I. O Que é a Oração?
A palavra oração vem do grego προσευχή, que aparece 37 vezes no Novo Testamento. Outro termo que designa a prática da súplica ao Todo Poderoso é deomai — transliteração de δεομαι. Segundo o Dicionário Bíblico Strong, δεομαι significa: carecer, necessitar; desejar, ansiar por algo; pedir, suplicar; orar, fazer súplicas. Com efeito, é empregado para expressar as orações do crente ao Altíssimo, em cuja prática o cristão reconhece sua total carência e dependência de Deus, concomitantemente com sua aspiração por Sua presença: Como o cervo brama pelas correntes de águas, assim supira a minha alma por Ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei, e me apresentarei ante a face de Deus? (Sl 42.1,2).
As Sagradas Escrituras revelam-nos que a oração é uma aproximação da pessoa a Deus, por meio de palavras ou pensamentos; em particular ou em público. Inclui confissão (Sl 51), adoração (Sl 95.6,7; Ap 11.17), comunhão (Sl 103.1-8), gratidão (1 Tm 2.1), petição pessoal (2 Co 12.8) e intercessão pelos outros (Rm 10.1). Foi o meio que Jeová escolheu para manter um vínculo com o ser humano. Outrora, era possível ver o Senhor pessoalmente, pois o pecado não havia encetado-se (Gn 3.8). Após o pecado empregnar-se na raça humana, e haver depravado nossa matéria, o Senhor ainda proporcionou uma maneira de a humanidade ter contato com Ele: a oração.
Aqueles que foram regenerados por Cristo, tornando-se filhos de Deus (Jo 1.12; Tt 3.5), sentem em seu íntimo a necessidade do diálogo com o Pai celestial constantementemente (1 Ts 5.17); de sorte que, como filhos, "andamos com Deus" (Cl 2.6; 1 Ts 4.1), numa comunhão indescritível com Ele, alimentada através da oração. Somente através dela o crente pode manter-se firme; digamos, pois: Longe de mim que peque contra o Senhor, deixando de orar... (1 Sm 12.23).
O teólogo e avivalista Charles Finney (1792-1875), descreveu algumas características típicas do cristão que deixa de orar; dentre elas:
• Perseguir os que vivem em oração, chamando-os de fanáticos;
• Ser cada vez mais cético à experiências espirituais;
• Postular contra avivamentos, perturbando-se com eles.
Finney continuou a escrita advertindo as consequências do vazio espiritual e da falta de oração:
Nos dias desse célebre pregador, as igrejas estavam tomadas por uma formalidade gigantesca, e desdouravam a oração. A "crise" de manifestações espirituais já era gradativamente notória. Entrementes, o filósofo ateu Nietzshe, em sua ironia, chegou ao ponto de proclamar a morte de Deus, e sustentar que a igreja era o seu cemitério. O motivo que o levou a declarar isso foi notar que não havia espiritualidade alguma nas igrejas de seu tempo, somente academicismo e teorias; não sentia que os cristãos viviam a essência do Cristianismo de que tanto falavam. Certo é que a Igreja deve prezar pelo estudo; entretanto, não podemos deixar que a formalidade nos tire o fervor; cresçamos, antes, de modo concomitante na "graça e no conhecimento" de nosso Senhor Jesus Cristo (2 Pe 3.18).
Em linhas gerais, as Escrituras apresentam 2 tipos de oração. O apóstolo Paulo apresenta-as e discursa a importância de praticar ambas: Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento (1 Co 14.15a). Por conseguinte, há a oração com/no espírito, e a oração com o entendimento. Fica subentendido no capítulo que a oração em espírito referia-se àquela que ninguém entende, senão Deus (v. 16); uma clara referência às línguas (v. 2). Já a oração em entendimento refere-se àquela presente no conceito geral das Escrituras, em cuja prática nos dirigimos a Deus, mantendo um diálogo lógico e conhecido pela mente humana.
Mais adiante, Paulo assevera a importância da oração em espírito no mundo espiritual (Ef 6.18). Trata-se da arma secreta de Deus, que Ele utiliza para vitória de Sua igreja contra o Império das Trevas. O Espírito Santo guia-nos por meio das línguas a orar como convém em cada situação. Somos edificados na fé, orando nas palavras que o Santo Espírito nos concede a falar (cf. Jd v. 20).
Deveras, os discípulos admiravam a vida de oração constante e ininterrupta que Jesus tinha. Há constantes menções nos Evangelhos que testificam o vínculo que Cristo tinha com Seu Pai, depositando várias horas em diálogo com Ele (Mt 14.23; 26.36; Mc 1.35; 6.46; 14.32; 15.34; Lc 5.16; 6.12; 9.28; 22.32; 23.34,46; Jo 12.28; 17.9).
Numa dessas ocasiões, assim que Cristo terminou a oração, seus discípulos pediram-Lhe: Senhor, ensina-nos a orar... (Lc 11.1). Jesus respondeu-lhes: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu nome; venha o Teu Reino; dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano; perdoa-nos os nossos pecados, assim como nós perdoamos a qualquer que nos deve; e não nos conduzas em tentação, mas livra-nos do mal (Lc 11.2-4).
O objetivo de Cristo não era criar uma reza — do latim recitare, que significa recitar, repetir — visto que Ele mesmo condenou-a (Mt 6.7); mas sim estabelecer uma oração modelo, instruindo-nos na maneira como devemos nos dirigir ao Pai Celestial. Fica subentendido aqui que esta oração de Cristo é concomitantemente pessoal e intercessória — isto é, pedimos tanto por nós quanto pelos outros — através do termo nosso, que indica pluralidade. Em suma, tal termo aparece tanto na palavra Pai (Pai nosso, Mt 6.9); no substantivo pão (pão nosso de cada dia, Mt 6.11); e no pedido de perdão (Perdoa-nos os nossos pecados, Lc 11.4). Claramente, vemos aqui uma oração em que não somente se pede por si mesmo, mas também pelos demais. Uma oração intercessória, amorosa; e, acima de tudo, onde o Pai é glorificado. Este é, deveras, o desejo de Deus na nossa oração!
Além de a Oração Dominical ser concomitantemente pessoal e intercessória, ela é carregada de princípios primordiais que precisam estar em nossas orações. Cristo estabelece este modelo a partir de alguns termos que deixam claro a maneira como devemos orar:
Pai Nosso — denota intimidade pessoal com o Senhor. No AT, raramente empregava-se esse termo nas orações ao Altíssimo. Agora, porém, Cristo proporciona-nos uma nova vida de comunhão e relacionamento com Deus, como nunca antes obtido pelo ser humano.
Santificado seja o Teu nome — denota adoração. ευχαριστια é uma palavra grega que, nas Sagradas Escrituras, era usada para se falar de ação de graças e o ato de adorar ao Todo-Poderoso. Note-se, pois, que a adoração ao Senhor nas súplicas que Lhe dirigimos é tão importante, que o Santo Livro de Deus — a Bíblia — empregou um termo grego restritamente para a isso designar! Com efeito, o Pai procura os verdadeiros adoraradores, que o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23,24). YHWH deseja que o adoremos com consciência (Jo 4.22), reverência (Sl 89.7), fé (Hb 11.6) e obediência (Dt 28.1; Lc 6.46; Jo 14.15; Fp 1.11); e que venhamos prestar-Lhe adoração por Seus atributos, principalmente por Sua santidade (1 Cr 16.29; Sl 29.2; 96.9; 99.9). Por conseguinte, santificado seja o Teu nome estabelece o princípio da prece sob o preceito da adoração.
Venha o Teu Reino — essas palavras do Mestre são muito mais do que uma sugestão para se orar por um dia milenar distante, pois tudo nessa oração é atual. Sendo assim, temos de pedir o estabelecimento da lei de Deus não apenas em sua consumação no tempo vindouro, mas em nossas vidas e em situações atuais. Cristo insinua aqui a abnegação das vontades humanas, e uma submissão à vontade de Deus no tempo presente. Com efeito, o cristão, até mesmo nas vicissitudes da vida, deve orar a fito da vontade do Altíssimo ser feita (cf. Mt 6.10). Com instância, roguemos ao Pai para que Sua vontade seja cumprida em nós plenamente!
Dá-nos [...] — Jesus estimula aqui a oração para necessidades físicas e petições pessoais. Efetivamente, o Mestre diz-nos: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á (Mt 7.7). A Sagrada Escritura incentiva-nos a pedir quando os pedidos são ligados à vontade de Deus; e, principalmente, quando estão interligados com preocucações sobre Seu Reino. Pedidos como a efusão do Espírito (cf. Lc 11.13), e sabedoria (cf. Tg 1.5), tem garantia de estarem ligados à vontade de Deus; entretanto, o Livro do Senhor adverte-nos: Peça com fé, não duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa (Tg 1.6,7).
Perdoa-nos os nossos pecados [...] — o perdão é uma necessidade que o ser humano, depravado pelo pecado, tem. A raça humana está corrompida (cf. 2 Cr 6.36; Sl 14.2,3; 53.2,3; Mq 7.2; Rm 3.10-12), e carece de ser perdoada. Sendo assim, o Mestre ensina-nos aqui que devemos de todo coração suplicarmos o perdão do Onipotente. É nosso dever, literalmente, "lamentar e chorar nossas misérias" (cf. Tg 4.9,10), e reconhecer que se não fora o amor do Senhor, já teríamos sido consumidos (cf. Lm 3.22). Uma das maneiras de agradecermos-Lhe por Sua misericórdia e bondade é perdoando ao nosso próximo, demonstrando o amor de Deus. Se não agimos assim, somos ingratos; e, dos tais, o próprio Jesus advertiu: Se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai não perdoará as vossas (Mt 6.15).
Não nos conduzas em tentação, mas livra-nos do mal — Clararamente vemos aqui uma aspiração por santidade. Jesus corroborou mais adiante em Sua oração sacerdotal, ao dizer: Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal (Jo 17.15). O cristão, por mais que seje "peregrino e forasteiro" (cf. 1 Pe 2.11), não pode negligenciar o perigo que o cerca, se deixar de ter os olhos fitos no General (cf. Hb 12.2; 2 Tm 2.4). Assim sendo, deve pedir com instância ao Pai Celestial que Ele livre-o de cair nas tentações do vil tentador; e que, antes, possa ser firme e estribado na Rocha firme e singular: o Cristo de Deus! (cf. Mt 7. 24,25). Pois N'Ele estamos seguros; nada nos atingirá.
Por: Daniel Cardoso.
BIBLIOGRAFIA
Bíblia de Estudo Plenitude. Barueri (SP): SBB, 2001.
Dicionário da Bíblia de Almeida. Barueri (SP): SBB, 1999.
FINNEY, C.G. Princípios da Oração: Aprenda a orar com poder. São Paulo: Vida, 2011.
STRONG, J. Dicionário Bíblico Strong. Barueri (SP): SBB, 2002.
REGA, L.S; BERGMANN, J. Noções do Grego Bíblico: Gramática Fundamental. São Paulo: Vida Nova, 2004.
As Sagradas Escrituras revelam-nos que a oração é uma aproximação da pessoa a Deus, por meio de palavras ou pensamentos; em particular ou em público. Inclui confissão (Sl 51), adoração (Sl 95.6,7; Ap 11.17), comunhão (Sl 103.1-8), gratidão (1 Tm 2.1), petição pessoal (2 Co 12.8) e intercessão pelos outros (Rm 10.1). Foi o meio que Jeová escolheu para manter um vínculo com o ser humano. Outrora, era possível ver o Senhor pessoalmente, pois o pecado não havia encetado-se (Gn 3.8). Após o pecado empregnar-se na raça humana, e haver depravado nossa matéria, o Senhor ainda proporcionou uma maneira de a humanidade ter contato com Ele: a oração.
Aqueles que foram regenerados por Cristo, tornando-se filhos de Deus (Jo 1.12; Tt 3.5), sentem em seu íntimo a necessidade do diálogo com o Pai celestial constantementemente (1 Ts 5.17); de sorte que, como filhos, "andamos com Deus" (Cl 2.6; 1 Ts 4.1), numa comunhão indescritível com Ele, alimentada através da oração. Somente através dela o crente pode manter-se firme; digamos, pois: Longe de mim que peque contra o Senhor, deixando de orar... (1 Sm 12.23).
II. A Oração e o Mundo Espiritual
A oração tem valor fundamental espiritualmente. O apóstolo Paulo, após citar as armaduras de Deus em Efésios 6, termina sua descrição orientando aos irmãos a "orarem em espírito", em constantes súplicas ao Todo-Poderoso (v. 18). Deveras, queria ele demonstrar que, por mais que as armaduras sejam para uso do soldado na batalha, a oração é essencial para a pertinácia do soldado nela. Em suma, sem a oração o crente não cumprirá efetivamente a tarefa designada por aquEle que o alistou para a guerra; sem contato com Deus, será presa fácil de "embaraços" (2 Tm 2.4,5), e de "setas inflamadas" do maligno (Ef 6.16). Nos tempos antigos, flecha, dardo e lança eram por vezes adaptados para levarem materiais incandescentes ao adversário. Com o tempo, tais materiais foram chamados de "setas inflamadas". A Escritura utilizou-as como exemplo para tipificar a maneira como Satanás procura destruir os servos de Jeová. O salmista Davi escreveu que aquele que habita no esconderijo do Altíssimo não temerá "seta que voe de dia" (Sl 91.5) — referindo-se às inflamadas pelo fogo. Decerto, o Senhor lhes cobrirá com seu poder; separará para Si aquele que Lhe é querido — o que ora (Sl 4.5), e o livrará dos intentos do maligno; porém, àqueles que não oram, as setas lhes perfuram e eles subsequentemente naufragam na fé (1 Tm 1.19).O teólogo e avivalista Charles Finney (1792-1875), descreveu algumas características típicas do cristão que deixa de orar; dentre elas:
• Perseguir os que vivem em oração, chamando-os de fanáticos;
• Ser cada vez mais cético à experiências espirituais;
• Postular contra avivamentos, perturbando-se com eles.
Finney continuou a escrita advertindo as consequências do vazio espiritual e da falta de oração:
[Se não orar] você terá uma boa reputação com o impenitente e com os mundanos professos. Eles o elogiarão como "um cristão racional, ortodoxo e consistente". Você será eleito para andar com eles, pois será considerado adequeado.
Nos dias desse célebre pregador, as igrejas estavam tomadas por uma formalidade gigantesca, e desdouravam a oração. A "crise" de manifestações espirituais já era gradativamente notória. Entrementes, o filósofo ateu Nietzshe, em sua ironia, chegou ao ponto de proclamar a morte de Deus, e sustentar que a igreja era o seu cemitério. O motivo que o levou a declarar isso foi notar que não havia espiritualidade alguma nas igrejas de seu tempo, somente academicismo e teorias; não sentia que os cristãos viviam a essência do Cristianismo de que tanto falavam. Certo é que a Igreja deve prezar pelo estudo; entretanto, não podemos deixar que a formalidade nos tire o fervor; cresçamos, antes, de modo concomitante na "graça e no conhecimento" de nosso Senhor Jesus Cristo (2 Pe 3.18).
Em linhas gerais, as Escrituras apresentam 2 tipos de oração. O apóstolo Paulo apresenta-as e discursa a importância de praticar ambas: Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento (1 Co 14.15a). Por conseguinte, há a oração com/no espírito, e a oração com o entendimento. Fica subentendido no capítulo que a oração em espírito referia-se àquela que ninguém entende, senão Deus (v. 16); uma clara referência às línguas (v. 2). Já a oração em entendimento refere-se àquela presente no conceito geral das Escrituras, em cuja prática nos dirigimos a Deus, mantendo um diálogo lógico e conhecido pela mente humana.
Mais adiante, Paulo assevera a importância da oração em espírito no mundo espiritual (Ef 6.18). Trata-se da arma secreta de Deus, que Ele utiliza para vitória de Sua igreja contra o Império das Trevas. O Espírito Santo guia-nos por meio das línguas a orar como convém em cada situação. Somos edificados na fé, orando nas palavras que o Santo Espírito nos concede a falar (cf. Jd v. 20).
III. Ensina-nos a Orar...
Deveras, os discípulos admiravam a vida de oração constante e ininterrupta que Jesus tinha. Há constantes menções nos Evangelhos que testificam o vínculo que Cristo tinha com Seu Pai, depositando várias horas em diálogo com Ele (Mt 14.23; 26.36; Mc 1.35; 6.46; 14.32; 15.34; Lc 5.16; 6.12; 9.28; 22.32; 23.34,46; Jo 12.28; 17.9).
Numa dessas ocasiões, assim que Cristo terminou a oração, seus discípulos pediram-Lhe: Senhor, ensina-nos a orar... (Lc 11.1). Jesus respondeu-lhes: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu nome; venha o Teu Reino; dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano; perdoa-nos os nossos pecados, assim como nós perdoamos a qualquer que nos deve; e não nos conduzas em tentação, mas livra-nos do mal (Lc 11.2-4).
O objetivo de Cristo não era criar uma reza — do latim recitare, que significa recitar, repetir — visto que Ele mesmo condenou-a (Mt 6.7); mas sim estabelecer uma oração modelo, instruindo-nos na maneira como devemos nos dirigir ao Pai Celestial. Fica subentendido aqui que esta oração de Cristo é concomitantemente pessoal e intercessória — isto é, pedimos tanto por nós quanto pelos outros — através do termo nosso, que indica pluralidade. Em suma, tal termo aparece tanto na palavra Pai (Pai nosso, Mt 6.9); no substantivo pão (pão nosso de cada dia, Mt 6.11); e no pedido de perdão (Perdoa-nos os nossos pecados, Lc 11.4). Claramente, vemos aqui uma oração em que não somente se pede por si mesmo, mas também pelos demais. Uma oração intercessória, amorosa; e, acima de tudo, onde o Pai é glorificado. Este é, deveras, o desejo de Deus na nossa oração!
Além de a Oração Dominical ser concomitantemente pessoal e intercessória, ela é carregada de princípios primordiais que precisam estar em nossas orações. Cristo estabelece este modelo a partir de alguns termos que deixam claro a maneira como devemos orar:
Pai Nosso — denota intimidade pessoal com o Senhor. No AT, raramente empregava-se esse termo nas orações ao Altíssimo. Agora, porém, Cristo proporciona-nos uma nova vida de comunhão e relacionamento com Deus, como nunca antes obtido pelo ser humano.
Santificado seja o Teu nome — denota adoração. ευχαριστια é uma palavra grega que, nas Sagradas Escrituras, era usada para se falar de ação de graças e o ato de adorar ao Todo-Poderoso. Note-se, pois, que a adoração ao Senhor nas súplicas que Lhe dirigimos é tão importante, que o Santo Livro de Deus — a Bíblia — empregou um termo grego restritamente para a isso designar! Com efeito, o Pai procura os verdadeiros adoraradores, que o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23,24). YHWH deseja que o adoremos com consciência (Jo 4.22), reverência (Sl 89.7), fé (Hb 11.6) e obediência (Dt 28.1; Lc 6.46; Jo 14.15; Fp 1.11); e que venhamos prestar-Lhe adoração por Seus atributos, principalmente por Sua santidade (1 Cr 16.29; Sl 29.2; 96.9; 99.9). Por conseguinte, santificado seja o Teu nome estabelece o princípio da prece sob o preceito da adoração.
Venha o Teu Reino — essas palavras do Mestre são muito mais do que uma sugestão para se orar por um dia milenar distante, pois tudo nessa oração é atual. Sendo assim, temos de pedir o estabelecimento da lei de Deus não apenas em sua consumação no tempo vindouro, mas em nossas vidas e em situações atuais. Cristo insinua aqui a abnegação das vontades humanas, e uma submissão à vontade de Deus no tempo presente. Com efeito, o cristão, até mesmo nas vicissitudes da vida, deve orar a fito da vontade do Altíssimo ser feita (cf. Mt 6.10). Com instância, roguemos ao Pai para que Sua vontade seja cumprida em nós plenamente!
Dá-nos [...] — Jesus estimula aqui a oração para necessidades físicas e petições pessoais. Efetivamente, o Mestre diz-nos: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á (Mt 7.7). A Sagrada Escritura incentiva-nos a pedir quando os pedidos são ligados à vontade de Deus; e, principalmente, quando estão interligados com preocucações sobre Seu Reino. Pedidos como a efusão do Espírito (cf. Lc 11.13), e sabedoria (cf. Tg 1.5), tem garantia de estarem ligados à vontade de Deus; entretanto, o Livro do Senhor adverte-nos: Peça com fé, não duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa (Tg 1.6,7).
Perdoa-nos os nossos pecados [...] — o perdão é uma necessidade que o ser humano, depravado pelo pecado, tem. A raça humana está corrompida (cf. 2 Cr 6.36; Sl 14.2,3; 53.2,3; Mq 7.2; Rm 3.10-12), e carece de ser perdoada. Sendo assim, o Mestre ensina-nos aqui que devemos de todo coração suplicarmos o perdão do Onipotente. É nosso dever, literalmente, "lamentar e chorar nossas misérias" (cf. Tg 4.9,10), e reconhecer que se não fora o amor do Senhor, já teríamos sido consumidos (cf. Lm 3.22). Uma das maneiras de agradecermos-Lhe por Sua misericórdia e bondade é perdoando ao nosso próximo, demonstrando o amor de Deus. Se não agimos assim, somos ingratos; e, dos tais, o próprio Jesus advertiu: Se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai não perdoará as vossas (Mt 6.15).
Não nos conduzas em tentação, mas livra-nos do mal — Clararamente vemos aqui uma aspiração por santidade. Jesus corroborou mais adiante em Sua oração sacerdotal, ao dizer: Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal (Jo 17.15). O cristão, por mais que seje "peregrino e forasteiro" (cf. 1 Pe 2.11), não pode negligenciar o perigo que o cerca, se deixar de ter os olhos fitos no General (cf. Hb 12.2; 2 Tm 2.4). Assim sendo, deve pedir com instância ao Pai Celestial que Ele livre-o de cair nas tentações do vil tentador; e que, antes, possa ser firme e estribado na Rocha firme e singular: o Cristo de Deus! (cf. Mt 7. 24,25). Pois N'Ele estamos seguros; nada nos atingirá.
Conclusão
Diferente das miríades e miríades de deuses existentes no mundo, o nosso Deus é o Único e Verdadeiro (Jo 17.3). Sendo assim, aprouve a Ele colocar algo em Seu povo que distingui-se-o de qualquer outro: a intimidade. Desde o Antigo Testamento, Jeová prometeu que aqueles que Lhe obedecerem serão conhecidos pela comunhão e relacionamento que terão com Ele; de sorte que até as nações diriam: Que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor Deus, todas as vezes que o chamamos? (Dt 4.7). Deveras, a comunhão que o Altíssimo deseja ter com Seu povo é tão grande, que Ele disse: Antes que clamem, Eu responderei; estando eles ainda falando, Eu os ouvirei (Is 65.24). Porém, esta comunhão só é possível através da oração. A vontade de Deus será cumprida efetivamente em nossas vidas se vivermos orando. Não negligenciemos esta verdade! Ademais, a vinda do Senhor se aproxima, e acerca disso disse Pedro: Já está próximo o fim de todas as coisas; portanto, sede sóbrios e vigiai em oração (1 Pe 4.7). Que possamos, assim, "remir o tempo" (Ef 4.16) em oração ao Senhor, porquanto somente assim venceremos e estaremos "em pé perante o Filho do Homem" naquele grande dia (cf. Lc 21.36). Amém!Por: Daniel Cardoso.
BIBLIOGRAFIA
Bíblia de Estudo Plenitude. Barueri (SP): SBB, 2001.
Dicionário da Bíblia de Almeida. Barueri (SP): SBB, 1999.
FINNEY, C.G. Princípios da Oração: Aprenda a orar com poder. São Paulo: Vida, 2011.
STRONG, J. Dicionário Bíblico Strong. Barueri (SP): SBB, 2002.
REGA, L.S; BERGMANN, J. Noções do Grego Bíblico: Gramática Fundamental. São Paulo: Vida Nova, 2004.