8).Na conclusão de seu discurso, Elifaz utiliza a sua idade e experiência de vida para consubstanciar a sua assertiva (cf. Jó 5.27).
A Resposta de Jó: Jó responde primeiramente voltando a chamar a atenção de seus amigos para a sua dor e sofrimento. Ele começa afirmando hiperbólicamente que o peso de suas aflições, se colocadas numa balança, excederiam o peso da areia do mar (Jó 6.2,3). Contristado, Jó chega a até mesmo desejar avidamente a morte, em virtude de não estar mais suportando tamanhas tribulações (Jó 6.8-13).
Depois deste lastimoso desabafo, Jó exprime o seu desapontamento com a resposta de Elifaz (Jó 6.14,15), e exige que ele lhe mostre os seus erros, já que o acusou (Jó 6.24).
Por fim, Jó roga clemência ao Todo-Poderoso (Jó 7.1-21).
O Discurso de Bildade: Bildade baseia-se em três premissas:
1. Os caminhos de Deus são justos (Jó 8.3);
2. Deus castiga o ímpio e abençoa o justo (Jó 8.20-22);
3. Logo, Deus é justo em punir Jó, pois seus filhos eram ímpios (Jó 8.4).
Contudo, Bildade deseja a restauração de Jó. Para isso, então, lhe exorta ao arrependimento (Jó 8.5,6).
A Resposta de Jó: Jó responde deixando explícito em sua retórica que ele também acredita que Deus é Justo (Jó 9.2).
Ele contrasta a grandeza de Deus com a sua pequeneza. Contudo, ao fazer isso infelizmente Jó começou a apresentar noções de uma visão tirânica sobre Deus.
O quadro desesperador que Jó tinha de Deus naquele momento era o de um tirano que destruía arbitrariamente a quem quisesse, sem importar se tratava-se de um inocente ou de um culpado; um Deus que possui prazer em afligir os seres humanos que criou (cf. Jó 9.22-28; 10.3).
O Discurso de Zofar: De todos os amigos de Jó, Zofar era o mais agressivo em seu temperamento e, por extensão, em suas palavras. Isso fica transparecido em todos os seus discursos — e neste em especial. Para Zofar, Jó é um mentiroso e um arrogante; alguém que não queria reconhecer seus erros (Jó 11.3,4); sendo assim, Jó estaria recebendo menos do que merecia pela sua iniquidade (Jó 11.5,6).
Como um campeão em defender a tradição e um zelador à risca da ortodoxia teológica da época, Zofar não aceita que Jó seja um inocente. Para ele, Jó deveria estar escondendo alguma coisa que fez. Por isso, Zofar adverte-o para o fato de que Deus vê tudo (Jó 11.11). Na cosmovisão deste intransigente "amigo" de Jó, a única solução seria Jó arrepender-se de seus pecados (Jó 11.13-19). Do contrário, ele certamente morreria (Jó 11.20).
A Resposta de Jó: Jó responde o discurso colérico de Zofar com uma ironia: Sem dúvidas vocês são o povo, e a sabedoria morrerá com vocês! (Jó 12.1, NVI). Jó rebate esta jactância de seus amigos, em pressuporem que eles são os "detentores da sabedoria", enquanto Jó não sabia nada. Jó responde: Não vos sou inferior... (Jó 12.3; 13.2).
Após um sucinto discurso tratando da grandeza e soberania do Todo Poderoso (Jó 12.7-25), Jó expressa o seu anseio por um encontro pessoal com esse Deus, para dialogar com Ele sobre as suas aflições (Jó 13.2). Esta esperança é o consolo de Jó. Já os seus amigos, diz ele, "são médicos que não valem nada", haja vista as palavras com que se dirigiam a Jó, que serviam mais para acusá-lo do que para consolá-lo (Jó 13.4). Eles tentavam transparecer sabedoria de forma debalde, pois a atitude mais sábia que poderiam tomar era o silêncio (Jó 13.5).
Contudo, já que seus amigos lhe acusavam tanto de haver cometido pecado, mas não apontavam qual era, Jó recorre a Deus, inquirindo a Ele sobre qual seria a sua transgressão e o motivo de seu sofrimento (Jó 13.23-28).
Mas, infelizmente, Jó permanecia resoluto na sua visão tirânica sobre Deus (cf. Jó 14.19-22).
A Segunda Fase
O Discurso de Elifaz: Em seu segundo discurso, Elifaz se mostra mais impaciente com Jó. Ele o adverte duramente (Jó 15.2-6), e o trata como um ímpio e um arrogante. Nessa reprimenda, Elifaz admoesta Jó de que a dureza de coração traz graves consequências. Ele aconselha Jó a parar de justificar a si mesmo (Jó 15.31), pois assim Jó estaria enganando-se, e o seu fim seriam as maldições que cabem aos perversos (cf. Jó 15.17-35).Novamente, Elifaz utiliza a sua idade avançada e a sua experiência de vida para endossar a sua tese (cf. Jó 15.10).
A Resposta de Jó: Jó inicia sua resposta a Elifaz acusando seus amigos de falta de compaixão e misericórdia. Ele convida-os à possuirem um pouco de empatia, imaginando-se no lugar dele. Jó diz: Bem que eu poderia falar como vocês, se estivessem em meu lugar; eu poderia condená-los com belos discursos, e menear a cabeça contra vocês. Mas a minha boca procuraria encorajá-los; a consolação dos meus lábios lhes daria alívio (Jó 16.4,5 - NVI). Jó, como amigo, jamais condenaria e zombaria de seus amigos, sobretudo num momento tão dorolido como aquele. Contudo, seus "amigos" não tinham essa noção empática. Eles eram, na verdade, grandemente apáticos.
Sabendo disso, Jó perde toda esperança de receber alívio por parte de seus companheiros. Ele sabe que eles não estão dispostos nem à ouvi-lo nem à confortá-lo, mas tão-somente à condená-lo. Então, Jó dirige agora os seus diálogos a Deus, o Todo-Poderoso; apelando-Lhe para averiguar a sua inocência.
Jó aspirava por um árbitro entre Deus e a humanidade (Jó 16.21; 17.3). Felizmente, esta solicitação foi atendida cerca de 2.000 anos mais tarde, na pessoa bendita de Cristo, o único e suficiente Mediador entre Deus e os homens (cf. 1 Tm 2.5).
O Discurso de Bildade: Bildade inicia seu segundo discurso considerando tolas as palavras de Jó e até mesmo zombando-o (cf. Jó 18.1-4). Bildade prenuncia que Jó é um pecador endurecido, um perverso; assim sendo, o seu fim é a destruição, não havendo arrependimento (Jó 18.5-21).
A Resposta de Jó: Mais uma vez, Jó apela aos seus amigos para serem mais empáticos com ele. A bem da verdade, Jó impressiona-se de que eles não tenham tido vergonha do modo como estavam o tratando (cf. Jó 19.3b). Jó reprisa o fato de que, ainda que ele estivesse errado, não deveria ser tratado daquela maneira (Jó 19.2,4; cf. 6.14).
Jó ainda possuia noções tirânicas sobre Deus (cf. Jó 19.5-22). Contudo, ele possuia a esperança de que, no final, ele seria inocentado perante o Senhor: Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a Terra (Jó 19.25).
Por fim, Jó dá uma clara admoestação aos seus amigos (Jó 19.28,29). Desta vez, ele não somente lastima o modo como eles lhe tratavam, mas os adverte de que Deus é Juiz Justo e castiga.
O Discurso de Zofar: Zofar não deixou de ser aquele homem colérico em exuberância. Pelo contrário: suas palavras ainda demonstram uma grande fúria contra Jó.
Zofar ficou perturbado com os discursos de Jó, e assegurou refutá-los (Jó 20.1-3). Ele "fez" isso descrevendo as calamidades que os ímpios sofrem. Ele anuncia sobre o fim trágico dos perversos e dos hipócritas, e inclui Jó nessa categoria de pessoas (Jó 20.4-29).
Este foi o último discurso de Zofar, que, devido à sua ira extremada, deixou de respondê-lo.
A Resposta de Jó: Após fazer novamente um apelo para que seus amigos o ouçam (cf. Jó 21.1-6), Jó muda o foco do seu discurso: ele para de focar em suas aflições, e direciona o foco para o famigerado conceito muito vigente na teologia da época: o conhecido princípio da retribuição. Jó pretende refutar esta ideia legalista de Zofar de que os sofrimentos são unicamente destinados aos ímpios; e, por sua vez, o bem aos justos. Jó demonstra claramente que os ímpios muitas vezes são bem-sucedidos, e nenhum mal lhes acontece — contrariando Zofar (Jó 21.7-33).
Infelizmente, ainda existem nos dias atuais falsos profetas que propalam esses ensinos heréticos de Zofar, apregoando que aos justos não pode acontecer nada ruim, uma vez que isso é destinados somente aos ímpios. O crente deve ser rico, bem de saúde, completamente próspero, etc.; caso contrário, há algo de errado com ele. Esse evangelho maldito, conhecido popularmente como Teologia da Prosperidade, foi desde aquela época reprovado por Deus (cf. Jó 42.7-9).
Terceira Fase
O Discurso de Elifaz: Em seu último discurso, Elifaz simplesmente ignora os argumentos apresentados. Em vez disso, ele acusa Jó de alguns pecados específicos (Jó 22.1-11) — que mais tarde foram negados por Jó (cf. Jó 31).Elifaz deixa bem clara a sua visão, não muito diferente da de seus outros amigos: a única esperança para Jó é o arrependimento (Jó 22.21-30).
A Resposta de Jó: Assim como Elifaz ignorou seus argumentos, Jó agora ignora os seus amigos. Ele volta a apelar para Deus.
Em seu discurso, percebe-se claramente o anseio de Jó por um encontro pessoal com Deus (Jó 23.1-17). A sua solicitação foi atendida pelo Senhor (cf. Jó 38-41). Assim, podemos afirmar com certeza que as duas solicitações que Jó fez em vida foram atendidas: a primeira — a por um encontro pessoal com Deus, desejo que era muito manifestado em seus discursos (cf. Jó 13.22; 23.1-17; 31.25); e a segunda — a por um ábitro entre Deus e a humanidade (Jó 9.33; 16.21; 17.3; 19.25; cf. 1 Tm 2.5). Deus atende às orações!
Já prosseguindo no monólogo, Jó continua a desmantelar a errônea doutrina da retribuição (Jó 24.1-17). Por mais que seu amigo Elifaz tenha ignorado seus argumentos, ele deseja que seus amigos cogitem sobre as falácias de suas teologias.
O Discurso de Bildade: Em seu último discurso, Bildade baseia-se sucintamente em duas proposições:
1. Ninguém pode discutir com Deus (Jó 25.2,3, 5,6); e
2. Ninguém pode afirmar que é puro diante de Deus (Jó 25.4).
Estas duas proposições, somadas em conjunto, conduzem à seguinte conclusão: nem de longe, Deus ouviria Jó.
Mas, felizmente, esta conclusão estava errada.
A Resposta de Jó: Jó fica irritado com seus amigos, especialmente com Bildade (Jó 26.1-4). Ele exalta o poder de Deus (Jó 26.5-14), mas ainda é resoluto na confissão de sua inocência (Jó 27.1-6). Embora não creia na doutrina da retribuição, Jó ainda exprime a convicção de que, no final, os ímpios hão de ser punidos, pois Deus é Justo e misericordioso (Jó 27.7-23).
Jó sabia que Deus tinha uma reposta a tudo aquilo; ademais, Ele é infinito em sabedoria; Ele é o detentor perpétuo dela (Jó 28). Somente Ele pode resolver as questões irrespondíveis da vida.
Contudo, de uma coisa Jó tinha certeza: o seu sofrimento não se devia a algum pecado, mas continha alguma razão mais profunda que somente Deus conhecia (Jó 29.1—31.40).
O Discurso de Eliú
Findado o discurso de Jó, os seus três amigos cessaram de respondê-lo (cf. Jó 32.1). Então Eliú, um jovem que estva acompanhado junto dos três amigos de Jó para escutá-los, ficou enfurecido. A sua ira devia-se ao fato de os três amigos de Jó — homens idosos — não terem descobrido a razão do sofrimento de Jó; todavia, mesmo assim condenavam-no (Jó 32.1—33.1-7).
Eliú segue a cosmovisão de Bildade quando diz que não podemos pedir explicações a Deus por aquilo que acontece (Jó 33.12,13). O resultado dessa tese seria invariavelmente o mesmo: Deus não ouviria o clamor de Jó.
Eliú demonstrou-se completamente imparcial em seu discurso. Ele foi contra a atitude dos amigos de Jó, e os reprimendou (Jó 32.6-10), mas também foi contra o próprio Jó, e o repreendeu severamente (cf. Jó 34.5-9, 31-37).
Para Eliú, aqueles sofrimentos faziam parte de uma disciplina educacional de Deus para Jó. Em sua percepção, aquilo era sim o resultado do pecado de Jó — que não queria reconhecer isso por sua arrogância (Jó 35.14-16).
Por fim, Eliú descreve, grosso modo, o grande poder de Deus, com o objetivo de instigar Jó a temê-lo (Jó 36.1—37.24).
A Resposta do Senhor
Quando finalmente todos terminaram de arguir, Deus vem em um redemoinho e responde a Jó (Jó 38.1). É importante salientarmos, contudo, que a resposta de Deus não pretendia ser uma explicação para os sofrimentos de Jó, mas sim contrastar a Onipotência de Deus com a impotência de Jó. E Deus faz isso descrevendo a grandeza da Terra (38.2-18), a complexidade dos céus (38.19-38), e as criaturas que Ele criou (38.39—39.30). Tudo isso tornou Jó mais humilde (Jó 40.3-5), e fê-lo reconhecer que Deus, como Senhor e Soberano, está numa posição infinitamente maior do que Jó. Como disse o apóstolo Paulo, os juízos de Deus são insondáveis; e, os seus caminhos, inexcrutáveis (Rm 11.33).
Agora Jó é confrontado pela santidade e grandeza do Todo-Poderoso. Os resultados são notáveis: Jó perde de uma vez por todas as noções erradas que ele tinha sobre Deus (como a tirania e prepotência divina, por exemplo). Agora, diz ele, Te vêem os meus olhos (Jó 42.5). Com essa experiência, tudo mudou!
Seguidamente, Deus repreende os três amigos de Jó, por terem falado ideias errôneas sobre Ele (Jó 42.7-9). Mas nada diz referente a Eliú. Deus não confirma, não reconhece, não repreende, nem responde a Eliú.
Enquanto Jó orava pelos seus amigos, Deus mudou o seu cativeiro peremptoriamente (Jó 42.10). Deus restituiu tudo em dobro a Jó, e fê-lo viver por mais longos dias (Jó 42.12-17).
V. Conclusão
Satanás estava errado. Jó, de fato, amava a Deus incondicionalmente, e era fiel a Ele, mesmo com suas inquietações intensas e constantes.
Com esta história épica podemos aprender que:
• Deus é Soberano, e, por vezes, não conseguimos entender os seus caminhos. Mas, ainda assim, devemos nos sujeitar a Ele e repousar em Seu infinito amor e cuidado para conosco;
• Devemos ser fiéis a Deus a qualquer custo, e aconteça o que acontecer;
• Deus galardoou a Jó; e, do mesmo modo, galardoará aos fiéis, porque, quanto mais tribulações passarmos, maior será o peso de glória que em nós será revelado na eternidade (2 Co 4.17). Jamais esqueça: vale a pena ser fiel!
O reconhecimento de Deus a Jó não se limitou apenas a uma geração (cf. Ez 14.14). Deus reconhece o fiel, e mantém seu compromisso com ele para sempre!
Por: Daniel Cardoso.